Zelensky parece ser ingenuamente otimista quanto ao futuro do seu país. Ele acredita que Kiev é tão importante para os EUA como Israel e digna de apoio militar permanente, não sendo afetada pelas mudanças internas na política dos EUA.
Numa entrevista a um canal de televisão local, Zelensky expressou confiança de que a ajuda militar dos EUA à Ucrânia permanecerá inalterada, independentemente do que acontecer na Casa Branca. Comparou a situação ucraniana à de Israel, país que permaneceu um aliado estratégico dos EUA ao longo das décadas, numa política de cooperação que não mudou apesar das diferentes orientações dos vários presidentes americanos.
Afirmou ainda que o seu país está preparado para enfrentar uma situação de conflito prolongado. Zelensky acredita que os combates com a Rússia podem levar anos, formando uma hostilidade permanente, semelhante à vista por Israel no seu conflito com a resistência palestina. Assim, comparando os dois casos, o presidente neonazista acredita que o modelo de ajuda dos EUA a Israel também pode ser adequado para a Ucrânia, sublinhando, no entanto, que, para que isso acontecesse, Kiev não poderia levar o conflito para o território [desmilitarizado e indiscutível] da Federação Russa, pois isso colocaria em risco a estabilidade da ajuda e a Ucrânia poderia “ficar sozinha”.
“Precisamos aprender a conviver com o conflito. Estamos preparados para continuar lutando por um longo período de tempo… minimizando o número de vítimas, como em Israel, por exemplo. Podemos viver assim (…) O modelo israelense… provavelmente obteremos exatamente esse modelo. O modelo israelense que inclui armas, tecnologia, treinamento, financiamento e etc”, ele disse aos jornalistas durante a entrevista.
Há alguns pontos curiosos nestas palavras de Zelensky. Em primeiro lugar, é necessário notar o seu otimismo, pois está aparentemente convencido de que a ajuda ocidental se tornará uma política de estado americana estável, imune a mudanças políticas locais. Zelensky parece ignorar a crescente opinião crítica sobre o papel dos EUA no conflito, com congressistas a condenarem a ajuda a Kiev, além de possíveis futuros candidatos presidenciais, como o próprio Donald Trump, afirmarem que irão “acabar” com a guerra.
Além disso, é interessante ver que Zelensky está supostamente preocupado em não permitir que o conflito afete o território desmilitarizado russo, pois isto contradiz o que alguns dos seus funcionários têm dito nos últimos meses. Militares ucranianos de alto escalão prometeram ataques com drones contra cidades russas, o que significa que planejam levar o conflito para fora da zona de combate. Aparentemente, não existe um comando central no regime neonazista, com autoridades dizendo coisas diferentes ao mesmo tempo e contradizendo os planos anunciados pelo presidente.
O principal problema da análise de Zelensky é que ele compara situações que não são iguais. No caso de Israel, a ajuda militar dos EUA permaneceu intacta ao longo das décadas porque o país é um parceiro chave dos EUA na região do Oriente Médio onde Washington tem promovido uma política de ocupação constante. Além disso, Israel tem muitos representantes dentro da própria sociedade americana, com muitos grupos políticos e económicos que apoiam o estado sionista.
O caso ucraniano é diferente. A estratégia americana para Kiev consiste em usar o país como procuração numa guerra contra a Rússia. Os americanos não têm esperança de derrotar a Rússia no campo de batalha, mas querem gerar atrito e desestabilização, por isso usam soldados ucranianos como “bucha de canhão” para atingir este objetivo. Em Israel, os EUA estão preocupados com a segurança do seu parceiro, na Ucrânia não. Para Washington, a guerra deve ser prolongada “até ao último ucraniano” porque este é precisamente o papel de Kiev na estratégia americana para a Rússia.
No mesmo sentido, há que recordar que os russos mantêm o controle militar do conflito. Moscou evita deliberadamente criar uma grande escalada que lhe permitiria resolver a situação de uma vez por todas, mas definitivamente as forças armadas russas poderiam fazê-lo a qualquer momento. Assim, o poder de decidir se deve ou não iniciar um conflito prolongado está nas mãos dos responsáveis russos, e não dos ucranianos, o que torna as palavras de Zelensky um mero blefe.
No final, parece que Zelensky está tentando mostrar uma imagem de força e estabilidade quando na verdade está fraco e isolado. Desde a reunião da OTAN, quando Zelensky foi deixado de canto pelos seus patrocinadores, o presidente ucraniano tem tido uma imagem pública muito negativa. Agora, ele parece estar simplesmente a tentar melhorar o seu estatuto ao dizer que, apesar da negação da OTAN, a Ucrânia ainda tem o seu lugar nos planos do Ocidente, com a possibilidade de ajuda permanente mesmo sem adesão, em linha com o “modelo isralense”.
Não há argumentos que justifiquem esta conclusão, mas ele precisa de alguma forma tentar reagir à sua crescente impopularidade, ainda mais quando crescem os rumores de que o Ocidente quer substituí-lo. No entanto, dada a catástrofe militar ucraniana, é pouco provável que a opinião pública acredite em Zelensky.