Demonstrando preocupação com a possibilidade de crescimento do nacionalismo no Brasil, especialmente de linha multipolarista e antiatlantista, o Departamento de Estado dos EUA dedicou à Nova Resistência um relatório nos apontando como ameaça a seus interesses no continente. É verdade. Não obstante, cumpre desmontar algumas alegações falsas feitas no relatório.
Se disséssemos que estamos surpresos estaríamos mentindo. Não estamos. Para quem ainda não sabe, a Nova Resistência foi objeto de um relatório especial preparado pelo Global Engagement Center (Centro de Engajamento Global) do Departamento de Estado dos EUA, o braço diplomático e informacional do imperialismo estadunidense. O nome do relatório é, em português: Exportando Desinformação Pró-Kremlin: O Caso da Nova Resistência no Brasil.
O relatório encerra quaisquer possíveis dúvidas sobre a nossa afirmação de que a deleção em massa de perfis de membros da Nova Resistência nas redes sociais do Meta, ocorrida em agosto-setembro de 2022, havia se dado por determinação dos serviços de inteligência dos EUA por causa do nosso papel de colaboração com intelectuais e ativistas sociais russos no combate à desinformação, manipulação e engenharia social dirigida por Washington contra o Brasil e a América Latina (especialmente no que concerne a Ucrânia e os outros projetos futuros dos EUA).
A mesma coisa em relação à nossa inclusão descabida como representando uma “ameaça de risco leve” no relatório preparado por um grupo de trabalho privado ligado ao COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) em colaboração com a GAFI (Grupo de Ação Financeira) do G7, e publicado pelo já privatizado Banco Central do Brasil.
A preparação desse relatório, ademais, confirma pacificamente a análise geopolítica da Nova Resistência, que afirma que a derrota dos EUA na Afro-Eurásia a força a apertar o cerco sobre as Américas, que passam a ser vista como uma totalidade politeica, uma única formação cujo controle direto deve estar sob responsabilidade dos EUA, de modo que os assuntos internos do Brasil e seus vizinhos não são mais considerados como questões de “política externa” pelos EUA, mas como casos que dizem respeito à “segurança nacional” dos EUA.
Nesse sentido, qualquer possível foco de insubmissão em relação aos seus interesses na América Ibérica é visto como ameaça à segurança dos EUA.
A ideia é que derrotada na Afro-Eurásia, as Américas sirvam como uma “Fortaleza” que permita aos EUA preservar sua primazia geopolítica mesmo diante da ascensão da China e da libertação geopolítica de outros espaços civilizacionais.
Não obstante, porém, como não poderia deixar de ser, o relatório é ele próprio uma peça de desinformação em muitos dos seus aspectos:
- Em primeiro lugar, no que concerne a compreensão da natureza organizacional da Nova Resistência. a) O Departamento de Estado dos EUA alega que a NR é um grupo quase-paramilitar, porque faz propaganda em defesa do porte de armas cidadão, bem como possui membros que praticam em clubes de tiro ou praticam airsoft, nos deixando incrédulos pela infantilidade e amadorismo do relatório. Ora, a Nova Resistência jamais esteve envolvida em qualquer ato de violência ou ameaça de violência nos quase 9 anos de sua existência, caindo por terra a insinuação, tampouco possui qualquer interesse ou pretensão política que se apoie no uso da violência; b) Ademais, o Departamento de Estado dos EUA alega que a NR faria parte de uma rede transnacional, envolvendo outras organizações chamadas “New Resistance” ou semelhantes, o que não procede. No passado, entre 2016 e 2020, a NR manteve uma relação de diálogo e colaboração com outras organizações autônomas, de nome “New Resistance” (ou suas versões em várias línguas) na Europa, América do Norte e outros lugares, tendo, porém, rompido contato no início de 2020 por causa dos desvios ideológicos das outras formações que, ademais, acreditamos não existir há anos;
