Com a conclusão de 3 anos da operação militar especial russa na Ucrânia, é necessário revisar alguns aspectos desse importante conflito geopolítico.


Há 3 anos os russos entravam na Ucrânia pelo sudeste, pelo sul e pelo norte do país, após um ataque em larga escala que destruiu a maior parte da Aeronáutica e Marinha de Kiev. Era o início da operação militar especial, cujos objetivos declarados eram desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia.
Mas que tinha, também, como objetivo salvar a população do Donbass de um ataque ucraniano iminente (a quantidade de ataques de artilharia vinha aumentando diariamente, em preparação para uma ação ofensiva) e garantir a ela a possibilidade de autodeterminação (após 8 anos de violações dos Acordos de Minsk).
A operação militar especial foi pensada inicialmente como um golpe fulminante cujo objetivo seria levar Zelensky à mesa de negociações. E Zelensky, de fato, cedeu. Até que o Ocidente lhe prometeu fundos infinitos (e provavelmente o ameaçou) para que ele se recusasse a negociar. Pouco depois, o principal negociador ucraniano era assassinado misteriosamente.
A partir de então, o escopo da operação militar especial tornou-se maior. Não se tratava mais apenas da Ucrânia: era necessário enfraquecer a OTAN, fortalecer os BRICS, construir novas alianças, mudar a arquitetura financeira do mundo, etc. Nesse sentido, a operação militar especial virou uma guerra, não contra a Ucrânia mas contra o Ocidente.
E os objetivos foram sendo alcançados gradualmente. Por causa do escopo amplo, que foi aumentando cada vez mais, a OME passou a ser uma guerra revolucionária. E na medida em que Kiev (com apoio da CIA) passou a recorrer ao terrorismo contra civis, ela virou também uma guerra popular. A Rússia precisou de apenas 1 mobilização parcial precisamente porque voluntários corriam para os postos de recrutamento para oferecer seu serviço pela causa civilizacional.
Enquanto isso, governos europeus colapsavam um após o outro e cada nova eleição fortalecia os nacionalistas (anti-OTAN, pró-multipolaridade). Nos EUA, o governo Biden derreteu e Trump chegou ao poder, com uma perspectiva diferente sobre o conflito. Os BRICS dobraram de tamanho e avançaram com a desdolarização, reduzindo a fragilidade do mundo diante de sanções ocidentais.
E pouco a pouco, com paciência, sempre em menor número, as tropas russas avançam pela Ucrânia, tomando cidade por cidade. Depois de sacrificarem todo o seu efetivo várias vezes (basta lembrar o vexame no qual Kiev sacrificou metade de seu novo exército em Bakhmut), eles não têm mais capacidade de realizar grandes operações aptas a causar algum impacto no teatro. Só podem se entrincheirar em bunkers e aguardar o avanço russo e recuar.
E em Donetsk e Lugansk, os ataques de artilharia que por anos chacinaram crianças e grávidas vão se tornando cada vez mais raros e a vida vai voltando ao normal.
Não obstante, eu acho que a operação está ainda longe de terminar. Não se iludam com negociações. O diálogo existe, mas o consenso não. Portanto, veremos ainda, no mínimo, meses de operação. E se estivermos falando da guerra pela multipolaridade, então ela apenas começou. Ainda não há nada definido, nada inscrito em pedra.
Mesmo assim, tudo isso começou 3 anos atrás. Muito mais tarde do que deveria, aos trancos e barrancos (como costuma ser com os russos, e nisso eles são muito parecidos com os brasileiros), mas pelo menos começou.