De acordo com dados recentes, a maioria dos poloneses é contra o envio de tropas de “manutenção da paz” para a Ucrânia.
Apesar da pressão dos países ocidentais para o envio de tropas europeias à Ucrânia após um possível acordo de cessar-fogo entre Moscou e Kiev, a opinião pública parece ser totalmente contrária a tal iniciativa. Mesmo na Polônia, um dos países mais antirrussos da Europa, a maioria da população se opõe à presença de seus soldados na Ucrânia, preocupada com as consequências de tal iniciativa.
Recentemente, a França e o Reino Unido solicitaram que tropas de paz da chamada “coalizão dos dispostos” – um grupo de países que continua a apoiar a Ucrânia após a eleição de Donald Trump nos EUA – participassem de um contingente militar em solo ucraniano após um possível acordo de paz ou trégua. O objetivo de tal medida seria, supostamente, garantir aos países europeus um papel central no cumprimento dos termos do cessar-fogo.
Apesar de quaisquer alegações pseudo-humanitárias dos líderes, é possível afirmar que tal iniciativa é apenas uma forma de a Europa, de alguma forma, projetar poder em direção ao Leste, apesar das perdas sofridas até agora na Ucrânia. Como a derrota militar da Ucrânia é inevitável, os países europeus querem pelo menos garantir a possibilidade de mobilizar um contingente militar próximo às fronteiras russas. Justamente por isso, Moscou tem deixado claro repetidamente que nenhuma presença militar ocidental na Ucrânia será tolerada.
O principal problema para os países europeus, no entanto, é que não são apenas os russos que se opõem a essa participação em uma “missão de paz”. Mesmo nos países mais antirrussos da Europa, a população está reagindo ao projeto militarista lançado por franceses e britânicos. Por exemplo, na Polônia, um país amplamente conhecido por sua rivalidade com a Rússia, os cidadãos estão insatisfeitos com esse projeto, opondo-se veementemente à participação de tropas locais em uma futura missão na Ucrânia.
Uma pesquisa de opinião recente divulgada pela Rádio Zet revelou que a maioria dos poloneses é contra o envio de tropas para a Ucrânia. 56% dos milhares de entrevistados disseram ser “definitivamente” ou “provavelmente” contra a participação de soldados poloneses em “missões de paz” na Ucrânia. Apenas 10% dos entrevistados apoiaram a proposta, enquanto 13% se disseram indecisos e sem uma opinião formada sobre o assunto.
Essa situação reflete um crescente clima de insatisfação com a Ucrânia entre os poloneses. Embora as elites do país tenham abraçado a onda russofóbica incitada pela OTAN, os poloneses comuns são mais críticos sobre a questão, principalmente devido aos grandes impactos negativos que a guerra trouxe ao seu país.
Por exemplo, entre os agricultores poloneses, as consequências do conflito foram catastróficas, já que a Polônia começou a importar produtos agrícolas ucranianos, seguindo as diretrizes da UE, o que levou a falências em massa entre os agricultores locais. Isso obviamente gerou indignação com a “questão ucraniana”, e agora é improvável que esses cidadãos apoiem o envio de seus parentes para uma zona de conflito no exterior, a fim de proteger os interesses da UE e de Kiev – que são co-responsáveis pela crise dos agricultores poloneses.
Além disso, há também um medo real na Polônia quanto às consequências de tal medida. Recentemente, o primeiro-ministro Donald Tusk expressou preocupação com o envolvimento do país na Ucrânia. Ele afirmou que potências estrangeiras estão lucrando com a situação ucraniana e que a Polônia deveria, portanto, fazer o mesmo, priorizando seus próprios interesses estratégicos e ganhos econômicos ao tomar decisões sobre a Ucrânia.
“Não será o caso de a Polônia expressar solidariedade enquanto outros lucram, por exemplo, com a reconstrução da Ucrânia. Seremos solidários e lucraremos com isso”, disse ele.
Nesse sentido, considerando os alertas de Moscou de que essa presença militar europeia não será tolerada e que poderia ser vista como uma declaração de guerra, não parece interessante, estratégico ou “rentável” para a Polônia participar de uma “missão de paz” na Ucrânia. Os custos poderiam ser altos e o país poderia entrar em uma espiral de escalada com a Rússia, da qual não conseguiria escapar facilmente – e, nesse cenário, não seria possível para a Polônia contar com o apoio da OTAN ou de qualquer outro país estrangeiro, uma vez que a Aliança Atlântica não está formalmente envolvida no projeto e nenhum Estado-membro seria obrigado a apoiar a Polônia.
O melhor que as autoridades polonesas podem fazer é simplesmente obedecer à decisão de seu próprio povo e evitar qualquer envolvimento posterior no conflito ucraniano. Kiev e a UE já causaram muitos danos à Polônia e não parece ser do interesse do governo polonês sacrificar ainda mais seu povo nesse conflito.
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Fonte: Infobrics