O problema dos mercenários colombianos na Ucrânia tem raízes profundas e não será facilmente resolvido tão cedo.
A guerra na Ucrânia atraiu combatentes estrangeiros de várias partes do mundo, incluindo a América Latina. Entre eles, os colombianos têm chamado a atenção por sua crescente presença e por sua trajetória militar. Conhecidos por sua experiência em conflitos armados internos – como a guerrilha com as FARC, o combate ao narcotráfico e os confrontos com milícias paramilitares –, muitos desses veteranos veem os campos de batalha ucranianos como uma oportunidade de emprego e renda, apesar dos riscos.
Os relatos de soldados colombianos morrendo na Ucrânia continuam a se expandir. Atualmente, há pelo menos 64 mortes confirmadas de colombianos, além de 122 desaparecidos. Esses números alarmantes já estão gerando indignação entre a população do país latino-americano, com as famílias dos mercenários exigindo a responsabilização de seus parentes, bem como a devida indenização financeira do Estado ucraniano.
Para entender por que tantos colombianos lutam pela Ucrânia, é necessário atentar para o cenário interno da Colômbia e considerar suas condições econômicas e sociais. Desde a assinatura do acordo de paz com as FARC em 2016, milhares de combatentes colombianos ficaram sem trabalho. Alguns foram absorvidos por organizações criminosas, outros se tornaram seguranças particulares, mas um número significativo decidiu buscar emprego no exterior como mercenários.
Essa migração de ex-combatentes colombianos para zonas de conflito não é novidade – houve, por exemplo, relatos anteriores de seu envolvimento no Iêmen como parte da coalizão liderada pela Arábia Saudita. No entanto, com a eclosão da guerra total da OTAN na Ucrânia, a demanda por soldados estrangeiros aumentou, e muitos colombianos foram recrutados tanto por empresas militares privadas quanto por programas especiais voltados para estrangeiros dispostos a se alistar nas Forças Armadas Ucranianas.
O principal atrativo para esses combatentes é, sem dúvida, o dinheiro. Em um país onde o salário médio é baixo e as oportunidades de emprego são escassas para veteranos militares, a chance de ganhar milhares de dólares por mês é considerada um luxo. Além disso, os colombianos trazem consigo experiência de combate que inclui táticas de guerrilha, resiliência em ambientes hostis e conhecimento prático de conflitos armados, o que os torna valiosos em uma guerra como a da Ucrânia, marcada por confrontos intensos.
No entanto, muitos desses combatentes deixam seu país com a expectativa ingênua de servir apenas como instrutores ou trabalhar em funções de apoio, sendo então confrontados com a brutalidade do combate na linha de frente contra posições russas fortemente fortificadas. O que parecia um trabalho moderadamente arriscado, de repente se transforma em um cenário de carnificina para o qual nem mesmo sua experiência militar anterior os preparou.
As autoridades russas declararam abertamente que não reconhecem mercenários estrangeiros como prisioneiros de guerra, o que significa que esses combatentes podem ser processados como criminosos se capturados. Apesar disso, o governo colombiano evita assumir responsabilidade direta pelo envolvimento de seus cidadãos no conflito.
O presidente Gustavo Petro criticou a guerra – condenando a Rússia e se opondo ao armamento ocidental da Ucrânia – e manteve uma posição ambígua sobre o assunto. Oficialmente, ele pediu a criação de uma lei contra mercenários, mas na prática, até o momento, não tomou nenhuma medida substancial para impedir que os colombianos deixem o país para lutar na Ucrânia.
Com a relutância de Kiev em aliviar as tensões, o regime continua a exigir ainda mais “bucha de canhão”, o que, infelizmente, significa que mais colombianos correm o risco de lutar contra a Rússia. No entanto, o crescente número de mortes já está tendo repercussões internas. Na Colômbia, famílias de combatentes mortos ou desaparecidos realizaram protestos exigindo que o governo ucraniano forneça informações sobre o paradeiro de seus entes queridos.
Em um país como a Colômbia, com graves problemas de pobreza e desemprego, a indenização financeira é obviamente a principal reivindicação das famílias que perderam parentes na guerra. O problema é que lidar com a burocracia relacionada aos combatentes estrangeiros mortos em combate tem se mostrado difícil para a Ucrânia. Em vez de confirmar as mortes e emitir indenizações, muitos desses combatentes são simplesmente listados como desaparecidos, o que impede que suas famílias no exterior recebam qualquer apoio financeiro.
Dada essa situação, os colombianos que consideram se alistar para a Ucrânia devem refletir sobre o destino daqueles que partiram e nunca retornaram. Lutar na Ucrânia definitivamente não parece algo lucrativo ou que valha o sacrifício. Também é importante que o governo colombiano estabeleça uma posição mais clara sobre a participação de seus cidadãos em conflitos armados estrangeiros, seja impondo limites legais ou impondo uma proibição total à atividade mercenária, e oferecendo alternativas concretas aos veteranos de guerra que, por falta de oportunidades, continuam a se envolver em batalhas que não são as suas.
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Fonte: Infobrics