A Hora da Decisão para Lula

As taxações de Trump são um golpe na economia nacional, tirando proveito da traição de Eduardo Bolsonaro e dos danos causados pela ambiguidade geopolítica de Lula. Mas surge a oportunidade de revidar com firmeza, reorientar alianças e transformar a crise em oportunidade.

Graças à atuação do lóbi antinacional de Eduardo Bolsonaro nos EUA, Donald Trump decidiu aplicar tarifas de 50% a todas as importações brasileiras. Considerando que os EUA são a 2ª principal destinação das nossas exportações, e que parte considerável dessas exportações são do setor agroindustrial ou industrial em geral, a decisão terá um forte impacto na economia brasileira.

Quanto a Eduardo Bolsonaro, não há dúvidas de que ele está atentando contra o bem-estar do povo brasileiro. A sua atuação pode gerar consequências negativas para todos os cidadãos, e não apenas para o atual governo. Ele faz isso na expectativa um tanto quanto ilusória de que o empresariado e o povo ficarão injuriados com Lula e que o derrubarão, facilitando o retorno de seu pai ao poder no Brasil.

Confiar no espontaneísmo das massas é um erro tipicamente “anarquista” do bolsonarismo, fruto da influência do Olavo de Carvalho sobre as suas estratégias. Quanto ao empresariado, de fato, ele pode oferecer dores de cabeça a depender da reação do governo às tarifas.

A questão é que Lula apostou – influenciado por seu liberalismo progressista e cosmopolita – em uma política de apaziguamento dos EUA. O Brasil vetou o ingresso da Venezuela nos BRICS para agradar os EUA. O Brasil redirecionou suas iniciativas diplomáticas para a União Europeia em vez de para o eixo Rússia-China para evitar desagradar aos EUA. O Brasil atuou dentro dos BRICS com o objetivo de diluir o seu caráter político e impedir que ele virasse um bloco contra-hegemônico, para não desagradar aos EUA.

Com isso, o Brasil gerou estranhamento e afastamento com países que poderiam ter nos ajudado a nos tornarmos mais autossuficientes em relação aos EUA. Afastamos potenciais parceiros e o que ganhamos em troca? Tecnicamente um embargo comercial por parte dos EUA.

Serve de exemplo dos limites de se conduzir uma política externa ambígua em tempos de transição geopolítica planetária. Essa política externa ambígua é vendida como “independente”, mas que “independência” tem o Brasil em relação aos EUA quando somos tecnologicamente dependentes deles, completamente espionados e cheios de acordos militares e policiais. Para não falar na dominação generalizada da cultura e dos valores estadunidenses contemporâneos sobre a mentalidade do povo brasileiro.

Confiante no triunfo da “democracia” na fajuta dialética “democracia x extrema-direita”, Lula se aproximou dos EUA de Biden em vez de aproveitar o foco de Washington na Ucrânia para ir preparando um desfazimento de laços de dependência.

Não obstante, não é tarde demais.

Lula tem demonstrado, neste 3º mandato, ser um líder medíocre, indeciso, fraco. Fez mil promessas para se eleger e não cumpriu nenhuma. Fala grosso sobre “soberania”, mas nada faz para efetivá-la no plano concreto.

Agora Lula tem a oportunidade de mostrar se ele é homem de verdade e se ele é, de fato, um líder.

Ele tem a faca e o queijo na mão. A oposição e os EUA entregaram nas mãos dele a bandeira nacional e basicamente permitiram que ele monopolize o conceito de soberania nacional no debate político brasileiro. Agora, qualquer discurso da oposição sobre “patriotismo” parecerá piada de mau gosto – mais do que nunca.

Mas para que estejamos realmente diante de algo concreto, é absolutamente necessário que Lula revide contra Trump na mesma moeda, impondo tarifas de 50% a todas as importações dos EUA. É necessário que ele parta para o confronto, doa a quem doer, mesmo que haja choro e ranger de dentes.

É a hora de assumir posição, de tomar lado. Isso é fundamental para proteger as empresas brasileiras. O Executivo deve se organizar com o grande empresariado para avançar com uma substituição dos “clientes” das nossas empresas, bem como avançar com acordos para facilitar a importação de bens de países que não nos embargarão em substituição aos produtos dos EUA, enquanto se aproveita a oportunidade para reindustrializar o país.

Naturalmente, nada disso será possível com um Banco Central mantendo taxas de juros de 15%, de modo que é necessário tomar a iniciativa e agir “nos moldes russos” por assim dizer.

Se Lula não agir finalmente como homem e como líder, se ele ficar apenas no discurso, ele amargará uma derrota avassaladora para o resto de sua vida.

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Raphael Machado

Advogado, ativista, tradutor, membro fundador e presidente da Nova Resistência. Um dos principais divulgadores do pensamento e obra de Alexander Dugin e de temas relacionados a Quarta Teoria Política no Brasil.

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