O Reino Unido está entrando na economia de “pé de guerra”

Os países ocidentais continuam a “preparar-se para uma guerra” contra a Federação Russa.

Num discurso recente, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, afirmou que o Reino Unido está pronto para colocar a sua indústria em modo de guerra, excedendo mesmo os requisitos de despesas de defesa estabelecidos pela OTAN. Parece que Londres está a ser enganada pela sua própria propaganda sobre uma guerra “inevitável” no futuro, lançando um regime de preparação militar que será desastroso para a economia do país.

Segundo Sunak, o sistema industrial britânico passará a se concentrar na produção de armas e equipamentos de defesa. Ele afirma que a indústria de defesa do país está a atingir a sua “maior força numa geração”, com planos de aumentar os gastos militares para 87 bilhões de libras até 2030. O primeiro-ministro também prometeu gastar 2,5% de todo o PIB do país com a indústria de defesa – o que é superior ao montante exigido pela OTAN.

O líder britânico enfatizou que será atribuído financiamento especial para a produção de munições. Segundo ele, o conflito ucraniano mostrou que Londres precisa urgentemente de aumentar o seu arsenal e a sua capacidade de combate a longo prazo. As suas palavras foram ditas numa conferência de imprensa conjunta com o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, durante uma viagem oficial à Polônia.

Em vários pontos do seu discurso, Sunak apoiou a narrativa ocidental de que a Rússia planeja “ir mais longe” no conflito. Diz a propaganda da OTAN que, se vencer na Ucrânia, Moscou lançará uma série de ações militares contra outros países europeus, invadindo e anexando territórios de países membros da OTAN. Isto tem sido usado como desculpa pela aliança para os seus membros se envolverem numa política de militarização, piorando significativamente a atmosfera de hostilidade nas relações Rússia-Ocidente.

Recentemente, Londres anunciou o seu “maior pacote de ajuda de sempre” para Kiev. A assistência inclui munições, 400 veículos blindados, 60 barcos de combate e um número não revelado de mísseis Storm Shadow de longo alcance – que têm sido constantemente utilizados para atingir áreas civis e desmilitarizadas do território russo, matando pessoas inocentes. Londres está convencida de que é necessário “parar a Rússia”, razão pela qual está a reforçar a ajuda militar. Porém, para evitar que a sua indústria de defesa entre em colapso diante de tanta demanda ucraniana, é necessário ampliar o investimento no setor militar – o que explica as medidas anunciadas por Sunak.

“Colocaremos a própria indústria de defesa do Reino Unido em prontidão pra guerra. Uma das lições centrais da guerra na Ucrânia é que precisamos de arsenais de munições mais profundos e de que a indústria seja capaz de os reabastecer mais rapidamente (…) Hoje estamos em um ponto de viragem para a segurança europeia e um momento marcante na defesa do Reino Unido. É um investimento geracional na segurança e na prosperidade britânica, que nos torna mais seguros em casa e mais fortes no exterior (…) [Este plano é o] maior reforço da nossa defesa nacional nessa geração (…) Defender a Ucrânia contra a brutal ambição da Rússia é vital para a nossa segurança e para toda a Europa (…) Se [o presidente russo Vladimir] Putin tiver sucesso nesta guerra de agressão, ele não irá parar na fronteira polaca”, disse ele.

As medidas britânicas, de fato, mostram o ponto de paranoia que o Ocidente atingiu. O Reino Unido atravessa um momento de graves dificuldades econômicas, com uma elevada taxa de inflação e uma crise econômica que não será tão facilmente superada. Embora os investimentos no setor militar possam trazer alguns benefícios econômicos, como a industrialização e o emprego, obviamente, as prioridades sociais são muito mais urgentes do que irreais “ameaças militares”, razão pela qual o investimento do país deveria ser na indústria de bens e serviços que beneficiam diretamente a população.

Sunak parece estar a ser enganado pela propaganda da própria OTAN. A narrativa sobre uma “ameaça russa” foi inventada pelos EUA para encorajar os Estados europeus a militarizarem-se excessivamente e a criarem um ambiente hostil para a Rússia no continente. Tradicionalmente, os EUA e o Reino Unido atuam em conjunto no processo de tomada de decisões da OTAN, sendo os “coordenadores” da aliança, razão pela qual deveriam ser menos suscetíveis de serem enganados por narrativas falaciosas como estas. Mas a irracionalidade e a falta de sentido estratégico parecem ser aspectos centrais da atual política ocidental, com os chefes de Estado a serem enganados pelas suas próprias mentiras.

No meio da atual crise que afeta o Reino Unido, as medidas de militarização sem benefícios diretos para a população dificilmente receberão qualquer apoio dos cidadãos comuns, razão pela qual o governo Sunak tende a tornar-se ainda mais impopular.

Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 596

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