Nesta sexta-feira, no Alasca, Donald Trump e Vladimir Putin vão se encarar. Oficialmente, é um encontro pela paz na Ucrânia. Na prática, é um jogo pra ver até onde cada um pode ir sem recuar um milímetro. O lugar não foi escolhido por acaso: longe do centro político tradicional, mas ainda território americano, passa a sensação de neutralidade… mesmo sendo claramente controlado pelos EUA.
Putin chega com o peso de quem vem conduzindo a guerra no seu ritmo. A estratégia dele não é corrida de 100 metros, é maratona: desgaste lento, constante, minando recursos e paciência de Kiev e do Ocidente. No papel, senta à mesa como quem está aberto ao diálogo; na realidade, é mais uma jogada pra manter a iniciativa no campo e, ao mesmo tempo, passar a imagem de líder que dita o tempo do jogo.
Trump entra por outro ângulo. Quer o título de “homem que resolveu a guerra” e ainda usar isso como munição política dentro dos EUA. Só que ele sabe: qualquer aceno a Putin vai ser visto como genial por uns e traição por outros. E é exatamente essa divisão que ele vai explorar — porque se manter no centro do palco é o que conta pra ele agora.
A ausência física de Zelensky na conversa principal não é só um detalhe protocolar, é um recado claro. Mostra que, pelo menos nesse momento, as decisões mais pesadas podem estar sendo costuradas acima da cabeça de Kiev. Isso é música pros ouvidos de Moscou e pressão direta sobre a Ucrânia.
Na minha leitura, esse encontro pode seguir dois rumos bem distintos.
No primeiro, Moscou sai da mesa com uma vitória política: um compromisso informal ou uma formulação verbal que, na prática, reconheça algum ganho russo. Zelensky, ciente do custo político e estratégico de aceitar isso, rejeita publicamente. Essa recusa reforça sua imagem de resistência, mas o isola entre aliados e o expõe a um desgaste interno crescente. Nesse cenário, Trump e Putin podem até vender a narrativa de que Zelensky é quem não quer a paz, colocando-o na posição desconfortável de explicar ao mundo por que recusou “uma chance de encerrar o conflito” — mesmo que os termos fossem inaceitáveis para Kiev. No jogo de propaganda, isso pesa tanto quanto uma derrota no campo de batalha.
No segundo, a reunião termina com anúncios e declarações de impacto — palavras grandes como “avanços” e “entendimento” — mas sem nada realmente amarrado no papel. O campo de batalha continua ativo, talvez até com intensidade maior, porque cada lado vai querer chegar à próxima rodada com mais força de barganha. O valor, nesse caso, está menos no conteúdo imediato e mais na porta que se abre para contatos futuros.
O peso dessa reunião não está no que será dito no microfone, mas no que ela desencadeia depois. Se abrir espaço para um canal direto entre Washington e Moscou, mesmo sem acordo imediato, isso já muda o jogo. A definição de qual lado vai cruzar essa porta primeiro não virá da retórica oficial, mas das semanas seguintes — quando as movimentações no campo e as decisões tomadas a portas fechadas começarem a mostrar quem realmente ganhou terreno, militar e politicamente.