Na metade do século passado, dois principais líderes latino-americanos da época, e também dois dois maiores de toda a história do continente, Vargas e Perón, chegaram juntos a um consenso: os seus países, por conta própria, eram fracos demais para resistirem sozinhos às investidas das potências imperialistas. Eles não eram suficientemente industrializados e suas elites eram radicalmente antipatrióticas. Levando isso em consideração, os dois, junto ao presidente chileno Ibañez, desenvolveram o Projeto ABC, um projeto de aliança e de integração entre estes três países com o objetivo de varrer a influência atlantista da América do Sul e, então, construir um bloco continental capaz de garantir a liberdade e a soberania dos povos do continente.
Pouco depois, todos esses líderes caíram, derrubados por conspirações orquestradas pelas potências imperialistas, com o apoio da maçonaria, das elites rentistas e de outras forças apátridas obscuras. A sua queda demonstrou a verdade e a urgência de suas avaliações pretéritas. E o medo em relação a tal projeto talvez até tenha servido para motivar as conspirações que os derrubaram.
Quase 70 anos depois e ainda estamos diante do mesmo dilema.
Os povos da América Latina têm sido governados por elites que servem, não aos interesses de seus respectivos países, mas a interesses financeiros, econômicos e geopolíticos internacionais. Eles são postos uns contra os outros. As forças patrióticas que eventualmente emergem pouco sucesso têm em conseguirem a libertação das amarras da usurocracia internacional. E assim seguirá acontecendo.
Gaddafi percebeu a mesma realidade em relação ao continente africano e deu início ao projeto de uma União Africana com potencial de livrar seus países da servidão: esse foi um dos motivos de seu assassinato. A Rússia começou a encabeçar uma União Eurasiática para reunir povos próximos em um sistema de defesa mútua e cooperação econômica. A União Europeia está em decadência, mas vários dos próprios protagonistas dessa desintegração pretendem, ou se alinhar à Rússia. ou reorganizar a Europa em um outro sistema de cooperação. O Oriente Médio está em guerra constante e sob constantes invasões e intervenções porque foi sabotado o projeto pan-árabe de Nasser e dos ba’athistas. Nesse sentido, nós somos os mais atrasados de todos. O Projeto ABC foi abortado por nossos inimigos antes mesmo de começar. O projeto bolivariano está praticamente em frangalhos. Um novo projeto de aliança, cooperação, defesa e integração dos povos da América Latina é necessário. Um que respeite as identidades dos povos integrantes. Um que tenha em vistas a formação de uma nova civilização continental, herdeira de Roma. Um que tenha por orientação o combate a qualquer ameaça estrangeira a qualquer membro. Um que irmane todos as nossas centenas de milhões de homens na causa das Malvinas, das Guianas, no combate ao Plano Andinia, na retomada de todas as bases atlantistas no continente. Um que que sirva como rede de suporte para que todos os membros possam fazer suas auditorias e se livrar da escravidão econômico-financeira, algo dificílimo sem uma grande aliança continental, como mencionado outrora por Fidel Castro.
Em suma, temos sido mantidos separados e adversários, intencionalmente, por nossos inimigos, agindo sob a filosofia do “dividir para conquistar”. Devemos reparar esse erro.