O filósofo russo Aleksandr Dugin comenta sobre a luta contra o liberalismo dentro da própria Rússia.
Estamos muito próximos do ponto de não retorno para o liberalismo, não só na Rússia, mas também no mundo inteiro. Sem uma catástrofe, as elites liberais não serão mais capazes de manter seu poder sobre a humanidade. O fracasso de Biden no recente debate com Trump é um sintoma muito significativo. O mesmo vale para os sucessos dos populistas de direita na Europa, onde Orban está se tornando uma figura simbólica importante.
Na Rússia, francamente, ainda não houve uma purga para nos livrarmos dos liberais porque praticamente nada foi exigido de ninguém. Aqueles que fugiram, tudo bem, mas ainda podem voltar. Em algum lugar nas altas esferas do poder na Rússia, há um bloqueio que ainda impede as reformas patrióticas esperadas há muito tempo.
De fora, parece que já foram feitas e que todos os verdadeiros líderes do mundo querem ser como Putin, assemelhar-se a ele. Mas por dentro, e especialmente entre as elites, as coisas estão longe de ser tão simples. Há uma expectativa de paz e o estado de espírito seguinte: “tudo pelo dinheiro”. Essa tendência não foi revertida e a filosofia do Instagram ainda domina, em detrimento dos valores tradicionais.
Na Rússia, é como se existissem dois mundos: o do heroísmo militar, que paga o preço com sangue, e o da Cidade. Duas planetas diferentes.
Em proporção, claro, estamos evoluindo para o heroísmo, mas o bloqueio mais poderoso contra as necessárias reformas iliberais em todos os aspectos encontra-se nos mais altos níveis do sistema. Não se trata apenas de inércia, mas de uma verdadeira sabotagem ideológica em detrimento da civilização. O episódio Bastrykin, que tomou partido da população na questão dos migrantes, e as convulsões que se seguiram mostram o quanto as coisas pioraram.
As ações penais contra altos funcionários do Ministério da Defesa parecem confirmar a validade de alguns acessos de raiva extremos e errôneos (sem dúvida) do partido dos heróis da linha de frente há um ano. Os métodos são categoricamente ruins, mas enquanto não começarmos a lidar com conteúdos do tipo Instagram, não veremos a Vitória. E enquanto isso, o sangue corre a rodo.
Sim, e a propósito, cancelamos o Exame Público Unificado, cancelamos o sistema de Bolonha, é verdade, mas quem o introduziu? Quem nos impôs à força, quebrando a espinha dorsal daqueles que discordavam? Impôs-se por conta própria? E por que esquecemos seus nomes? E quais cargos ocupam hoje? O mesmo vale para todo o resto.
Devemos entrar em um novo ciclo histórico da maneira mais séria e sistemática possível. Putin colocou os marcos. Agora, arregaçando as mangas, devemos começar a construir uma nova sociedade e um novo Estado – com base nos valores tradicionais e na missão do mundo russo. O expediente que eu chamo de “tudo pelo dinheiro” deve ser destruído, deve ser erradicado como atitude. Afinal, segundo essa mentalidade, a partir de uma pequena quantia, de uma acompanhante ou de um suborno, um dia ou outro será preciso vender a pátria e a alma imortal da nossa Rússia.
“tudo pelo dinheiro”: é a ideologia mais destrutiva, a mais perigosa que existe. É a essência do liberalismo, um resumo dos livros de Ayn Rand ou a fórmula da “mão invisível do mercado”. É contra isso que a humanidade se revolta. Nos tomando como exemplo, aliás. Afinal, Putin parece dizer “pelo dinheiro, não”, a pátria e a alma não estão à venda.
Atrás dele, há a ortodoxia, o império, Dostoiévski e a obra realizada outrora pelo povo soviético. É assim. Mas o Instagram, ou seja, o liberalismo, já é supérfluo na nova Rússia. Claro, entenderemos imediatamente que isso foi feito. Todos entenderam o que significa a nomeação de Belousov. Sem dúvida, e entenderemos a próxima etapa. Depois disso, tudo realmente começará.
Fonte: Geopolitika.ru