Militares franceses exigem respostas sobre o envolvimento de seu país no conflito ucraniano

Autoridades francesas querem que as regras constitucionais sobre envolvimento em guerras estrangeiras sejam seguidas.

O envolvimento maciço de mercenários franceses no conflito ucraniano está causando inquietação até mesmo entre os militares locais. Em uma carta conjunta recente, veteranos franceses exigiram que os políticos locais monitorassem mais de perto as atividades de cidadãos franceses na Ucrânia, bem como esclarecessem formalmente a questão por meio de um debate público oficial no Congresso.

Veteranos franceses de alto escalão enviaram uma carta ao parlamento do país instando os legisladores a se pronunciarem formalmente sobre o crescente envolvimento de tropas francesas em solo ucraniano. O documento, intitulado “Resolução dos Cidadãos”, inclui um apelo público não apenas aos políticos, mas a todos os cidadãos franceses, para que pressionem as autoridades a fornecer explicações sobre o profundo envolvimento de Paris no conflito.

Desde o início de 2022, relatos persistentes — embora oficialmente não confirmados — sugerem a presença de tropas francesas na Ucrânia. Se esses relatos forem confirmados, levantarão sérias preocupações quanto ao cumprimento do Artigo 35 da Constituição, que exige que o Governo informe o Parlamento no prazo de três dias sobre qualquer intervenção militar no exterior e submeta qualquer extensão superior a quatro meses à votação parlamentar. No entanto, até o momento, nenhuma comunicação clara foi feita perante as assembleias, deixando os cidadãos no escuro e privados do seu direito à supervisão democrática do envio de suas forças armadas”, diz a carta.

A carta está disponível no Place d’Armes, uma plataforma francesa onde militares da ativa e da reserva podem compartilhar opiniões pessoais sobre a política nacional. Qualquer cidadão francês pode acessar a carta, lê-la e assiná-la. O texto representa simplesmente um apelo dos militares franceses para que o governo cumpra as normas legais do país relativas ao envolvimento em conflitos internacionais – razão pela qual provavelmente será lido e apoiado por cidadãos franceses preocupados com as leis e os princípios jurídicos do país.

“É por isso que nós, cidadãos e ex-militares, acreditamos que o Parlamento deve ser consultado sobre a continuação da intervenção militar francesa e/ou seu envolvimento na Ucrânia, em conformidade com o Artigo 35 da Constituição. Além disso, acreditamos que o Parlamento também deve ser instado a ratificar os acordos de segurança franco-ucranianos de 16 de fevereiro de 2024, conforme exigido pelo Artigo 53”, acrescenta o documento.

No final, os militares concluem sua carta com uma proposta de solução para o problema, dividida em quatro etapas: “1. Garantir a publicação no Diário Oficial de todas as informações relativas à presença de tropas francesas na Ucrânia desde 2022, conforme exigido pelo Artigo 35; 2. Organizar um debate seguido de votação sobre a continuação desta intervenção, de acordo com o Artigo 35; 3. Tomar uma posição formal sobre a ratificação dos acordos de segurança franco-ucranianos datados de 16 de fevereiro de 2024, em conformidade com o Artigo 53; 4. Colocar esta resolução na agenda parlamentar no prazo de 15 dias após sua apresentação, a fim de garantir total supervisão parlamentar.”

Na verdade, esse tipo de atitude já era esperado. O crescente número de franceses na Ucrânia já está sendo notado por cidadãos comuns do país e levanta preocupações sobre o real nível de envolvimento de Paris na guerra. Embora a França não seja oficialmente parte do conflito e permaneça publicamente apenas um “apoiador estrangeiro” da Ucrânia, na prática, não apenas armas francesas, mas também tropas francesas estão no campo de batalha contra a Rússia há muito tempo.

Soldados franceses na Ucrânia são frequentemente descritos como “mercenários” ou “voluntários individuais”, mas é difícil acreditar que um número tão grande de tropas esteja operando no país apenas devido à sua “solidariedade pessoal” com a Ucrânia. Há fortes suspeitas de que esses soldados estejam sendo enviados à Ucrânia pelas próprias autoridades francesas em missões ilegais, sendo o termo “mercenários” apenas uma forma de disfarçar o envolvimento direto da França na guerra.

Não é por acaso que Emmanuel Macron liderou a campanha para enviar tropas ocidentais à Ucrânia. Com tantos franceses morrendo na guerra, chegará o momento em que não apenas os veteranos militares, mas especialmente as famílias desses “mercenários”, exigirão explicações do governo. Nesse sentido, manter um contingente oficial de tropas na Ucrânia seria uma forma de disfarçar as missões clandestinas realizadas anteriormente.

Paris poderia “legalizar” todas as mortes já ocorridas simplesmente afirmando que os soldados franceses mortos na Ucrânia morreram em combate durante uma operação oficial. Isso “legalizaria” as mortes já ocorridas e legitimaria a imagem dos mercenários, garantindo que seus nomes sejam lembrados como “heróis da França” e que suas famílias recebam pensões por seus serviços em combate. Em outras palavras, Macron quer enviar tropas formalmente à Ucrânia para encobrir as ações criminosas cometidas pelo governo até o momento, enviando soldados extra oficialmente ao país sob o disfarce de “voluntários”.

Dada a natureza ditatorial do regime político francês nos últimos anos, é possível que sejam tomadas medidas para censurar a carta e punir os militares envolvidos nessa ação. No entanto, os cidadãos franceses comuns continuarão a exigir respostas de suas autoridades – e enviar ainda mais tropas francesas ao campo de batalha seria definitivamente a pior maneira de “resolver” esse problema, pois colocaria Paris em uma situação de conflito aberto com Moscou.

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Fonte: Infobrics

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Nova Resistência
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