O encontro de sexta-feira no Alasca mostrou um cenário curioso. Trump e Putin chegaram como adversários, mas se comportaram quase como velhos amigos. O protocolo foi impecável: tapete vermelho, honras de chefe de Estado, formalidade total. Nem mesmo as hostilidades da imprensa contra Putin foram capazes de quebrar o clima de respeito mútuo entre os dois líderes. Não houve grandes anúncios, nenhum cessar-fogo, nenhum acordo assinado. Mas a sensação deixada foi clara: existe uma abertura, uma disposição dos dois em, ao menos, explorar caminhos que no futuro possam se transformar em negociação real.
Esse pano de fundo torna o encontro desta segunda-feira, entre Zelensky e Trump, ainda mais delicado. O presidente ucraniano chega a Washington numa posição frágil. Não esteve na mesa principal do Alasca, viu os dois protagonistas do conflito discutirem frente a frente sem a sua presença e agora precisa provar que continua sendo peça essencial do tabuleiro. Não basta aparecer em fotos ou repetir discursos de resistência — ele precisa sair com algo concreto para justificar sua relevância política, tanto dentro da Ucrânia quanto diante dos aliados.
O grande risco é que a “batata quente” da guerra tenha sido colocada diretamente nas mãos de Zelensky. Se recusar qualquer proposta futura que soe moderada para o público externo, pode ser imediatamente acusado de ser o verdadeiro obstáculo à paz. Se aceitar concessões — seja de território, seja de neutralidade — corre o risco de perder legitimidade interna, sofrer oposição crescente e até enfraquecer sua própria posição como líder em tempos de guerra. É um dilema clássico: qualquer passo errado pode significar isolamento.
Trump, por outro lado, joga em campo confortável. Saiu do Alasca com a imagem de mediador que abriu portas, de líder que conseguiu sentar à mesa com Putin sem confrontos diretos e sem ceder mais do que queria. Agora, ao receber Zelensky, pode reforçar essa narrativa: mostrar-se aberto, ouvir com atenção, repetir compromissos de apoio. Mas dificilmente oferecerá algo além de palavras fortes e promessas vagas. Trump sabe que o valor político está na imagem de equilíbrio, não em compromissos que limitem sua margem de manobra futura. O que ele já alinhou com Putin é suficiente — e ponto final.
Na minha visão, esse encontro é uma cilada política para Zelensky. O risco dele sair isolado é enorme, ainda mais depois do clima de respeito que Trump demonstrou com Putin no Alasca. Existe até a chance de a reunião terminar em um constrangimento público, parecido com aquele episódio em fevereiro em que Trump o repreendeu diante das câmeras. Ao meu ver, o saldo não será vitória diplomática, mas sim mais pressão: Zelensky tende a carregar sozinho a responsabilidade por não aceitar um acordo, enquanto Trump e Putin continuarão vendendo a narrativa de que são eles os verdadeiros interessados no diálogo e na paz.