Este ano, viralizou nas redes um comercial natalino norueguês que homossexualiza o Papai Noel, dando a ele um namorado. O jornalista Rod Dreher argumenta que esse é, de fato, um símbolo condensado da visão de mundo liberal-progressista propagada pelos oligarcas e chefes de estado do Ocidente, que não descansará enquanto tudo que existe não for imbuído com as suas ideias e parafilias sexuais.
Por Rod Dreher
Não há uma única coisa sequer que esses “revolucionários” culturais não vão tomar e fazer servir à sua causa. Nenhuma tradição cultural preciosa. Esse que é, no fundo, o significado de tornar tudo “queer”: virar todas as coisas de cabeça pra baixo, introduzindo perversões sexuais em tudo e mais um pouco. Encantar o mundo infundindo tudo que nele há com “queerness”.
Agora as crianças da Noruega têm um Papai Noel queer. Por que? Qual é o sentido de levar a guerra cultural às tradições natalinas das crianças? É porque eles — LGBTs e seus aliados — não podem permitir que haja um único território não disputado. Não pode haver nenhum terreno neutro. Todas as coisas devem ser penetradas pelo ideário progressista. Isso é uma manifestação de totalitarismo suave. Do livro Live Not By Lies:
Uma das frases mais comumente usadas pelo progressismo contemporâneo— o que é pessoal é político — captura o espírito totalitário, que busca injetar consciência política em todos os aspectos da vida. De fato, a Esquerda Progressista empurra a sua ideologia cada vez mais profundamente na esfera pessoal, deixando sobrarem cada vez menos áreas indisputadas na vida cotidiana. Isso, avisou Arendt, é um sinal de que uma sociedade está se encaminhando rumo ao totalitarismo, pois é isso que o totalitarismo essencialmente é: a politização de tudo.
Penetrar todos os aspectos da vida com ideologia era um aspecto padrão do totalitarismo soviético. No início da era Stalin, N. V. Krylenko, um comissário soviético (oficial político), passou por cima de jogadores de xadrez que queriam manter a política fora do jogo.
“Nós precisamos pôr um fim de uma vez por todas à neutralidade do xadrez”, ele disse. “Nós precisamos condenar de uma vez por todas a fórmula ‘xadrez pelo xadrez’, como a fórmula ‘arte pela arte’. Nós precisamos organizar brigadas de choque de jogadores de xadrez, e iniciar a realização imediata de um Plano Quinquenial para o xadrez.”
O leitor que enviou isso a mim disse que esse é mais um motivo pelo qual ele quer abandonar essa civilização. Ele não quer nada com uma civilização que homossexualiza o Papai Noel e chama isso de progresso. Eu entendo o ponto dele. Afinal, o que há para defendermos? Nós no Ocidente somos governados por pessoas que odeiam nossas tradições, odeiam nossa religião ancestral, odeiam nossa história e odeiam boa parte do nosso povo. Eles estão injetando sua ideologia de ódio racial e de queerness em tudo que for possível, até, como temos visto, no exército. Nossas crianças são bombardeadas com teoria de gênero nas salas de aula, tentando aliená-las de seus corpos, e até de seus próprios pais, cuja autoridade professores ativistas estão tentando subverter.
Eu não vou perder tempo expondo a lista completa, pois vocês leitores regulares já leram sobre tudo isso. Esse é somente um lembrete de que a guerra cultural é realizada pelos Progressistas contra todas as tradições estáveis, contra qualquer coisa que seja sagrada (até mesmo tradições seculares “sagradas”, como o Papai Noel). Agora, em Berlim, o alvo deles foi a Virgem Maria. O modelo é o “embaixador especial” da União Europeia para a comunidade LGBT:
Isso é sacrilégio. Eles — a classe governante — nos odeiam. Eles realmente nos odeiam. Essas duas ‘queerficações’ do Natal — o comercial norueguês e a revista alemã — aparecem agora na Europa, mas vocês sabem muito bem que a Europa apenas foi mais veloz que nós americanos nesse quesito.
