Todos sabem, mas poucos falam nisso. Todo mundo sabe quem são, apesar de eles raramente aparecerem na TV (a não ser na época do Carnaval). Sim, os banqueiros mandam no Brasil. Mas se os banqueiros do sistema financeiro são os “reis” do Brasil, os “barões” e “condes”, ou seja, os gerenciadores ocultos diretos de nosso país são os banqueiros do bicho.
Controlando o principal jogo de azar no Brasil desde o final do século XIX, o jogo do bicho se tornou a real máfia brasileira, assentando as bases do crime organizado no Brasil e, a partir dos anos 70, com a sua simbiose com o regime militar, se profissionalizou e criou ramificações nos vários outros setores do crime organizado, da política e da cultura.
Os grandes chefes do jogo do bicho no Rio de Janeiro surgiram durante o regime militar: Anísio Abraão, Castor de Andrade e o Capitão Guimarães. Foi sob os olhos coniventes do regime militar que o jogo do bicho se institucionalizou, servindo ainda para lavar dinheiro de corrupção política, financiar o tráfico, a prostituição e vários outros crimes.
O jogo do bicho cresceu à semelhança das organizações mafiosas estrangeiras, por meio de estruturas familiares. Os grandes banqueiros do bicho, que a partir dos anos 70 passaram a habitar e operar a partir de “fortalezas”, criaram uma comissão dirigente para contornar disputas, dividir territórios e racionaliar as suas operações criminosas.
Foi por decisão dessa comissão dirigente, por exemplo, que foi criada a Liga Independente das Escolas de Samba em 1984. Se até então, as escolas de samba e o Carnaval estavam ligados ao Estado e se firmavam de forma mais concreta nas comunidades, os banqueiros do bicho a partir dos anos 80 praticamente privatizaram o Carnaval e conseguiram o livre acesso à “alta sociedade” brasileira, começando a aparecer publicamente como se tratassem de “figuras respeitáveis” da sociedade. As consequências culturais disso foram o afastamento dos sambistas tradicionais da tomada de decisão dentro de suas próprias escolas e a comoditização do Carnaval.
A participação na distribuição de drogas no Brasil também vem desde os anos 80. Foi o próprio Pablo Escobar, do Cartel de Medelín, que ao procurar sócios no Brasil escolheu os banqueiros do bicho, por sua capacidade organizacional, influência política e controle da polícia. Para encabeçar o tráfico de drogas no Brasil foi escolhido o bicheiro Toninho Turco, que por quase uma década controlou mais de 70% do tráfico de drogas no Rio de Janeiro, e tornou assim a cidade a capital do tráfico no Brasil.
Com a queda de Turco, os bicheiros passaram a transferir seus investimentos cada vez mais para outros jogos de azar, como as máquinas de vídeo pôquer.
Não deve surpreender, então, que o senador Renan Calheiros tenha posto em pauta em 2016 a liberação do jogo do bicho no Brasil. Isso não deve surpreender porque vários colegas de seu partido e de outros partidos foram expostos como ligados ao bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Assim, temos mais uma peça no esquema do poder político, econômico e cultural no Brasil, uma peça que tenta se manter oculta ou trajar a aparência de respeitabilidade, mas que é tão podre quanto as forças parasitárias do sistema financeiro ou os outros lumpemparasitas criminosos.
Todas essas forças estão simbioticamente ligadas. Banqueiros, políticos, bicheiros, traficantes, cada um cumprindo o seu papel dentro do sistema capitalista.