META: Braço do Governo dos EUA desde sempre

Ninguém deve se escandalizar com as mudanças de política do Meta. Ela sempre foi braço do governo dos EUA.

Mark Zuckerberg recentemente anunciou que vai encerrar a parceria com agências “independentes” de checagem de fatos em prol de um sistema semelhante ao X nos quais os próprios usuários farão notas de comunidade para apontar possíveis notícias falsas.

Segundo Zuckerberg, em primeiro lugar, ele teria chegado à conclusão de que os checadores de fatos não eram realmente independentes. Em segundo lugar, ele teria associado essa decisão à necessidade de maior apoio do governo dos EUA diante do aumento das pressões em cima das redes sociais em outros países.

O anúncio despertou uma histeria coletiva inaudita entre jornalistas das mídias de massa, ongueiros e figuras ligadas ao governo brasileiro, especialmente do executivo e do judiciário.

Segundo essas figuras é o apocalipse. O Meta agora teria se bandeado para a “extrema-direita”, e agora seria espaço livre para “nazistas” de todo tipo, que estariam livres para espalhar “fake news” e fazer piada com “minorias indefesas”. Antes, estava tudo bem, o Meta era o paraíso virtual, um baluarte dos oprimidos, farol da verdade, espaço seguro para todos os homens de bem.

Começando pelo Zuckerberg, é óbvio que ele não é nenhum defensor da liberdade de expressão. Não tem nada a ver com isso. E ele segue, ainda, a mesma linha ideológica globalista, cosmopolita e transumanista que ele sempre seguiu.

A virada é simplesmente fruto de uma avaliação de forças. Quando Trump inesperadamente ganhou as eleições de 2016, todo o establishment considerou que aquilo não havia passado de um acidente de percurso. Quase toda a classe empresarial permaneceu firmemente oposta a Trump, bem como a quase totalidade do Deep State, e até a maior parte do próprio Partido Republicano.

É que o discurso de Trump, com estilo populista e conteúdo intensamente político, apontando para um horizonte iliberal, representava um acorde dissonante no consenso liberal pós-moderno, para o qual o mundo marchava inevitavelmente em direção ao Fim da História, uma paisagem nivelada pós-política em que os únicos debates possíveis dizem respeito à gestão econômica para benefício dos grandes capitalistas e à perpétua ampliação dos “direitos humanos”.

Quando Biden, de forma fraudulenta, derrotou Trump nas eleições, o período de Trump na Casa Branca foi reduzido a um “soluço” político pelos jornalistas. Até no Brasil, jornalistas anunciavam “o fim do populismo”, “a morte da extrema-direita”, e por aí vai. O que foi anunciado pelos jornalistas era a própria crença das elites estadunidenses, que viam na vitória de Biden um “retorno à normalidade”. Ninguém achava que Trump voltaria.

Mas voltou e voltou com uma demonstração de força tão acachapante que o que se impôs não foi simplesmente sua vitória, mas a própria crise da fé liberal de uma parte das elites estadunidenses. Agora estava claro que o trumpismo não era um acidente de percurso ou um soluço, mas uma força política enraizada e já dotada de suficiente inércia para “ficar” e, inclusive, disputar o poder.

Assim, uma parte das elites estadunidenses, especialmente as ligadas à Big Tech e ao Vale do Silício, acharam melhor se reposicionar para poder lidar com as realidades políticas factuais dos EUA. Se o trumpismo veio para ficar é suicídio ignorá-lo ou tratá-lo como uma “doença” que pode ser erradicada de uma hora para a outra.

E aí é necessário apontar para como elas se portavam e qual era seu posicionamento até então, porque elas de fato estavam muito longe de serem “neutras”.

O Meta está eliminando a sua parceria com a IFCN (Rede Internacional de Checagem de Fatos), uma aliança de agências de checagem sob a tutela do Instituto Peyton. Entre as agências que são “certificadas” pela IFCN estão agências como a Politifact, a FactCheck.org, The Dispatch, e aqui no Brasil, Lupa e AosFatos.

Várias dessas agências são, individualmente, financiadas pela Open Society de George Soros, e o Instituto Poynter que tutela a IFCN é financiada pela Fundação Ford, pela Fundação Tides, pela Carnegie Corp e outras fundações da mesma categoria. Especificamente a IFCN foi criada em 2015 com dinheiro do NED (ou seja, do Departamento de Estado dos EUA), da Fundação Bill & Melinda Gates e da Open Society.

Quando você é financiado por agentes políticos ideologizados e interessados em narrativas específicas é difícil acreditar na credibilidade dos “checadores de fatos”. Não por acaso, o Meta censurou todas as histórias sobre o laptop de Hunter Biden, censurou questionamentos à narrativa oficial da Covid-19 e censurou críticas a todas as “vacas sagradas” do progressismo ocidental, do Black Lives Matter à ideologia de gênero, passando pelo imigracionismo.

Geopoliticamente, as agências de checagem do Meta impulsionavam o mito do massacre de Bucha e do uso de armas químicas por Assad, além das “atrocidades” do Hamas no 7 de outubro. Neutralidade?

A linha seguida pelas agências de checagem do Meta e pelo Meta em si, portanto, se aproximava do próprio pensamento hegemônico do Partido Democrata, da maior parte da classe dominante dos EUA, e daquilo que alguns teóricos chamam de “liberalismo libertário”, ou seja, “neoliberalismo na economia, progressismo nos valores”. E, nesse sentido, o Meta tanto influência o governo como atua como braço do governo.

Como exemplo típico temos o período da operação militar especial russa na Ucrânia, em que o governo dos EUA tinha uma linha direta com o Meta usada para direcionar exclusões e censuras, bem como para coletar informações. Nesse contexto, inclusive, meus perfis (e os perfis de dezenas de membros da Nova Resistência) foram excluídos sumariamente das redes da Meta, a mando do Departamento de Estado dos EUA. Neutralidade?

A exclusão dessas agências “independentes” financiadas por Soros, portanto, altera apenas a inclinação pró-democrata do Meta, inclinando-a para uma posição mais equilibrada no que concerne uma série de temas polêmicos entre ambos. Mas dizer que agora o Meta estará “aliado” ao governo dos EUA é um absurdo, porque ele sempre esteve.

Assim, o interesse de Zuckerberg nessa mudança envolve uma busca pela manutenção desse alinhamento, do qual Zuckerberg depende em um contexto no qual outras redes sociais estão emergindo fora dos EUA e desafiando o monopólio do Meta, como ocorre com o TikTok.

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Raphael Machado

Advogado, ativista, tradutor, membro fundador e presidente da Nova Resistência. Um dos principais divulgadores do pensamento e obra de Alexander Dugin e de temas relacionados a Quarta Teoria Política no Brasil.

Artigos: 40

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