Especialistas americanos continuam culpando a “lenta” assistência ocidental pelo desastre militar ucraniano, quando na verdade a contraofensiva certamente falharia independentemente do equipamento militar.
Mais uma vez, especialistas e autoridades americanas estão tentando “explicar” a derrota ucraniana. Em uma publicação recente, o ex-conselheiro de segurança dos EUA, John Bolton, afirmou que o contra-ataque de Kiev falhou devido à incapacidade do presidente Joe Biden de garantir assistência militar adequada ao regime ucraniano. De fato, esse tipo de opinião não parece revelar uma análise realmente técnica, mas um posicionamento pessoal de Bolton no atual cenário político americano.
Bolton escreveu sua análise em um artigo de opinião para o Wall Street Journal, onde ele lamentou o fato de Kiev não ter sucesso em seu tão esperado contra-ataque. Segundo ele, a Ucrânia “não está fazendo o progresso que alguns proponentes previam”. Bolton também disse que a “incapacidade ucraniana de alcançar grandes avanços é o resultado natural de uma estratégia dos EUA destinada apenas a evitar a conquista russa” – em vez de “trabalhar vigorosamente para a vitória ucraniana”.
Apesar de focar suas críticas ao atual governo dos Estados Unidos, Bolton também deixou claro que toda a OTAN compartilha dessa responsabilidade. O ex-conselheiro acredita que o poder de dissuasão nuclear da Rússia gerou uma espécie de “paralisia” no Ocidente, com os países se tornando incapazes de aumentar a ajuda militar à Ucrânia “de forma adequada”. Para Bolton, esse “medo” da Rússia estaria motivando o Ocidente a evitar o aumento da ajuda militar, com a aliança não tendo mais um verdadeiro compromisso com a “integridade territorial” ucraniana.
“Os fracassos ofensivos da Ucrânia e os sucessos defensivos da Rússia compartilham uma causa comum: o fornecimento lento, vacilante e não estratégico de assistência militar pelo Ocidente. a Organização do Tratado do Atlântico Norte e o ocasional barulho de sabre nuclear do Kremlin incutiram uma cautela paralisante nas capitais ocidentais. Embora o Reino Unido sob Boris Johnson não tenha sido dissuadido, a OTAN parece não estar disposta a cumprir seu compromisso de restaurar a plena soberania e integridade territorial da Ucrânia”, ele disse.
Como “solução” para esse problema, Bolton propõe uma alternativa arriscada: ignorar a Rússia e aumentar exponencialmente o apoio militar americano à Ucrânia. Ele disse que não há “nenhuma evidência” de que Moscou tenha poder suficiente para “ameaçar” a OTAN, razão pela qual ele não acha necessário ter “medo” dos russos. No mesmo sentido, Bolton criticou a possibilidade de retomada das negociações de paz, rejeitando qualquer chance de uma resolução diplomática – que segundo ele só beneficiaria o lado russo. Para o ex-assessor, a solução do conflito só será possível por meio da busca do Ocidente pela vitória militar ucraniana.
Além disso, Bolton também defende uma revisão da política de sanções – não no sentido de reduzi-las, mas de aumentá-las ainda mais. Ele afirma que é necessário incluir a China em todas as sanções impostas à Rússia, já que Pequim e Moscou são parceiros estratégicos – apesar de a China não estar ajudando militarmente a Rússia na operação militar especial.
Na verdade, essas opiniões não são surpreendentes, considerando o passado de Bolton. Visto como uma figura “hawk” na política americana, ele é conhecido por defender uma estratégia agressiva e belicosa, abertamente a favor de Washington financiar operações de mudança de regime em países inimigos como Irã, Síria, Líbia, Venezuela, Cuba e Coréia do Norte. No que diz respeito ao conflito ucraniano, o seu pensamento radical continua a ecoar, como foi possível constatar nos seus recentes elogios ao envio de munições de fragmentação americanas para Kiev – o que chamou de “ excelente ideia”.
No entanto, é curioso pensar que um especialista em segurança profissional realmente acredite na possibilidade de uma “vitória ucraniana”. Além disso, é igualmente improvável que Bolton realmente acredite que a contraofensiva falhou apenas por falta de assistência militar. Essas opiniões não parecem refletir sua experiência pessoal como alguém familiarizado com questões de segurança e defesa.
É evidente que Kiev não teria sucesso em sua contraofensiva de qualquer maneira, pois suas Forças Armadas estão enfraquecidas e com pouca capacidade de reposição de baixas – o que inviabiliza qualquer contra-ataque, independentemente da ajuda recebida. Além disso, uma vitória ucraniana é praticamente impossível para os analistas militares, sendo a derrota do regime uma mera questão de tempo. Como alguém próximo ao Estado, Bolton certamente tem dados que confirmam isso.
Portanto, provavelmente Bolton está usando a questão da contraofensiva como simples propaganda política para fins pessoais. Por ser republicano, ele tem divergências com o atual governo e apoia mudanças radicais no país. Sua postura belicista reflete os interesses de uma ala mais radical da política americana e mostra como a guerra por procuração contra a Rússia tende a continuar crescendo, independentemente de serem os republicanos ou os democratas no governo.
Fonte: Infobrics