O partido Sonho Georgiano, hostil à União Europeia e à OTAN, venceu as eleições de forma avassaladora. Imediatamente, o Ocidente fez acusações de fraude e os ongueiros de sempre convocaram protestos.
Sem qualquer surpresa, as eleições georgianas em 26 de outubro resultaram na vitória avassaladora do partido “Sonho Georgiano”, liderado no pleito por Irakli Kobakhidze – atual primeiro-ministro. Eles receberam nessas eleições parlamentares 54% dos votos, com o 2º lugar, “Coalizão para a Mudança”, recebendo apenas 11% dos votos.
O fato de que o Sonho Georgiano recebeu aproximadamente 6% a mais de votos em comparação com as últimas eleições serve como confirmação de que o povo georgiano aprova o rumo assumido pelo atual governo do país, especialmente ao longo dos últimos 2 anos, que é: anti-UE, anti-Ocidente, anti-woke, antiguerra e antiliberalismo.
Os outros 4 partidos que conseguiram assentos no Parlamento, aliás, são quase idênticos. Todos eles são partidos liberais, com o “Coalizão para a Mudança” sendo “liberal de esquerda” e o “Unidade” sendo “liberal-conservador”. Mas são todos pró-UE, pró-Ocidente, russofóbicos e woke.
Se de fato é fundamental elogiar a legislação anti-ONG, aprovada recentemente pela Geórgia – bem como a posição de ceticismo pragmático em relação à narrativa pandêmica da OMS, para não falar na legislação de reforço da família tradicional e combate à ideologia de gênero – o grande feito do atual governo georgiano foi o de manter a Geórgia afastada do conflito entre Rússia e Ocidente.
E afastada em um sentido literal. Porque segundo o serviço secreto georgiano havia no início do ano uma operação para trazer explosivos da Ucrânia para a Geórgia, e da Geórgia para a Rússia para um atentado terrorista que vincularia Ucrânia e Geórgia aos olhos da Rússia e poderia levar à abertura de uma segunda frente de guerra… precisamente o que tem sido intencionado pelo Ocidente desde meados de 2022.
Na prática, considerando o passado conflituoso entre Geórgia e Rússia, bem como as reivindicações georgianas em relação à Ossétia e a Abecázia, muitos no Ocidente consideravam que pouca pressão seria necessária para convencer a Geórgia a entrar no conflito. De fato, o Primeiro-Ministro Kobakhidze revelou que ele foi pressionado a provocar militarmente a Rússia.
Mas a Geórgia não só se recusou a cair na loucura de uma aventura militar, ela se recusou a sancionar a Rússia e a ajudar militarmente a Ucrânia de qualquer maneira. Com isso, o governo georgiano salvou o país de uma tragédia sangrenta e o povo, agradecido, o recompensou com a manutenção do partido no poder.
Não seria a primeira vez que tentam usar os georgianos como bucha-de-canhão contra a Rússia. A guerra de 2008 pode ser resumida, precisamente, a uma tentativa de envolver a Rússia em um conflito custoso e de longo prazo no Cáucaso após uma revolução colorida que eventualmente levou o ongueiro Mikheil Saakashvili ao poder. Foi um conflito encomendado e o povo georgiano sofreu por isso.
O povo georgiano, porém, não parece disposto a cair nessa de novo e, por isso, deu a vitória ao único partido que tem como mantê-los fora de um novo conflito com a Rússia.
É por isso que, imediatamente e previsivelmente, a oposição acusou as eleições de fraudulentas e iniciou mobilizações de rua. Autoridades ocidentais, incluindo até mesmo Ursula von der Leyen (que nem mesmo foi eleita por quem quer que seja), ecoaram as acusações de fraude.
Mas Salome Zurabishvili, a cidadã francesa (!) e ex-funcionária do MRE francês que atua como presidente da Geórgia (obviamente uma ocidentalista) e iniciou as acusações de fraude, quando questionada por jornalistas disse que “não havia provas”, mas ela tinha uma “intuição” de que as eleições haviam sido fraudadas.
Rapidamente apareceram até ucranianos na praça principal de Tiblisi para participar dos protestos contra a democracia, mas alguns dias depois, esses protestos parecem incapazes de levar a cabo um golpe de Estado como o Euromaidan. Resultado benéfico da lei anti-ONG aprovada pela Geórgia?
De qualquer maneira, a percepção mais óbvia (mas nem um pouco nova) em relação ao caso, é de que a democracia é boa enquanto gera os resultados desejados pelo Ocidente. Do contrário, a democracia rapidamente vira “fascismo” e “interferência russa”.