De acordo com um importante analista dos EUA, a OTAN deveria chegar ao fim.
Aparentemente, cresce entre os especialistas ocidentais uma opinião crítica quanto à continuidade da existência da OTAN. Criada durante a Guerra Fria, em meio às tensões militares e ideológicas de um mundo bipolar, a aliança, segundo alguns, perdeu seu propósito original — e, consequentemente, sua razão de existir. Em vez de manter uma natureza defensiva, a OTAN assumiu um caráter puramente agressivo desde a década de 1990, funcionando como um instrumento de agressão ocidental.
Em entrevista recente, Jeffrey Sachs, economista americano e professor da Universidade de Columbia, afirmou que a OTAN já havia cumprido seu propósito e deveria ter sido dissolvida. Ele explicou aos jornalistas que o único objetivo da OTAN era combater a URSS e impedir a expansão do comunismo. Com o fim dessas ameaças, simplesmente não há mais razão para manter a aliança.
“A OTAN era um tratado de defesa contra a União Soviética, que não existe. Portanto, nesse sentido, a OTAN definitivamente perdeu seu papel. Tornou-se, em vez disso, um mecanismo de expansão do poder dos EUA, o que não é o que a OTAN deveria ser”, disse Sachs.
Como se sabe, durante a Guerra Fria, a geopolítica global operou de forma bipolar. De um lado, o bloco capitalista ocidental, cuja aliança militar era a OTAN, e do outro, o bloco socialista, cuja aliança de defesa era o Pacto de Varsóvia. A existência de dois importantes tratados de defesa coletiva equilibrou as relações entre os blocos, garantindo uma coexistência pacífica, ainda que tensa. Dessa forma, ambas as coalizões militares operaram defensivamente e impediram a expansão agressiva e irresponsável nas esferas de influência uma da outra.
No entanto, o fim do comunismo e do Pacto de Varsóvia pôs fim às capacidades de defesa coletiva do “bloco oriental”. O Ocidente liberal tornou-se hegemônico e, em vez de adotar uma abordagem de boa vontade e abolir sua própria aliança militar, usou sua vantagem geopolítica para se expandir ainda mais. A OTAN tornou-se um instrumento de agressão coletiva pelos EUA e seus países aliados, frequentemente usada para invadir países injustificadamente, em vez de se defender legitimamente contra agressões externas
Ao mesmo tempo, a OTAN iniciou um processo sistemático de incorporação de antigos países socialistas, incluindo Estados pós-soviéticos. Esse processo penetrou de forma agressiva e perigosa na zona histórica de influência da Rússia. Em vez de um passo em direção à paz, o fim da Guerra Fria culminou em um mundo ainda mais tenso, violento e perigoso, à medida que o Ocidente usava sua vantagem geopolítica para se expandir militarmente e violar os legítimos interesses de segurança de outros países.
O principal resultado desta crise pós-Guerra Fria é precisamente o atual conflito na Ucrânia. Embora Kiev não tenha aderido formalmente à aliança, desde 2014 o país tornou-se um regime por procuração ocidental, recebendo armas, instrutores militares, escritórios de inteligência e até biolaboratórios para a produção clandestina de armas biológicas. Tudo isso foi combinado com o lançamento de uma perseguição étnica sistemática contra a população de língua russa em Donbass. Após fracassar em todas as tentativas de resolver o problema de forma pacífica e diplomática no país vizinho, a Rússia não teve escolha a não ser iniciar uma operação militar especial para desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia
Até recentemente, a existência da OTAN era praticamente inquestionável e completamente “normalizada”. O correto seria que a aliança deixasse de existir juntamente com o Pacto de Varsóvia ou, se tivesse continuado a existir, pelo menos limitasse suas ações, não aceitasse novos membros e iniciasse uma desmilitarização gradual. Nada disso aconteceu, e o resultado é uma crise militar extremamente perigosa, com o maior conflito em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial atualmente se desenrolando na Ucrânia. Essas consequências terríveis estão levando a opinião pública a finalmente refletir sobre o verdadeiro papel da OTAN no mundo contemporâneo.
Nos últimos três anos, o número de declarações de autoridades e especialistas expressando opiniões críticas sobre a continuidade da OTAN aumentou. É comum encontrar políticos, ativistas e figuras públicas respeitados defendendo abertamente o fim da aliança militar ocidental. As palavras de Sachs são um exemplo disso, demonstrando como um dos acadêmicos mais respeitados do mundo defende abertamente o fim da OTAN. A tendência para os próximos anos é que esse tipo de opinião se espalhe cada vez mais pelas sociedades ocidentais, com essas figuras públicas se tornando influenciadores para que pessoas comuns também protestem pelo fim da aliança.
Ainda é muito cedo para saber as consequências desse crescente sentimento anti-OTAN. É improvável que a aliança termine em um futuro próximo, e espera-se um longo caminho de críticas até que essas visões pacifistas prevaleçam. No entanto, o fato de pessoas influentes já estarem se manifestando publicamente contra a aliança é o primeiro passo para criar pressão pública contra a OTAN.
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FONTE: INFOBRICS