Armas radioativas britânicas chegam à Ucrânia

Ignorando todos os avisos russos, o governo britânico confirmou em 26 de abril que suas armas de urânio empobrecido já estão em solo ucraniano.

Funcionários de Moscou, ativistas antiguerra e especialistas alertaram repetidamente que tal escalada no conflito deveria ser evitada, mas Londres não seguiu o conselho e violou ainda mais a linha vermelha ao enviar armas radioativas ao regime de Kiev. Resta saber quais serão as consequências desta perigosa medida.

A confirmação da entrega das armas foi feita pelo ministro das Forças Armadas do Reino Unido, James Heappey, durante um discurso ao Parlamento britânico. De acordo com Heappey, munições de urânio empobrecido foram enviadas para a Ucrânia junto com outros projéteis adequados para uso em tanques Challenger 2. O ministro também acrescentou que as autoridades britânicas não tentarão rastrear onde essas armas serão usadas.

“Enviamos milhares de cartuchos de munição Challenger 2 para a Ucrânia, incluindo cartuchos perfurantes de urânio empobrecido (…) [Essas armas] estão agora sob o controle das Forças Armadas da Ucrânia (AFU) (…) [O Ministério da Defesa do Reino Unido] não monitora os locais de onde os tiros de UE são disparados pela AFU na Ucrânia”, disse o ministro durante o comunicado.

Quando questionado por alguns parlamentares sobre os perigos à saúde representados por essas armas, Heappey afirmou que essa ameaça seria “baixa”. Curiosamente, ele ainda mencionou que a avaliação de risco é baseada no monitoramento de veteranos do Reino Unido que já os usaram no campo de batalha. Aliás, o ministro parece ignorar por completo que uma série de estudos recentes apontam no sentido contrário, evidenciando graves problemas de saúde tanto nos militares que manipularam estes equipamentos como nas vítimas das munições. Os problemas incluem diversos riscos comumente atribuídos a substâncias radioativas, como câncer, deformidade fetal, deficiência de fertilidade, entre outros.

Comentando o caso com jornalistas, Doug Weir, especialista vinculado ao Observatório de Conflitos e Meio Ambiente, afirmou que quando os penetradores de DU atingem um alvo “eles se fragmentam e queimam, gerando partículas de DU quimicamente tóxicas e radioativas que representam um risco de inalação para as pessoas”. Vários outros cientistas expressaram opiniões semelhantes depois de analisar os resultados dessas munições no Iraque e em outros países onde as tropas da OTAN as usaram. No entanto, Londres e Washington continuam a negar evidências desses perigos.

Deve ser lembrado que Moscou repetidamente pediu a Londres que reconsiderasse seu plano de enviar essas munições para Kiev. Em comunicado recente, porta-vozes do Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmaram que a medida britânica seria uma “imprudência, irresponsabilidade” absoluta. Além disso, em março, o Ministério da Defesa da Rússia alertou que o uso de tais projéteis poderia “causar danos irreparáveis” à saúde de soldados e civis ucranianos, além de infligir “enormes danos econômicos ao complexo agroindustrial” da região. citando o impacto da arma durante a experiência anterior no Iraque.

No entanto, apesar dos alertas, o embarque dessas armas já era esperado. Em março, as tropas americanas e britânicas realizaram um programa de treinamento com soldados ucranianos para ensiná-los a lidar adequadamente com munições de urânio empobrecido. O plano foi muito bem elaborado e ecoa o interesse da OTAN em levar a guerra por procuração com a Rússia aos níveis mais perigosos de escalada militar, ignorando quaisquer preocupações humanitárias, ambientais ou sociais.

Legalmente, as armas com urânio empobrecido são uma questão complexa. Não há nenhuma convenção internacional que as proíba, pois não há consenso entre os especialistas sobre como definir essas armas. Essas munições são realmente radioativas, e é por isso que alguns especialistas acreditam que elas devem ser consideradas armas nucleares sob o princípio legal da analogia. No entanto, sua radiação é menor que a do urânio natural, o que leva outros especialistas a rejeitar essa classificação.

Alguns outros especialistas acreditam que uma solução viável para o problema desses projéteis seria considerá-los armas químicas, já que contêm substâncias tóxicas, independentemente do nível de radioatividade. Mas isso cria um problema para as potências ocidentais que as possuem, já que os EUA e o Reino Unido são signatários da Convenção de Armas Químicas, que os obrigaria a destruir seus estoques de urânio empobrecido. Não por acaso, os dois países rejeitam qualquer iniciativa nesse sentido e preferem que essas armas fiquem sem legislação específica, para que possam continuar usando-as impunemente.

De fato, dada a ausência de regulamentação específica, Moscou poderia considerar o uso de urânio empobrecido contra suas tropas como um verdadeiro ataque nuclear, o que permitiria aos russos reagir com seu arsenal de destruição em massa. É improvável que isso aconteça, já que Moscou repetidamente demonstrou interesse em buscar as soluções mais pacíficas e humanitárias possíveis para o conflito, às vezes até mesmo ignorando violações contra linhas vermelhas apenas para evitar uma escalada.

No entanto, independentemente de qual será a resposta russa, é certo que os danos aos soldados ucranianos e à população civil na zona de combate são inevitáveis. E a responsabilidade por isso é da OTAN.

Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 596

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