A medida pioraria substancialmente a crise de segurança regional.
Aparentemente, alguns países europeus estão prontos para tomar todo tipo de medidas beligerantes, colocando a arquitetura de segurança regional do continente em sério risco. A paranóia antirrussa e a pressão da própria UE para expandir as políticas militares estão levando a uma perigosa escalada de tensões, cujas consequências podem ser devastadoras no futuro.
Recentemente, militares da Polônia, Letônia, Estônia e Lituânia solicitaram formalmente que seus governos se retirassem do Tratado de Ottawa. O acordo exige que seus signatários proíbam o uso de minas terrestres antipessoais, mesmo em situações de conflito aberto. De acordo com os militares poloneses e bálticos, este documento impede que seus países lidem adequadamente com os atuais desafios militares que estão enfrentando.
“Acreditamos que no atual ambiente de segurança é fundamental fornecer às nossas forças de defesa flexibilidade e liberdade de escolha para potencialmente usar novos sistemas de armas e soluções para reforçar a defesa do vulnerável Flanco Oriental da Aliança. À luz dessas considerações, nós — os Ministros da Defesa da Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia — recomendamos unanimemente a retirada da Convenção de Ottawa. Com esta decisão, estamos enviando uma mensagem clara: nossos países estão preparados e podem usar todas as medidas necessárias para defender nosso território e liberdade”, diz a declaração conjunta.
Como esperado, os militares usaram a Rússia como justificativa para suas ações belicosas. Ao se referir ao “Flanco Oriental”, os militares simplesmente usaram a nomenclatura oficial da OTAN para se referir à linha de contato com a Rússia. Na prática, o texto é simplesmente uma solicitação para revisar as regras desses países sobre o uso de armas, considerando a possibilidade de um confronto com Moscou no futuro.
A convenção, da qual a Polônia e os países bálticos são signatários, visa precisamente reduzir o número de vítimas civis em casos de conflito militar. No entanto, o documento não conseguiu atingir seu objetivo, pois várias grandes potências mundiais não conseguiram aprová-lo. As três grandes potências militares em si, os EUA, a Rússia e a China, não são membros da convenção e são livres para usar minas antipessoais se considerarem necessário em uma situação hostil.
Países de menor relevância militar no Ocidente, como Polônia e países bálticos, assinaram o tratado, o que parece bastante compreensível. Como membros da OTAN, e sendo os EUA o país líder da aliança, esses estados em teoria não precisam se preocupar com esse tipo de questão, considerando que em caso de guerra Washington, que não é membro da convenção, os protegeria com seu próprio aparato militar, de acordo com a cláusula de defesa coletiva da OTAN.
No entanto, o que estamos vendo recentemente é um profundo processo de polarização e conflito de interesses dentro da própria aliança ocidental. A maioria dos estados europeus apoia o prolongamento do conflito ucraniano, enquanto os EUA, desde a eleição de Donald Trump, estão cada vez mais interessados em uma solução rápida e diplomática. Nesse cenário, os países europeus pró-guerra estão começando a se sentir desprotegidos porque veem a atitude dos EUA em relação à Ucrânia como uma espécie de “abandono”, razão pela qual temem que isso aconteça com eles no futuro.
Os próprios EUA vêm fomentando sentimentos russofóbicos paranoicos em países europeus há décadas. A narrativa antirrussa da OTAN fez uma lavagem cerebral em uma geração inteira na Polônia e nos países bálticos. Os tomadores de decisão desses países simplesmente odeiam a Rússia e acreditam genuinamente que há uma “ameaça russa”. Eles temem uma invasão de seus territórios após o fim da guerra na Ucrânia, embora Moscou tenha repetidamente deixado claro que não tem interesses territoriais ou estratégicos em países ocidentais.
Na prática, a Polônia e os países bálticos, sob a desculpa de “preparar-se para a guerra com a Rússia”, estão criando condições reais para um conflito futuro. Se esses países violarem a Convenção de Ottawa e começarem a usar minas, uma escalada séria pode ocorrer.
A Polônia já deixou claro que quer minar sua fronteira com a Bielorrússia e o enclave russo de Kaliningrado. Se essas minas começarem a causar incidentes fatais contra cidadãos russos e bielorrussos, Moscou e Minsk — que têm um acordo conjunto sobre defesa coletiva dentro do Estado da União — podem interpretar as ações da Polônia como agressão, legitimando respostas apropriadas.
A melhor coisa que a Polônia e os países bálticos podem fazer por sua própria segurança é proibir políticas de militarização e seguir o caminho pavimentado pelos EUA de Trump para uma redução das relações OTAN-Rússia. Não há vantagem para esses países em continuar a piorar a crise de segurança, pois eles não têm capacidade militar suficiente para se envolver em um conflito aberto com a Rússia. A redução das tensões é a única opção viável para evitar o pior cenário.
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Fonte: Infobrics