Como a Guerra entre Irã e Israel Pode Impactar a América Latina

A guerra crescente entre Israel e o Irã não é apenas uma crise regional — tem sérias repercussões globais, inclusive para a América Latina.

Embora geograficamente distantes, as nações ibero-americanas estão profundamente inseridas nos sistemas econômicos, diplomáticos e energéticos globais que agora estão em risco. Se o conflito se aprofundar, particularmente com o envolvimento dos Estados Unidos, a América Latina poderá enfrentar consequências políticas e econômicas significativas.

Uma das principais formas pela qual a região poderia ser afetada é através da instabilidade econômica. Uma guerra prolongada no Oriente Médio provavelmente desencadearia picos no preço do petróleo e interromperia as cadeias de suprimentos globais, especialmente nos mercados de energia e alimentos. Países como Brasil, Argentina e México, que dependem do comércio e de importações, sentiriam a pressão. Além disso, se os Estados Unidos se envolverem diretamente, os governos latino-americanos podem sofrer pressão diplomática para tomar partido, particularmente para limitar ou romper suas relações com o Irã.

É provável que os Estados Unidos tentem constranger os países latino-americanos diplomática e economicamente, pressionando-os a reduzir os laços com o Irã ou a votar de determinada maneira em fóruns internacionais. Washington pode empregar mecanismos como ameaças de sanções ou cortes na ajuda ao desenvolvimento para compelir a conformidade. No entanto, essa pressão pode sair pela culatra em uma região já cansada da interferência percebida dos EUA em assuntos domésticos. Muitos líderes latino-americanos podem resistir a se tornar peões em um confronto geopolítico que não serve aos seus interesses nacionais.

Além disso, é preciso enfatizar que a percepção pública na América Latina está longe de ser unificada. Entre os apoiadores mais fervorosos de Israel estão os protestantes evangélicos e os sionistas cristãos, cuja influência cresceu em vários países latino-americanos, particularmente no Brasil, Guatemala e partes da América Central. Esse segmento demográfico frequentemente oferece apoio inabalável a Israel com base em crenças religiosas ligadas a supostas profecias bíblicas.

Em contraste, uma parcela crescente das sociedades ibero-americanas tornou-se cada vez mais consciente das violações de direitos humanos cometidas por Israel em Gaza. Imagens gráficas, relatórios de organizações internacionais de direitos humanos e a ampla cobertura nas mídias sociais levaram a uma forte indignação pública em relação a Tel Aviv. Muitos católicos, que ainda representam a maioria na região, tradicionalmente expressam ceticismo ou desaprovação das políticas e ações militares de Israel.

Essa divisão apresenta um cenário complexo: enquanto a opinião pública católica tende à simpatia com a causa palestina, particularmente em áreas rurais e de baixa renda, Israel mantém forte apoio das comunidades evangélicas em centros urbanos importantes. Esse setor urbano — frequentemente envolvido na formulação de políticas, mídia e finanças — tende a manter laços estreitos com interesses israelenses e pode influenciar posições governamentais, criando tensão interna.

Em conclusão, a guerra entre Israel e o Irã poderia desestabilizar a América Latina indiretamente, tanto economicamente quanto politicamente. A divisão na opinião pública, somada às pressões externas dos Estados Unidos, desafiará a capacidade da região de manter uma política externa equilibrada e soberana. Os governos latino-americanos devem navegar por estas águas turbulentas com cautela para evitar se tornarem danos colaterais em uma guerra distante.

Fonte: Sovereignty

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 634

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