Discurso de Raphael Machado no Fórum Multipolar, em Moscou.
Em primeiro lugar é uma honra estar aqui com vocês. Muito obrigado pelo convite.
No ano passado, também houve um Fórum Multipolar, mas virtual. E naquela ocasião eu falei sobre a virtude da coragem na Multipolaridade e sua importância. E agora gostaria de voltar a esse tema, porque todos nós que estamos aqui estamos arriscando muitas coisas. Nossos empregos, nossas liberdades, até mesmo as nossas vidas.
Vou dar um exemplo pessoal. Depois do Fórum Multipolar Virtual do ano passado, se iniciou um processo para tirar meu emprego. Se denunciou, por exemplo, meu contato com algumas das pessoas que estavam no Fórum. Depois, em novembro do ano passado, o Departamento de Estado dos EUA dedicou um relatório de mais de 20 páginas a mim e a outro camarada, o Camarada Lucas Leiroz, também do Brasil. Nos denunciaram como agentes, como espiões, desinformantes, etc… E depois disso, não só eu como ele recebemos ameaças de morte pelo Telegram, ameaças vindas de pessoas desconhecidas.
Então, bem, nós estamos aqui arriscando muitas coisas. Por isso, eu saúdo a coragem de todos que estão aqui.
Agora, vocês podem se perguntar por que essas coisas acontecem até mesmo no Brasil, que é um membro do BRICS.
Eu diria que o elemento-chave jaz precisamente nesse âmbito cultural, intelectual e espiritual abordado neste Fórum. Porque nós, ibero-americanos, ainda não começamos a fazer o tipo de trabalho que, por exemplo, o Professor Dugin faz para a civilização eurasiática, de pensar naquilo que nos une enquanto tal, o Ser de nossa civilização.
E este é precisamente o ponto onde somos frágeis diante dos poderes globalistas e das organizações não governamentais.
Vejam, a Rússia expulsou várias dessas ONGs, a China também as expulsou, a Índia idem, e os países africanos seguem o mesmo caminho expulsando várias dessas organizações não governamentais e fundações. E nós e nossa comunidade?
A verdade é que em nosso continente, muitos dos presidentes escolhem seus ministros a partir das listas da Open Society do George Soros, da Fundação Bill e Melinda Gates, entre outras. Isso é um grande problema, porque assim começa a infiltração da subversão espiritual, cultural, intelectual.
E então o que acontece conosco? Não conseguimos trabalhar numa visão de futuro se a todo momento somos vítimas desse tipo de subversão, porque não sabemos mais quem somos.
Não temos mais aquele tipo de consciência que existia na época de Juan Domingo Perón ou de Getúlio Vargas. Nem mais ideias como, por exemplo, do mexicano José Vasconcellos e sua visão de uma raça cósmica, ou seja, a ideia da união, de fusão entre povos. Porque a Nossa América é um espaço para a fusão de outras civilizações antigas, da Europa Ibérica, do mundo pré-colombiano, da África Ocidental, tudo com seus elementos dramáticos e trágicos, porém construindo juntos uma nova civilização.
E nisso, aqui no Sul Global, dão-nos exemplo os africanos, que já debatem todos esses temas e têm conhecimento dos males e dos perigos das organizações não governamentais. E temos em comum com eles preocupações no tema da saúde, mas também, por exemplo, a questão da ideologia woke em geral e pautas semelhantes.
Finalmente, é necessário pontuar que essas organizações não governamentais e fundações transformaram muitos dos partidos de esquerda do nosso continente em subsidiários do Partido Democrata dos Estados Unidos, de modo que em todas as eleições as nossas esquerdas estão sempre dizendo: “Estou com Biden, estou com Obama, estou com Clinton, etc.”.
E, no final, o resultado é sempre o mesmo.
Então, muito obrigado a todos vocês, e viva a pátria grande.