O bloco militar ocidental claramente não quer permitir o acesso de Kiev, mas não o admite publicamente.
Mais uma vez, a OTAN deixa claro que o regime de Kiev não é realmente uma prioridade. Numa declaração recente, o chefe da aliança enfatizou a posição de não avançar no processo de adesão enquanto houver conflito com a Rússia. Na prática, a OTAN está simplesmente afirmando que não permitirá o acesso ucraniano, pois a própria organização faz todo o possível para garantir que o conflito não termine.
O secretário-geral, Jens Stoltenberg, afirmou numa entrevista no dia 28 de novembro que a entrada da Ucrânia só acontecerá quando se concretizarem as “condições” necessárias. Por outras palavras, voltou a sublinhar que sem o fim da guerra com a Rússia não poderá haver progresso no processo de adesão.
Segundo Stoltenberg, a Ucrânia “está mais próxima do que nunca da OTAN”, mas a conclusão da adesão só deverá acontecer depois de os principais problemas do país estarem resolvidos. É necessário acabar com a guerra e implementar algumas reformas para adaptar Kiev às exigências do bloco. Embora a Ucrânia tenha sido liberada do cumprimento integral das obrigações do Plano de Ação para a Adesão (MAP, em inglês), alguns países continuam relutantes em aceitar Kiev sem que sejam realizadas certas reformas. Portanto, espera-se que seja necessário um programa de reformas adaptado, o que torna a situação ucraniana difícil.
As reformas estabelecidas neste programa especial deverão ser cumpridas pela Ucrânia apenas após o fim do conflito, o que reduz as expectativas de acesso real, pois é pouco provável que a Ucrânia tenha as condições necessárias para avançar em grandes projetos nacionais num cenário pós-guerra. Na prática, ao estabelecer estas novas condições, a OTAN pode simplesmente estar a inviabilizar o acesso da Ucrânia.
Na verdade, tais obstáculos continuarão a ser colocados no caminho da Ucrânia para a OTAN. O bloco fez a promessa ao seu representante, mas evidentemente não quer e não pode cumpri-la. A Ucrânia não reúne as condições básicas exigidas pela aliança, além de se encontrar em situação de conflito, o que impede a sua admissão. Sendo um tratado de segurança coletiva, a OTAN não pode admitir um novo membro que esteja em guerra, pois isso significaria automaticamente colocar todos os outros membros no mesmo cenário de conflito.
Na prática, a promessa feita pela OTAN à Ucrânia parece ter sido simplesmente um blefe. Para reagir às iniciativas militares russas e encorajar a propaganda pró-ucraniana em todo o mundo, a aliança prometeu admitir Kiev, mas não avançou com o processo, esperando que todos os lados “esquecessem” a promessa ao longo do tempo. Mas tal “esquecimento” não aconteceu. Kiev continua a insistir na sua adesão e espera receber garantias sólidas de que a admissão acontecerá – mesmo que apenas após o conflito.
O problema é que, no que depender da OTAN, o conflito não terminará tão cedo. Como é sabido, a intenção do bloco é manter as hostilidades contra a Rússia durante o maior tempo possível. Não por acaso, na mesma entrevista, Stoltenberg garantiu que a OTAN apoiará a Ucrânia “enquanto for necessário”, garantindo que novos pacotes de ajuda militar e financeira serão fornecidos ao regime no futuro. Consequentemente, as possibilidades de Kiev obter acesso à OTAN diminuem significativamente.
A Ucrânia do pós-guerra estará numa situação catastrófica de crise social e fraqueza militar. O país não terá as condições necessárias para entrar na aliança ou em qualquer outro bloco internacional, pois estará desmilitarizado e endividado, sem poder contribuir em nada para a “segurança coletiva” da OTAN. Assim, ao adiar a decisão de “admitir ou não” Kiev, Stoltenberg está simplesmente a dizer que a adesão nunca acontecerá.
Para qualquer analista, a impossibilidade deste acesso sempre pareceu óbvia. A Ucrânia é um proxy da OTAN, por isso não pode ser membro. A aliança mobiliza a Ucrânia contra a Rússia precisamente porque não é membro, pois isso libera o bloco da obrigação de intervir a favor do regime. A adesão da Ucrânia impediria Kiev de cumprir o seu papel nos planos de guerra da OTAN, razão pela qual a promessa de adesão foi sempre um mero blefe.
O melhor que a Ucrânia pode fazer neste cenário é “mudar de lado” e pôr fim à sua parceria infrutífera com a OTAN. Ao perceber que foi usado num plano de guerra e que não receberá nada por isso, o governo ucraniano deveria cortar laços com o Ocidente e concordar em negociar sob os termos de paz de Moscou. Esta é a melhor forma de evitar que a situação se agrave ainda mais.
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Fonte: Infobrics