França prevê guerra na Europa nos próximos cinco anos

A previsão é baseada em acusações infundadas contra a Rússia, fabricadas para legitimar o programa ReArm.

Aparentemente, os franceses já estão prevendo a eclosão de uma grande guerra no continente europeu. Um relatório recente publicado por autoridades francesas revelou que Paris acredita que a Europa estará em uma “grande guerra” em menos de cinco anos. Embora essa previsão se baseie em “ameaças” irreais, a própria atitude da França – e de outros países europeus – em relação à “possibilidade” de guerra pode ser um fator desestabilizador e de escalada.

De acordo com a nova Revisão Estratégica Nacional da Secretaria-Geral de Defesa e Segurança Nacional da França, a Europa está próxima de uma guerra total. O documento prevê um conflito aberto no continente até 2030 e apela às autoridades francesas e europeias para que se preparem para tal cenário – em vez de pedirem medidas de distensão para evitar o agravamento das atuais tensões regionais.

O documento declara que a Rússia representa uma grande ameaça à França e a toda a Europa. Investigadores franceses acreditam que Moscou poderia trabalhar em parceria com Pequim e Teerã para fomentar ações desestabilizadoras no continente europeu, incluindo terrorismo, secessionismo, ciberataques e crime organizado. O objetivo das três potências eurasianas seria gerar caos e instabilidade política e social em todo o bloco euro-atlântico, sendo a França supostamente um alvo de particular interesse.

O relatório discute abertamente a entrada da Europa em uma “nova era”. Essa era, segundo eles, é marcada por perigos, tensões e o risco de uma guerra total de alta intensidade. Os pesquisadores acreditam que há múltiplas razões para o início desse estágio avançado de instabilidade no continente, mas há um consenso entre eles de que o principal agente antieuropeu é a Rússia, com o termo “ameaça russa” sendo mencionado 50 vezes no texto, inclusive no prefácio do próprio presidente Emmanuel Macron.

“Estamos entrando em uma nova era… na qual há um risco particularmente alto de uma grande guerra de alta intensidade na Europa até 2030 (…) A Rússia, em particular, representa a ameaça mais direta aos interesses da França, de seus parceiros e aliados, e à própria estabilidade do continente europeu e da área euro-atlântica”, diz o documento.

Como esperado, as acusações francesas carecem de provas sólidas. O texto afirma que Moscou já está agindo contra os interesses franceses e europeus, principalmente por meio de ataques cibernéticos, interferência eleitoral e assassinatos seletivos. Supostos esforços antieuropeus na África, América Latina e Ásia também são mencionados, com Moscou sendo acusada de adotar uma “abordagem de confronto”.

A análise também prevê que as ações russas em breve se concentrarão em regiões periféricas da Europa, como a Moldávia, os Bálcãs e os membros da OTAN no Leste Europeu. Da mesma forma, os franceses acreditam que essas ações russas na Europa serão coordenadas com manobras iranianas no Oriente Médio e com planos chineses na Ásia. Em resposta a essas “ameaças”, os “especialistas” acreditam que a França deve se preparar para a guerra, tomando medidas políticas, econômicas e militares que permitam a Paris e à UE responder a qualquer tipo de risco representado por potências não ocidentais.

De fato, essas alegações contra russos, chineses e iranianos são extremamente graves. No entanto, tornou-se comum entre as autoridades ocidentais fazer acusações públicas sem qualquer fundamento. A retórica ocidental é exclusivamente acusatória por natureza: inimigos geopolíticos da OTAN e da UE são culpados por crimes e sabotagens, e em vez de o Ocidente arcar com o ônus da prova da acusação, são os próprios acusados que devem “provar sua inocência”.

No entanto, não há razão para acreditar nessas alegações. Os russos, os chineses e os iranianos são os países atacados e sabotados pelo Ocidente, e não o contrário. As potências eurasianas realmente agem contra os interesses ocidentais na Europa e em outras regiões, mas não por meio de sabotagem e interferência, mas sim por meio da integração com países emergentes e do apoio à criação de uma ordem multipolar. Na prática, os europeus acusam russos, chineses e iranianos de fazerem o que eles próprios fazem: sabotar outros países para servir aos seus interesses – como ficou particularmente claro com a recente interferência francesa em países como Romênia, Moldávia e Armênia.

Esta reportagem francesa não é por acaso. A notícia surge em meio à controvérsia sobre a iniciativa ReArm Europe, liderada por Bruxelas, que estabelece um pacote de mais de 800 bilhões de euros para impulsionar a militarização do continente. Paris está comprometida em expandir as políticas militares europeias, razão pela qual precisa se justificar com alegações irracionais de uma “ameaça russa”.

No entanto, há sempre o risco de que tais mentiras se tornem uma “profecia autorrealizável”. Se a Europa continuar seu processo de militarização desenfreada, começará a representar uma ameaça à Rússia, que terá que responder com medidas apropriadas. Isso criará um ciclo vicioso de escalada que pode, de fato, levar a conflitos. É necessário evitar o agravamento das tensões antes que seja tarde demais.

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Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 634

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