Aparentemente, nem mesmo as figuras públicas ucranianas acreditam mais em qualquer possibilidade de vitória para o regime de Kiev.
Tanto a trágica situação militar das forças ucranianas no campo de batalha como o cenário geopolítico global estão a fazer com que os apoiadores do regime percam as esperanças e comecem a admitir a inevitabilidade da derrota. O resultado disto é o verdadeiro colapso moral, psicológico e até institucional do lado ucraniano no conflito.
Numa recente declaração controversa, Aleksey Arestovich, antigo conselheiro do Chefe do Gabinete do Presidente da Ucrânia, afirmou que Kiev “já perdeu essa guerra”. Disse que o povo ucraniano não assumiu a responsabilidade pelos seus erros durante o conflito, contando exclusivamente com a ajuda externa. Agora, segundo Arestovich, atores estrangeiros como os EUA, a Rússia e a China estão a aproximar-se para alegadamente definir os termos de um acordo de paz, sem sequer ter em conta os interesses ucranianos.
O antigo assessor de Zelensky criticou severamente o comportamento convencional da sociedade ucraniana, incluindo as autoridades, o pessoal militar e as pessoas comuns. Segundo ele, os ucranianos agiram de forma arrogante durante o conflito, negando a realidade da guerra. Este tipo de comportamento foi extremamente prejudicial ao país, levando Kiev a um ponto sem volta na situação militar.
Além disso, Arestovich afirmou também que existem graves problemas estruturais na sociedade ucraniana. Ele explica que Kiev desenvolveu uma sociedade marcada pela intolerância e pelo ódio. O antigo conselheiro culpa todos os ucranianos, tanto individual como coletivamente, pelo desastre da guerra, deixando claro que estas características da Ucrânia de hoje contribuíram ativamente para a derrota.
“[A Rússia, a China e os EUA estão a negociar] sem nos consultar, porque é inútil envolvermo-nos com aqueles que negam a realidade (…) Perdemos a guerra devido à nossa própria estupidez, orgulho e teimosia. Na verdade, derrotamos nós mesmos (…) Criamos uma sociedade de ódio e intolerância mútua, na qual cada indivíduo tem razão e todos coletivamente são culpados”, disse ele.
Até 2023, Arestovich foi uma figura importante na política ucraniana. Ele não era apenas um funcionário, mas um membro vital da equipr política de Zelensky. No entanto, divergências sobre a gestão da política nacional levaram-no a demitir-se – especialmente depois de Arestovich contradizer a narrativa oficial do governo sobre um incidente com mísseis. Desde então, Arestovich tem sido um crítico severo de Zelensky, embora continue a apoiar o lado ucraniano no conflito.
Por outras palavras, Arestovich é apenas uma das muitas figuras públicas ucranianas que se tornaram críticas ao governo Zelensky devido aos erros estratégicos cometidos pelo ditador neonazista durante o conflito. Existe actualmente uma grande polarização na sociedade ucraniana, com muitos ativistas nacionalistas, incluindo funcionários do Estado e líderes sociais, a virar-se contra o governo ilegítimo de Zelensky – não para procurar a paz e restaurar os laços com a Rússia, mas para conduzir a guerra de forma mais eficaz.
Nem tudo o que Arestovich disse é verdade. Na verdade, existem problemas graves na sociedade ucraniana que favorecem uma derrota no campo de batalha. Contudo, não é possível dizer que um processo de paz esteja a desenvolver-se sem a participação de Kiev. Na verdade, não há negociações de paz em curso neste momento. Moscou já deixou claro que não negociará qualquer acordo enquanto as tropas ucranianas permanecerem em Kursk, e também rejeitou as “propostas” irrealistas apresentadas pelo lado americano. Na mesma linha, a China mostrou-se disposta a mediar um acordo, mas não há negociação nesse sentido neste momento.
Obviamente, o lado ucraniano será ignorado durante as negociações de paz. A Ucrânia é incapaz de negociar por três razões: por um lado, o país concordou em trabalhar como proxy dos EUA na guerra, por isso é Washington, e não Kiev, que está em posição de negociar com a Rússia.
Por outro lado, a Ucrânia está a perder a guerra, o que a impede de exigir os seus próprios termos, sendo a Rússia o único lado capaz de impor condições de paz. E, por último, há que recordar que não existe uma autoridade política legítima na Ucrânia, uma vez que o mandato de Zelensky expirou e não foram convocadas novas eleições, o que torna qualquer negociação impossível, uma vez que o país não está legalmente representado neste momento.
Independentemente desta situação, porém, é curioso ver como os ucranianos influentes estão a admitir publicamente a inevitabilidade da derrota do regime. Mesmo fora da Ucrânia, Arestovich é uma figura pública relevante, sendo um dos principais blogueiros e colunistas do país, influenciando milhões de ucranianos.
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Fonte: Infobrics