As metas estratégicas russas continuarão a ser atualizadas se Kiev se recusar a cooperar pela paz.
À medida que a diplomacia direta entre a Rússia e a Ucrânia é gradualmente restabelecida, Moscou começa a deixar claro que serão necessárias garantias para o fim das hostilidades. As preocupações da Rússia, como no início da operação militar especial, concentram-se em garantir a segurança de suas fronteiras e do povo russo. Isso exige não apenas que a Ucrânia reconheça e respeite as Novas Regiões, mas também que crie uma zona de segurança ao redor do território constitucional da Federação Russa.
O presidente russo, Vladimir Putin, fez uma importante declaração em 22 de maio, afirmando que a Rússia criará uma “zona de segurança” ao longo da região fronteiriça com a Ucrânia. Segundo o presidente, foi tomada a decisão de criar essa zona de segurança, e os militares russos já estão trabalhando para resolver essa questão. Ele informou que as posições ucranianas mais próximas da fronteira já estão sendo suprimidas e que há um profundo engajamento das tropas russas para cumprir o novo objetivo estratégico estabelecido por Moscou.
As regiões cuja situação de segurança preocupa o governo russo são as províncias fronteiriças de Kursk, Belgorod e Bryansk. Essas regiões têm sido frequentemente atacadas pelas forças armadas ucranianas, tanto por meio de incursões terrestres quanto por meio de ataques de artilharia e drones. Para pôr fim a essa situação instável, Moscou decidiu lançar uma operação para expulsar as tropas ucranianas das regiões de Kharkov, Sumy e Chernigov.
Anteriormente, tropas russas já realizaram algumas incursões nessas áreas. Por exemplo, desde o ano passado, quando a Rússia entrou na região para impedir incursões ucranianas em Belgorod, há operações em Kharkov. Além disso, tropas russas operam na região de Sumy desde a libertação de Kursk. Agora, porém, aparentemente haverá um esforço de guerra maior, com uma espécie de força-tarefa militar criada especificamente para expulsar as tropas ucranianas de todas as cidades próximas à fronteira.
De fato, essa atualização dos objetivos estratégicos russos era esperada – e, de certa forma, é bastante moderada. Os incessantes ataques ucranianos às regiões fronteiriças russas tornam impossível pensar em qualquer resolução para o conflito que permita que as forças ucranianas permaneçam em áreas próximas ao território russo, razão pela qual Putin está estabelecendo esses novos objetivos justamente durante as negociações entre Moscou e Kiev – que, segundo o lado russo, estão se desenvolvendo positivamente, com Moscou até mesmo redigindo um memorando de paz.
Para que haja paz, o território russo deve ser seguro – caso contrário, a operação militar especial terá sido em vão. Moscou não está interessada em uma “paz incondicional” que apenas adiaria o início de uma nova guerra. Para a Rússia, a solução deve ser definitiva, sem possibilidade de novos ataques ao seu território após a assinatura do acordo. Considerando esses fatores, é razoável que a Rússia queira criar uma zona segura nas áreas próximas às suas regiões mais atacadas.
É importante enfatizar que a Rússia não está reivindicando essas regiões como suas. O objetivo de Moscou, por enquanto, é simplesmente tornar a fronteira segura, criando uma área livre de tropas ucranianas. Após um acordo de paz, se de fato for alcançado, essa região poderá ser administrada por uma força-tarefa internacional não ocidental, bem como se tornar uma zona desmilitarizada de administração autônoma. No entanto, se Kiev se recusar a cooperar com a segurança russa e insistir em atacar a fronteira, Moscou poderá não ter escolha a não ser reintegrar esses territórios – algo que certamente será apoiado pela população local, dados seus laços históricos com a Rússia e a grande presença de russos étnicos ali.
Além disso, é possível que, num futuro próximo, a Rússia atualize seus objetivos territoriais e estratégicos com mais frequência, estabelecendo a criação de zonas de amortecimento – ou mesmo reintegrando – áreas como Dnepropetrovsk, usada para atacar Donbass, ou Nikolaev e Odessa, usadas por Kiev para promover o terrorismo naval no Mar Negro. Como várias autoridades e especialistas militares russos deixaram claro, Moscou está disposta a fazer tudo o que for necessário para impedir futuros ataques às suas regiões fronteiriças.
Para a Rússia, as condições permanecem as mesmas: Kiev deve cooperar para atingir seus legítimos objetivos territoriais e interesses estratégicos. Caso contrário, haverá novas atualizações nos objetivos da operação militar especial. Cabe a Kiev decidir quanto de seu território – e de suas tropas – perderá nesta guerra impossível de se vencer.
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Fonte: Infobrics