Eu me pergunto por quanto tempo os americanos moderados e moderadamente conservadores vão continuar sendo os “bons protestantes” do tipo que tolerou cada novo ultraje dentro da igreja, dizendo, “Se os liberais cruzarem mais uma linha aqui, eu estou fora” — mas essa linha continua sendo atravessada várias e várias vezes, e nada muda? Isso é, por quanto tempo ainda cristãos continuarão tolerando coisas como essa, e aceitado-as, seja como “Progresso” ou como algo com o qual nós simplesmente temos que conviver? Onde está nosso autorrespeito? Onde está nosso sentido de certo e errado, de dignidade?
Nós somente deixamos essas pessoas, essas elites que governam esse regime (= mídia, educação, corporações, o exército, governo) pisarem na gente repetidamente, e nos contar que em nome da Justiça nós temos que aceitar coisas como um homem forte declarando ser uma mulher, vencendo nadadoras femininas em uma competição, e se nós nos recusarmos, nós somos intolerantes terríveis que merecem ser reprimidos?
Por quanto tempo nós vamos tolerar ser pisoteados por elites que nos dizem que a nossa religião é um lixo, e que deve ser “queerficada”, que nossas tradições cívicas são lixo, que a família tradicional é lixo, que a masculinidade e a feminilidade são lixo, que a nação é lixo, e que até mesmo pessoas de certas raças são lixo?
Como nós iremos manter a firmeza da América? Como nós iremos manter a firmeza do Ocidente?
Pior, devemos? Quem realmente vai querer arriscar sua própria vida, ou as vidas de seus filhos, para defender o tipo de país e civilização em que estamos nos transformando? Vocês todos querem tornar o Natal queer. Vocês todos servem os deuses falsos do panteão progressista. Porém eu e minha casa serviremos ao Senhor. Se isso significa perseguição, bem, que venha: Eu ainda prefiro sofrer pela Verdade do que me ajoelhar às suas mentiras, provocações e blasfêmias — e eu estou do lado de meus irmãos e irmãs em Cristo nisso — africanos, latinos e asiáticos.
Boa sorte defendendo esse país de seus inimigos. Eu espero e rezo para que nenhum de meus filhos entre nas Forças Armadas Woke e seja enviado para lutar além-mar em nome desse Império corrupto. O último parágrafo do After Virtue Inspired the Benedict Option de Alasdair MacIntyre é mais válido hoje do que jamais foi:
Esboçar paralelos precisos entre um período histórico e outro sempre é uma tarefa perigosa, e dentre tais paralelos alguns do mais enganosos foram aqueles esboçados entre a nossa era atual na Europa e na América do Norte e a época em que o Império Romano caiu na Idade das Trevas. Mas não obstante, há alguns paralelos válidos nisso. Um ponto de virada crucial nessa história anterior ocorreu quando homens e mulheres de boa vontade viraram as costas para a tarefa de apoiar o Império Romano e deixaram de identificar a continuação da civilidade e da comunidade moral com a manutenção desse imperium. O que eles se propuseram a alcançar em vez disso — frequentemente não reconhecendo inteiramente o que eles estavam fazendo — foi a construção de novas formas de comunidade em que a vida moral pudesse ser sustentada, de forma que tanto a moralidade quanto a civilidade pudessem sobreviver às eras vindouras de barbarismo e trevas. Tendo em vista nossa condição moral, nós devemos também concluir que nós também já alcançamos esse ponto de virada há um bom tempo. O que importa no estágio atual é a construção de formas locais de comunidade dentro das quais a civilidade e a vida moral e intelectual possam ser sustentadas através das novas idades negras que já estão sobre nós. E se a tradição das virtudes pôde sobreviver os horrores das últimas eras negras, nós não estamos completamente privados de fundamentos para nossa esperança. Dessa vez, no entanto, os bárbaros não estão nos esperando além das fronteiras; eles já têm nos governado por um bom tempo. E é nossa falta de consciência sobre isso que constitui parte de nosso dilema. Nós não estamos esperando por um Godot, mas por outro — sem dúvidas bastante diferente — São Benedito.
O leitor que me enviou o comercial do Papai Noel queer disse, efetivamente, que ele está virando as costas para a tarefa de apoiar o império americano e está deixando de identificar a continuação da civilidade e da comunidade moral com a manutenção desse império. O Papai Noel queer não foi o gatilho, mas ele é um símbolo condensado de tudo que ele tanto despreza sobre o que nós nos tornamos.
