O bilionário Bryan Johnson, de 45 anos, anunciou recentemente que ele está consumindo o sangue de seu filho de 17 anos, por meio de transfusões, para preservar a própria juventude.
Para além do nosso juízo sobre o homem em questão, essa pode ser uma poderosa metáfora para o capitalismo pós-moderno, em sua dimensão transumanista, bem como sobre a verdadeira natureza das elites mundiais.
Em relação ao cidadão em questão, Bryan Johnson é um bilionário do setor da tecnologia. A sua principal empresa é a Kernel, um empreendimento dedicado a registrar, gravar e decodificar a atividade cerebral. Um software recente lançado pela Kernel permite descobrir a música ou discurso/texto que uma pessoa está ouvindo a partir das variações em sua atividade cerebral.
Em outras palavras, ele pertence a esse setor da classe dominante dedicado à promoção da Inteligência Artificial e à superação tecnológica da humanidade como a conhecemos, tal como Elon Musk com seu Neuralink (que ele apresenta como “solução” para os perigos da IA desenfreada).
Esse transumanismo, que verdadeiramente pode ser considerado a essência da ideologia da classe dominante, ou seja, a sua face mais avançada, tem como uma de suas características essenciais o pavor da morte e a luta incessante por afastar o “mal” da morte.
Esse pavor da morte é fruto das raízes burguesas dessa ideologia. O camponês possui uma vida atrelada aos ciclos naturais. Ele, portanto, sabe que a morte é parte da Vida enquanto totalidade, ele a aceita como inevitabilidade e anseia pela recompensa do pós-vida. O aristocrata escolhe voluntariamente a morte pela honra, por Deus ou por alguma outra causa que o transcende e que é maior que a mera vida humana.
O burguês, porém, coloca o conforto em primeiro lugar. Ele vive apenas para si, para a satisfação do próprio desejo e para a maximização do próprio interesse. Em tal concepção de mundo não há lugar para a morte senão como absoluto mal. Não é por acaso que quanto mais aburguesado está um povo, menor a disposição daquele povo para arriscar a sua vida por sua Pátria.
Na pós-modernidade, esse pavor da morte atinge seu nível absoluto e o avançar da Técnica permite que efetivamente se possa tomar medidas para tentar esticar a vida individual (não elevar a sua qualidade ou intensidade, mas prolongá-la) de maneira artificiosa. Nesse contexto se encaixam também as tentativas de disfarçar a natural putrefação da carne humana por meio de procedimentos estéticos sem fim.
Essa é a motivação de homens como Bryan Johnson. Eles querem fugir definitivamente da Morte e, por isso, se despir de sua própria humanidade, o que é basicamente a mesma coisa. Afinal, o ser-para-a-morte é constitutivo da existência humana. Ser realmente humano é, entre outras coisas, ter como absoluta certeza a morte em seu horizonte derradeiro e essa certeza molda todos os outros aspectos do homem. Boa parte da cultura humana, de sua ordem social, de seus valores, gira ao redor da morte.
As mais nobres coisas já feitas por nossa espécie, os maiores feitos heroicos, só tiveram o seu sentido porque eles foram demarcados pela decisão que coloca algo acima da vida e, tomando a Morte nos braços, faz da própria vida um poema, eternizado no heroísmo, no autossacrifício, em alguma grande realização que se fixa nas eras.
Sem a Morte, portanto, o que resta senão meramente perdurar, sem risco, sem sacrifício, sem martírio, sem nobreza? É o equivalente antropológico, portanto, do Fim da História no que concerne o desenvolvimento das civilizações. É basicamente isso que o transumanismo busca. Afinal, recordemos que o livro de Fukuyama, na verdade, é “O Fim da História é o Último Homem”. É do “Último Homem” que estamos falando, sobre o qual Nietzsche também fez vários comentários depreciativos, com razão.
O Último Homem, o homem pós-humano, da vida sem Morte (e, portanto, sem Vida) está morto em vida. Ele é mera estática. Uma linha horizonta. Um zumbi.
Em tempo: que Bryan Johnson esteja esticando sua vida bebendo o sangue de seu próprio filho é a revelação final do satanismo das elites.