Por que, realmente, os EUA permitiram a soltura de Julian Assange?
Julian Assange está livre, e não só isso: o jornalista poderá retornar à sua terra natal, na Austrália, após ter acabado de deixar Londres. Uma história com um final feliz? Nem tanto. Mas há, indubitavelmente, alguns elementos otimistas que transparecem.
Julian Assange livre, finalmente: mas o ponto obscuro permanece
Todos pensávamos que ele morreria em uma prisão americana, não adianta negar. Quem se apresenta como um novo gênio capaz de prever o cenário atual quase certamente estará mentindo. Em todo caso, a libertação de Assange é uma notícia impossível de ser subestimada, tanto pela sua amplitude quanto pelo seu significado cultural. O fundador do Wikileaks, como reporta a Ansa, na verdade fez um acordo com a Justiça americana, declarando-se culpado. O que não é exatamente uma boa notícia, considerando que o jornalista australiano apenas fez seu trabalho, mas o fez pisando nos calos dos interesses de Washington. Assim, ter que admitir “culpa” por uma questão relacionada ao seu trabalho é, sem dúvida, o ponto mais obscuro dessa lamentável história que se arrasta há anos.
Isso mantém viva, ainda que de maneira “leve”, a dominação política de Washington sobre a ética ocidental. O fato de Assange ter tido que de alguma forma obter uma espécie de “graça” ao se declarar como um criminoso não pode ser algo positivo. Nessa perspectiva, Washington está apresentando a questão como um ato de benevolência para com alguém que, ainda assim, seria considerado passível de perseguição. Sem mencionar as condições de saúde de Assange, sobre as quais ainda não temos nenhuma informação atualizada: como ele está, física e mentalmente, após cinco anos de detenção? Ele ainda será capaz de desempenhar seu trabalho?
Mas por que usamos o adjetivo “leve” ao definir a maneira como os americanos continuam a exercer seu monopólio de “justiça” na esfera ocidental?
Não terminou, mas significa algo
Apesar de tudo, ter que libertar Assange, ou pelo menos tornar possível essa operação, não é exatamente uma demonstração de força por parte dos americanos. Pelo contrário, expressa medo, por duas razões fundamentais. A primeira deriva da pressão exercida pelas sociedades ocidentais, apesar das rígidas diretrizes das agências americanas sobre a informação tanto na Europa quanto além-mar, sobre o dono do império yankee. Um domínio que, no entanto, é cada vez menos popular, tanto em casa quanto fora. Além disso, é claro e evidente que o “gesto de benevolência” de Joe Biden tem propósitos eleitorais: logo haverá eleições e nos EUA, especialmente os democratas, não querem passar a imagem de vilões cruéis. Assange livre é, em geral, uma boa notícia, mas a sensação – e somos irônicos ao descrevê-la dessa forma – é que isso está longe de ser o fim da história.
Fonte: Il Primato Nazionale