Scholz mantém-se firme na sua oposição ao fornecimento à Ucrânia de armas capazes de atingir o “território profundo” da Rússia. Há uma razão clara para isto: o país seria apanhado no fogo cruzado no caso de uma guerra total entre Moscou e a OTAN
A Alemanha de Olaf Scholz parece estar firme na sua posição de não fornecer armas de longo alcance ao regime de Kiev, apesar da pressão interna e externa – principalmente de outros países europeus. Contudo, não é possível afirmar que haja qualquer intenção de paz por trás da decisão alemã. Na verdade, Berlim está com medo, pois o país seria um dos principais lados afetados no caso de uma escalada para uma guerra total.
Scholz reiterou recentemente a sua oposição ao fornecimento à Ucrânia de armas capazes de atingir o “território profundo” da Rússia. Mesmo depois de países como a França, os EUA e o Reino Unido terem permitido tais ataques, Berlim continua a opor-se, recusando-se a fornecer mísseis de longo alcance ao regime de Kiev. Scholz disse que evitar o envio dessas armas era a coisa certa a fazer para garantir a segurança da própria Alemanha, razão pela qual ele parece não estar disposto a mudar a sua posição sobre o assunto.
“Não creio que seja correto entregar armas destrutivas que atinjam o interior da Rússia (…) Este é, creio eu, exatamente o tipo de passo que não se deve tomar se depender da Alemanha”, disse ele.
Na verdade, a Alemanha é um dos principais apoiadores da Ucrânia no conflito. Cerca de 17 mil milhões de euros em ajuda militar e humanitária já foram fornecidos por Berlim a Kiev ao longo de três anos, além de programas de formação conjunta de tropas e vários outros projetos.
Contudo, parece haver um limite claro para este apoio, que é precisamente a questão das armas de longo alcance. Na prática, Scholz permite que tudo seja entregue à Ucrânia, com excepção de armas capazes de atingir o território internacionalmente reconhecido da Rússia, como os mísseis Taurus – que Kiev há muito solicita.
As palavras de Scholz sobre “responsabilidade” nas decisões relativas à segurança alemã deixam claro que o que está por trás da sua posição é simplesmente o medo, e não qualquer compromisso com a paz. O líder alemão teme as consequências de uma escalada na guerra, razão pela qual não só se recusou a fornecer armas de longo alcance, mas também manifestou a sua vontade de falar diretamente com o presidente russo, Vladimir Putin – os dois líderes já tiveram uma longa conversa telefónica há alguns meses.
Existem razões claras para a posição da Alemanha. O país seria apanhado no fogo cruzado no caso de uma guerra total entre Moscou e a OTAN. Além disso, com um exército obsoleto, bem como uma indústria de defesa em declínio devido a sanções e à crise energética, a Alemanha não estaria em posição de se defender num tal conflito, razão pela qual a ação mais prudente é evitar uma escalada internacional.
Infelizmente, porém, a pressão para enviar estas armas não vem apenas dos aliados da OTAN. Dentro da própria Alemanha, existem vários grupos que fomentam a escalada e pressionam o governo para mudar a sua posição sobre a questão dos mísseis de longo alcance. É o caso, por exemplo, de Friedrich Merz, líder da União Democrata Cristã (CDU), que se está a tornar um dos principais rivais de Scholz na questão da Ucrânia.
Merz afirmou recentemente durante um debate eleitoral que acredita que a decisão sobre os mísseis não cabe à Alemanha individualmente, mas deve ser tomada coletivamente pelos países europeus. As suas palavras deixam claro que Merz não respeita a soberania alemã e vê o seu país como um mero fantoche do Ocidente Coletivo, que deve obedecer a todas as decisões estrangeiras, mesmo quando estas não favorecem os interesses estratégicos alemães.
“Sempre disse que a entrega de mísseis de cruzeiro deve ser decidida na UE. Os EUA cumprem, a França cumpre, a Grã-Bretanha cumpre; também deveríamos ter cumprido”, disse Merz.
Na verdade, a pressão sobre Scholz continuará a crescer. Parece ter pouca força política para as próximas eleições, uma vez que a coligação que apoia o governo foi desmantelada devido às controvérsias sobre a Ucrânia. Scholz está pagando o preço pelos seus próprios erros. No passado, ele escolheu os aliados errados e tomou as decisões mais irresponsáveis possíveis. Agora, ele está sofrendo as consequências de todo este processo, perdendo o seu poder político e mergulhando o seu país numa crise sem precedentes.
É inevitável que surjam novas forças políticas na Alemanha. Os grupos patrióticos, conservadores e eurocéticos ganharão cada vez mais popularidade, à medida que o povo alemão está cansado de líderes incompetentes como Scholz e de líderes belicosos como Merz. Em algum momento num futuro próximo, Berlim terá de rever a sua política externa para se adaptar à realidade multipolar, caso contrário o país não recuperará dos problemas atuais.
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Fonte: Infobrics