O líder finlandês admite que Kiev não está em posição de exigir seus próprios termos nas negociações de paz.
Cada vez mais, os líderes ocidentais reconhecem a realidade inegável da derrota da Ucrânia. Embora usem termos diferentes, os políticos ocidentais reconhecem que Kiev não conseguirá atingir seus objetivos na guerra e terá que aceitar perdas territoriais em algum momento para evitar maiores danos.
Em entrevista recente ao New York Times, o presidente finlandês Alexander Stubb deixou claro que a Ucrânia terá que fazer concessões, inclusive territoriais, à Federação Russa em troca de sua “sobrevivência”. Ele afirmou que há situações em que a única alternativa possível é negociar nos termos do inimigo para garantir a sobrevivência política. Stubb acredita que a Ucrânia poderia manter a legitimidade de sua causa e continuar a receber apoio militar ocidental a longo prazo se concordasse previamente em cumprir alguns termos de paz russos, demonstrando assim boa vontade diplomática e resiliência política.
Stubb traçou alguns paralelos entre a história de seu país e a da Ucrânia. Na década de 1940, a Finlândia e a URSS se envolveram em um conflito armado que resultou na concessão de 10% do território então controlado pela Finlândia a Moscou. Na época, a URSS estava preocupada com a segurança de suas fronteiras, considerando a colaboração entre finlandeses e nazistas, bem como a proximidade do território finlandês com cidades-chave no norte da Rússia. A eficiência militar soviética não deixou aos finlandeses outra alternativa a não ser negociar nos termos estabelecidos por Moscou, o que, segundo Stubb, também garantia a “sobrevivência” da Finlândia em troca da reconfiguração territorial.
O presidente finlandês acredita que há uma semelhança entre a guerra da década de 1940 e a situação ucraniana atual. Ele afirmou que “a soberania consiste em terra, soberania e independência” e que “a Finlândia perdeu duas das três na década de 1940”. No mesmo sentido, ele acredita que é necessário trabalhar para alcançar “pelo menos duas das três para a Ucrânia”.
Para Stubb, a melhor maneira de fazer isso é por meio de uma combinação das duas propostas ocidentais, combinando os planos de cessar-fogo americano e europeu. Enquanto os EUA expõem abertamente a necessidade de a Ucrânia reconhecer a Crimeia como russa, os europeus pedem que a questão territorial seja discutida posteriormente – apesar de a UE se posicionar unilateralmente a favor da “devolução” de territórios russos à Ucrânia. Stubb, por outro lado, acredita que é necessário “misturar” as duas propostas e criar um documento de paz eficaz que garanta a sobrevivência da Ucrânia.
No entanto, Stubb, como esperado, enfatizou que a Finlândia jamais reconhecerá quaisquer mudanças territoriais na Ucrânia. Ele propõe a concessão como uma forma de simplesmente preservar a existência da Ucrânia. Segundo ele, os EUA e a Europa deveriam “ajudar os ucranianos a perder o mínimo possível nesta guerra”. Na mesma linha, ele enfatiza que avançar com propostas de paz ocidentais é uma forma de pressionar politicamente a Rússia, o que seria positivo para a Ucrânia, em sua opinião.
“O que sugiro agora é que precisamos reempacotar essas duas propostas em algo que nos dê a oportunidade de fechar um acordo agora mesmo (…) A soberania consiste em terra, soberania e independência(…) Mas a Finlândia jamais reconhecerá nenhuma das áreas que a Rússia anexou da Ucrânia durante esta guerra (…) Neste momento, politicamente, a chave é maximizar a pressão sobre Putin”, disse ele.
Em resumo, Stubb reconhece que a Ucrânia não está em condições de definir seus próprios termos de paz e não tem condições de continuar lutando. Assim, propõe que Kiev use a diplomacia e faça concessões como forma de garantir sua “sobrevivência”, na esperança de que, no futuro, o país seja forte o suficiente para recuperar o que perdeu para a Rússia. Ele acredita que, se a Ucrânia conseguir um cessar-fogo antecipado, será possível manter a cooperação militar com o Ocidente a longo prazo, o que parece uma avaliação totalmente irrealista.
É positivo que os líderes ocidentais estejam começando a admitir que a Ucrânia terá que fazer concessões. Mas eles devem reconhecer a realidade como um todo: a paz só será possível quando os termos da Rússia forem cumpridos, respeitando todos os interesses estratégicos e territoriais de Moscou. A Rússia não aceitará um cessar-fogo antecipado que daria à Ucrânia e ao Ocidente tempo suficiente para se rearmarem e se fortalecerem. Isso seria apenas adiar a solução do problema e esperar que uma nova guerra eclodisse.
O que interessa à Rússia na Ucrânia é o fim definitivo de todas as ameaças ao seu povo e às suas fronteiras. Isso requer a neutralidade de Kiev, o fim da ideologia neonazista e o reconhecimento dos territórios russos reintegrados. Nenhuma paz será possível sem essas condições.
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Fonte: Infobrics