Em meio à alta inflação crônica pela qual passa a economia argentina e à incapacidade das elites políticas em derrubá-la, surge um “outsider” na política argentina: Javier Milei, tendo como bandeira a dolarização da economia para combater a alta dos preços. Nosso economista, Deivid Jorge, fez uma interessante análise sobre o tema, confira.
Aprofundar a dolarização da economia argentina, como propõe Javier Mile, candidato à presidência do país, é uma insanidade. Existem vários pontos pelos quais expresso minha discordância a esta sugestão ‘draconiana’:
- O país perde seu poder de política monetária, ou seja, o controle da taxa de juros, e sua capacidade de política fiscal ao abrir mão de sua moeda, atualmente o peso argentino. Além disso, a dolarização aprofundaria a dependência da Argentina em relação aos Estados Unidos, deixando-a mais vulnerável a choques externos, já que a obtenção de dólares para transações internas e externas dependerá da exportação, de investimentos diretos (ou meramente especulativos) ou de empréstimos do FMI.
- Em um contexto de desdolarização global, a proposta de Milei é o caminho errado a ser trilhado. Muitos países têm adotado outras moedas para transações comerciais, tentando minar a hegemonia do dólar. Ademais, estudos já apontam a incapacidade do Banco Central argentino de resgatar todo o passivo circulante através da taxa de câmbio atual. Uma alternativa seria o sistema de câmbio múltiplo, permitindo que ambas as moedas (peso e dólar) circulassem no país. No entanto, essa opção poderia resultar em hiperinflação da moeda local, uma vez que a desconfiança no peso pode levar os cidadãos a preferirem transacionar em dólar.
- Além dos impactos que mencionei anteriormente, uma dolarização da economia argentina também poderia trazer outros problemas. Um desses problemas é a desestabilização do setor financeiro, uma vez que a adoção do dólar como moeda oficial pode levar a uma fuga em massa de depósitos em pesos, o que pode desestabilizar o sistema financeiro argentino. Isso pode ser particularmente preocupante em um momento em que a economia argentina já enfrenta uma alta inflação e instabilidade econômica.
- Outro problema é que a dolarização da economia argentina pode tornar os produtos e serviços produzidos no país menos competitivos. Isso ocorre porque, com a dolarização, as empresas argentinas precisariam pagar salários em dólares, o que pode acarretar em aumento de custos de produção e, consequentemente, de preços. Isso pode levar a uma perda de competitividade das empresas argentinas em relação a seus concorrentes internacionais.
- A dolarização também pode levar a um aumento da dívida externa da Argentina. Isso ocorre porque, com a adoção do dólar como moeda oficial, o país teria que emitir títulos denominados em dólares para financiar suas necessidades de gastos. Se a economia argentina enfrentar uma crise, pode ter dificuldades para pagar a dívida, o que pode resultar em um colapso financeiro.
- Por fim, a dolarização da economia argentina pode diminuir a soberania do país: com a adoção do dólar como moeda oficial, a Argentina perderia sua soberania monetária e ficaria sujeita às políticas econômicas dos Estados Unidos. Isso pode limitar a capacidade do país de implementar políticas econômicas que sejam mais apropriadas para suas necessidades internas e pode tornar a economia argentina mais vulnerável às mudanças nas políticas econômicas dos Estados Unidos.