Os Laços entre Israel e Hay’at Tahrir al-Sham

O Estado de Israel tem, segundo todos os indícios, apoiado o Tahrir al-Sham, organização que assumiu o poder em Damasco.

Em declarações à emissora pública israelense KAN, o especialista em Oriente Médio Mordechai Kedar transmitiu mensagens de “boa vontade” do HTS em relação a Israel. Kedar, ex-oficial da Inteligência Militar israelense, destacou que os militantes do HTS veem Israel “não como um problema, mas como uma solução”. Ele também afirmou: “Transmeti uma lista detalhada do equipamento solicitado pelo HTS aos funcionários de Tel Aviv”. Kedar acrescentou que mantém uma comunicação constante com “líderes de grupos de oposição sírios”.

O ex-oficial de inteligência compartilhou as palavras de um líder terrorista do HTS e de suas facções aliadas, afirmando que estão “dispostos a um acordo de paz com Israel”. No entanto, ressaltou que “para que isso aconteça, é necessário primeiro estabelecer o controle sobre a Síria e o Líbano”. Assim, esses grupos armados estão enviando mensagens a Tel Aviv relacionadas tanto ao Líbano quanto à Síria, baseadas em seus interesses e objetivos mútuos. Os comentários do HTS parecem ser uma proposta aberta de “vocês podem nos usar” direcionada a Tel Aviv. Isso está alinhado aos esforços de Israel para cortar a conexão do Irã com o Líbano através da Síria e eliminar a presença do Hezbollah no sul do Líbano.

Steven Cook, analista do Conselho de Relações Exteriores (CFR), destacou essa convergência ao afirmar: “Romper o eixo Irã-Síria e enfraquecer o fornecimento de armas ao Hezbollah certamente beneficiará a segurança de Israel”. Ele apontou que atingir esse objetivo parece ser uma das missões do HTS.

Inteligência israelense a Netanyahu: Os acontecimentos na Síria são “positivos”

O Times of Israel informou que os chefes das agências de inteligência israelenses relataram ao primeiro-ministro Netanyahu, qualificando como “positivos” os recentes acontecimentos na Síria. Segundo essas informações, os oficiais de segurança afirmaram ao Primeiro-Ministro: “A atenção do Hezbollah será deslocada para a Síria. (…) Esses acontecimentos aumentarão as chances de manter o cessar-fogo no Líbano e melhorarão nossas capacidades operacionais na Síria.”

Além disso, especialistas, incluindo analistas israelenses, concordam que Tel Aviv facilitou o trabalho do HTS bombardeando posições e depósitos de armas pertencentes ao Hezbollah, à Guarda Revolucionária Iraniana e a milícias locais na Síria. A portas fechadas, em Tel Aviv, foi convocada uma reunião sobre a Síria com a participação de Netanyahu e altos funcionários de segurança. O único detalhe vazado à imprensa foi a declaração de uma fonte: “Parece que há oportunidades de mudança aqui”.

A emissora pública israelense KAN realizou uma entrevista com um dos militantes envolvidos na ofensiva de Alepo. Suheil Hamoud, conhecido pelo apelido de “Abu Tow”, tentou tranquilizar o público israelense, declarando: “Minha mensagem é a seguinte: Não se preocupem com o Irã e o Hezbollah, porque já estamos lidando com eles. Meu irmão, você deveria temer Bashar al-Assad, o Irã e o Hezbollah, não a nós. Você conhece bem as políticas do Irã e de Assad, que são mais duras do que as dos islamistas”.

Vale lembrar que os militantes que participam da guerra civil síria nunca atacaram Israel ou os Estados Unidos. Abu Tow, aparentemente um ex-oficial sírio, luta há muito tempo ao lado de grupos radicais. Diz-se que seu apelido se deve à sua habilidade em operar o míssil antitanque guiado semiautomático BGM-71 TOW, desenvolvido pelos Estados Unidos.

O general de brigada israelense Dadi Samhi, também em declarações à KAN, afirmou que “as operações dos militantes na Síria que enfraquecem Damasco continuam sendo um fato positivo”.

Uma prova adicional do papel de Israel na dinâmica atual são as declarações do recém-nomeado Ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa’ar, que destacou a cooperação com os curdos separatistas em seu discurso inaugural. Da mesma forma, os bombardeios israelenses nas estradas que levam a Alepo, antes dos recentes ataques do HTS, junto aos benefícios que Tel Aviv obtém desses ataques, destacam o que se entende por “oportunidades de mudança”. Isso se refere ao plano de fundir as forças do PKK/YPG com o HTS para criar um corredor de terror no norte da Síria.

Analista israelense: Os últimos ataques aéreos de Israel permitiram a ofensiva do HTS

O analista militar Ron Ben-Yishai destacou que a ofensiva do HTS só foi possível graças aos recentes 70 ataques aéreos de Israel na Síria. Ele explicou: “Os repetidos ataques da Força Aérea israelense contra o exército sírio, a Guarda Revolucionária Iraniana, o Hezbollah e outras milícias aliviaram a pressão sobre os militantes no terreno e permitiram que organizassem seu assalto”.

Ben-Yishai apontou que esses ataques aéreos tiveram como objetivo não apenas as rotas de armas que conduzem ao Líbano, mas também depósitos e instalações pertencentes ao Hezbollah e outras milícias xiitas em toda a Síria. Ele escreveu: “Os constantes ataques de Israel permitiram que os rebeldes se reagrupassem”. Além disso, afirmou que a ofensiva teria implicações positivas para a segurança de Israel, ao enfraquecer tanto o Irã quanto o Hezbollah.

Daniel Rakov, pesquisador sênior do Instituto de Estratégia e Segurança de Jerusalém e tenente-coronel da reserva do exército israelense, também considerou a ofensiva do HTS em Alepo como uma “boa notícia”. Rakov escreveu no X: “A queda do norte da Síria nas mãos dos rebeldes prejudicará a infraestrutura do Irã e do Hezbollah na região”. Segundo Rakov, esse acontecimento “ampliará o espaço operacional de Israel na Síria”.

Fonte: United World International

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Yigit Saner
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