O que é um símbolo condensado? O leitor Raskolnik escreveu sobre esse assunto em seu blog anos atrás:
Lá por volta dos anos 60, a socióloga Mary Douglas elaborou a ideia de “símbolo condensado”. A ideia é que certas práticas ou ideias podem se tornar uma espécie de abreviação para uma visão de mundo inteira. Ela usou o exemplo de jejuar às sextas-feiras, que os Irlandeses Bog (geralmente católicos irlandeses de classe baixa vivendo na Inglaterra) persistiram em manter, apesar de seu clero mais bem educaxdo e geralmente de classe alta continuar dizendo a eles para dar mais aos pobres ou ir fazer algo diferente que melhor combinasse com os costumes humanistas seculares. O argumento dela era que os Irlandeses Bog continuavam jejuando, não devido a um tradicionalismo obstinado, ou a alguma fé descabida na efetividade “mágica” da prática, mas sim porque essa prática funcionava como um “símbolo condensado”: jejuar às sextas era uma forma abreviada de simbolizar uma conexão com seu próprio passado, com sua própria identidade enquanto irlandês, como também com uma visão menos secularizada (ou completamente não-secular) do sentido da prática religiosa. Essa prática adquiriu uma importância desproporcionalmente grande justamente porque conectava de forma abreviada sistemas complexos de significados.
Uma explicação adicional:
Um símbolo condensado é “um nome, palavra, frase, ou máxima que agita impressões vívidas envolvendo os valores mais básicos do ouvinte e prepara o ouvinte para a ação,” como definido pelo cientista político Doris Graber. Palavras ou frases curtas como “minha pátria,” “glória antiga” “American Dream,” “valores de família”, são todos símbolos condensados pois eles conjuram uma imagem específica dentro do ouvinte e carregam um “intenso poder emocional e efetivo”. Frequentemente usado para ampliar o significado de um símbolo ou frase, o símbolo condensado tem um significado semântico, mas através de seu uso repetido a longo termo, ele adquire conotações diferentes que aprofundam seu sentido simbólico. Doris Graber identificou três características principais dos símbolos condensados: (1) Eles tendem a evocar imagens ricas e vívidas em uma audiência. (2) Possuem a capacidade de provocar emoções. (3) Fornecem categorizações e avaliações instantâneas.
Todos nós sabemos exatamente o que o Papai Noel Queer significa: ele simboliza toda uma visão de mundo. Nós sabemos o que a Virgem Maria Trans significa: simboliza toda uma visão de mundo. A visão de mundo da classe governante do Ocidente, uma que rejeita e até ridiculariza todas as normas tradicionais, e busca erradicá-las da vida pública e privada. Meus leitores liberais vão provavelmente virar os olhos e dizer que o cabelo do Dreher está pegando fogo por causa de um mero comercial de TV e uma revista gay de Berlim. Leitores com mais discernimento, no entanto, saberão que eu me oponho a essas coisas como símbolos condensados da visão de mundo progressista como um todo — uma visão de mundo que é histericamente intolerante e que declara guerra contra conservadores sociais e religiosos a qualquer oportunidade.
Como Viktor Orban disse essa semana sobre a tomada do governo Alemão por forças progressistas: “Nós agora nos preparamos para a batalha com olhos arregalados.” Ele está falando sobre a luta da Hungria contra as forças progressistas dominantes na União Europeia. Isso também é verdade para nós, em nossos próprios conflitos aqui na América. A luta que foi travada por pais na Virgínia contra as tentativas furtivas de oficiais escolares de encher o currículo com Teoria Racial Crítica nos expôs um aspecto da batalha, e porque ela deve ser travada com os olhos arregalados. Pais não podem mais tomar a confiança em autoridades escolares como algo garantido — e, como Abigail Shrier revelou em uma reportagem recente, em alguns lugares professores e oficiais escolares estão tentando ativamente abalar a autoridade de parentes sobre seus filhos, para que as crianças possam ser queerficadas.
Nós já chegamos a um ponto muito além da “tolerância”. Ninguém quer essa guerra cultural, mas ela chegou a nós, queiramos nós ou não. O outro lado tem em mãos todo o poder institucional neste país e não tem a menor intenção de nos tolerar. Lembram-se disso?
O que eu tenho em comum com essas pessoas? Eu me pergunto isso mais e mais a cada dia que passa.
Fonte: The American Conservative