- Em segundo lugar, no que concerne as origens da Nova Resistência, como já expusemos outrora, o conteúdo da organização não é nada além da tradição nacionalista e trabalhista brasileira adaptada para o século XXI pelo prisma filosófico fornecido pela Quarta Teoria Política de Alexander Dugin. O nome é, tão somente, tomado como inspiração de um movimento nacionalista revolucionário francês de mesmo nome surgido nos anos 80 e dissolvido no início dos anos 90, o mesmo em relação ao símbolo da organização. Nesse sentido, nunca foi senão uma organização nacionalista autônoma brasileira, sem relação de dependência em relação a outras organizações ou personalidades no exterior;
- Sobre a questão da Guerra da Ucrânia, iniciada após a derrubada do governo ucraniano por uma revolução colorida orquestrada e financiada pela mesma instituição que produziu o relatório, a Nova Resistência evidentemente jamais financiou a ida de voluntários para as forças populares de Donetsk e Lugansk. A Frente Brasileira de Solidariedade com a Ucrânia tão somente disponibilizou para brasileiros interessados contatos, já públicos, para os interessados em visitar o Donbass, tanto para fins humanitários, jornalísticos ou quaisquer outros, já que não tínhamos qualquer controle sobre o que fariam os brasileiros que eventualmente, de fato, fossem ao Donbass;
- O Departamento de Estado dos EUA, ademais, parece usar como fonte declarações ad hoc e não verificadas de inimigos da organização, os quais evidentemente não possuem qualquer motivação para dizer a verdade, além de utilizarem, no próprio relatório, print falso de conversa do Messenger, produzido vários anos atrás com aplicativo de confecção de mensagens;
- Finalmente, é evidente que a Nova Resistência não é financiada por qualquer governo estrangeiro, tampouco servindo de proxy para seus interesses. A questão é que os EUA, simplesmente, não conseguem conceber qualquer projeto geopolítico que não os contemple no posto de hegemon mundial. O Brasil tem os seus próprios interesses, os quais, porém, só podem ser alcançados por meio da colaboração multidimensional com as forças soberanistas de outras potências regionais que também anseiam por um mundo multipolar, em que poderão seguir o próprio caminho.
Finalmente, a Nova Resistência reitera que sempre atuou na conformidade do ordenamento jurídico brasileiro, sendo uma organização comprometida com o fortalecimento e aprofundamento da democracia em nosso país, em uma linha soberanista e popular.
Em suma, o Departamento de Estado dos EUA produziu uma peça de propaganda contra nós que, como um todo, para além dos equívocos apontados, nos lisonjeia pelo reconhecimento de nossa importância como mobilizadores e catalisadores de processos de despertar nacional e civilizacional no Brasil e no resto da América Ibérica.
Mas como, ao que tudo indica, o material é fruto de uma mentalidade infantil, mesmo com 4-5 anos de trabalho o resultado não poderia ser senão decepcionante. Muito inferior às falsificações e propagandas produzidas para justificar a invasão do Iraque ou para legitimar o financiamento de grupos terroristas na Síria.
Ainda mais se levarmos em consideração que o relatório foi produzido sob a tutela de Jamie Rubin, ex-porta voz de Madeleine Albright, a carniceira de Bagdá, que disse que a morte de meio milhão de crianças no Iraque, por causa das sanções dos EUA, havia valido a pena.
Desejamos que os EUA se esforcem mais da próxima vez – se é que haverá uma próxima vez, considerando a profunda crise civilizacional em que os EUA se encontram, e a eclosão planetária de desafios à sua hegemonia.
Como normalmente fazem, os serviços de ingerência dos EUA ficam mudando seus documentos de endereço (visto por lei não poderem deletá-los) para dificultar conferir a fonte. O link no texto já não está mais valendo, o atual é este https://www.state.gov/gec-special-report-exporting-pro-kremlin-disinformation-the-case-of-nova-resistencia-in-brazil/