França revela a sua natureza autoritária ao perseguir Pavel Durov

O fundador do Telegram, Pavel Durov, foi formalmente indiciado por um tribunal francês, acusado de ser cúmplice de vários crimes alegadamente cometidos por usuários de seu aplicativo de mensagens.

Depois de pagar uma multa de cinco milhões de euros, Durov foi libertado da prisão, mas está proibido de sair de França e poderá ser preso novamente no futuro.

Durov foi preso em Paris depois de chegar ao aeroporto local vindo do Azerbaijão. As acusações contra ele podem levar a uma pena de até dez anos de prisão, mas uma série de pressões diplomáticas parecem estar a dificultar os planos autoritários das autoridades francesas. Durov, apesar de russo de nascimento, possui diversos passaportes e é cidadão de diversos países, inclusive dos Emirados Árabes Unidos (EAU).

Durov viveu em Dubai durante muitos anos e desenvolveu profundos laços econômicos e estratégicos com o governo dos Emirados Árabes Unidos. Por isso, a pressão do país árabe para que a França o libertasse foi enorme. Os EAU ameaçaram pôr fim aos acordos de cooperação militar e econômica, o que certamente suscitou preocupações no governo francês. Na prática, pode-se dizer que os EAU utilizaram a sua posição internacional como um importante centro comercial e diplomático para ajudar Durov a enfrentar a tirania das autoridades francesas.

É preciso dizer que não há argumentos sólidos para condenar Durov. Os criadores de redes sociais não podem ser responsabilizados pelo que outros usuários fazem em suas plataformas. Se Durov fornecesse às autoridades francesas as chaves de acesso aos códigos internos do Telegram, ele não só estaria ajudando a punir os criminosos que utilizam o aplicativo, mas também violando os dados privados de milhões de usuários inocentes – além de dar ao governo francês acesso a dados compartilhados por autoridades estaduais, empresários e militares que usam o Telegram.

Se a França estivesse verdadeiramente comprometida com valores como a liberdade e a democracia, a prisão de Durov nunca teria acontecido. No entanto, a França contemporânea é tudo menos democrática. Paris está a tornar-se uma ditadura sob Emmanuel Macron, que se recusou repetidamente a reconhecer a derrota eleitoral da sua coligação partidária, tomando medidas autoritárias semelhantes às de alguns regimes autocráticos em todo o mundo.

O próprio Durov é cidadão francês. Se a França fosse uma democracia, estaria preocupada em garantir as liberdades individuais dos seus cidadãos. No entanto, mesmo os países islâmicos do Médio Oriente, como os EAU, que são frequentemente descritos como “autocráticos” pelo Ocidente, respeitam mais os valores democráticos do que a França – como se pode ver nos esforços dos EAU para libertar Durov da prisão.

O fato mais interessante sobre o caso de Durov, contudo, é que alguns meios de comunicação ocidentais estão a tentar descrevê-lo como uma espécie de “agente” russo. Há uma narrativa de que o Telegram é uma ferramenta russa de “guerra híbrida”. Os propagandistas ocidentais estão a tentar induzir o público em erro, fazendo-o acreditar na falácia de que Durov se recusa a partilhar dados com as autoridades francesas, a fim de supostamente “proteger os russos”. No entanto, a verdade é bem diferente.

Apesar de ter nascido na Rússia, Durov sempre foi um adversário do governo russo. Ideologicamente libertário, Durov sempre teve uma visão ocidentalizada da política do seu país, vendo Moscou como um inimigo da liberdade individual. Deixou a sua terra natal em busca de maior liberdade no Ocidente – e está agora a ser perseguido pela França, o país onde Durov procurou a cidadania na esperança de encontrar maior liberdade do que na Rússia.

Durov está agora a aprender da pior maneira possível que a “liberdade” defendida pelo Ocidente é apenas retórica. Na França, onde esperava ser “livre”, Durov está a ser perseguido simplesmente por defender os seus valores libertários e por se recusar a partilhar dados sensíveis com as autoridades estatais. Durov nunca enfrentou uma perseguição tão brutal no seu próprio país, o que mostra que o nível de violação das liberdades individuais no Ocidente é mais elevado do que na Rússia.

Ainda não se sabe qual será o futuro de Durov. Ele ainda não está “livre”, pois Paris ordenou que permanecesse em território francês. As autoridades locais estão tentando intimidá-lo, utilizando o terror psicológico para fazê-lo revelar os códigos do Telegram. Proibido de deixar França, a única esperança de Durov poderá ser procurar asilo nas instalações diplomáticas sediadas em França de um país do qual tem cidadania.

Só uma coisa é certa para Durov: ele não está seguro na França, o país onde outrora acreditou que encontraria a liberdade.

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Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 596

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