O jornalista Lucas Leiroz, secretário de relações internacionais da Nova Resistência, voltou a denunciar os ataques químicos ucraniano em uma grande organização internacional.
Um mês após apresentar um importante relatório sobre o tema na ONU, hoje o membro fundador da Nova Resistência foi convidado a comentar sobre o assunto na conferência “Torture and other crimes during the conflict in Ukraine. The role of the Media in normalizing ultraviolence”, evento da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
Leiroz também aproveitou a ocasião para alertar sobre os perigos do possível uso ocidental-ucraniano de urânio empobrecido no campo de batalha.
Abaixo, tradução e transcrição de seu discurso.
Prezados colegas e autoridades,
meus mais sinceros agradecimentos por esta oportunidade de expor meus pontos de vista nesta importante conferência.
Meu nome é Lucas Leiroz, sou jornalista e trabalho para veículos de mídia independentes russos e brasileiros. Também sou membro fundador da Nova Resistência, a primeira organização a abordar a questão ucraniana no Brasil, enviando voluntários para Donbass e cobrindo a guerra na mídia.
Falarei sobre um dos assuntos que venho relatando na mídia russa desde o início da operação militar especial para desnazificar a Ucrânia, que é o uso de armas químicas por Kiev.
No mês passado, tive a honra de mostrar um relatório semelhante sobre esse tópico durante uma conferência organizada pela Missão Russa em Genebra, paralelamente à 52ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Agora, agradeço aos meus amigos russos por me darem a oportunidade de relatar o assunto na OSCE.
Em meu relatório anterior, listei a maioria dos casos envolvendo ataques químicos contra tropas russas e civis em Donbass desde o início da guerra na Ucrânia, em 2014. Gostaria de relembrar todos esses casos para deixar claro aos nossos ouvintes a gravidade desse problema. No entanto, o tempo é curto para esse tipo de exposição, portanto, vou me concentrar em resumir o que já disse e analisá-lo do ponto de vista jurídico e humanitário.
Houve dois grandes momentos de ataques químicos de alta intensidade nas linhas de frente do Donbass. O primeiro momento foi entre 2014 e o início de 2015, no auge da guerra civil. Naquela época, as forças armadas ucranianas e suas milícias neonazistas aliadas lançaram todos os tipos de ataques contra cidadãos russos, incluindo ataques químicos brutais.
Ressalto que um caso particularmente curioso ocorreu em janeiro de 2015. Na época, o primeiro-ministro de Donetsk, Alexander Zakharchenko, denunciou que uma nuvem de gás tóxico havia se formado após a detonação de um estoque de munição das forças ucranianas capturado pelos rebeldes durante a batalha pelo aeroporto de Donetsk. Na ocasião, Zakharchenko comentou sobre a hipótese de que se tratava de armas proibidas, possivelmente fornecidas pelos EUA a Kiev.
O segundo momento de alta intensidade em ataques químicos, infelizmente, é o que estamos vivendo agora. Após o lançamento da operação militar especial russa, Kiev parece ter recebido uma espécie de carta branca do Ocidente Coletivo para cometer livremente todos os tipos de crimes de guerra. E não foi diferente com relação ao tema das armas químicas. Recentemente, houve uma onda de ataques químicos ucranianos contra as tropas russas.
A maioria dos casos documentados foi relatada na região de Donetsk, principalmente durante a atual batalha por Bakhmut-Artemovsk. Vídeos têm circulado nas mídias sociais mostrando soldados russos convulsionando, sangrando, vomitando e até morrendo devido à liberação de gás. Os casos quase sempre envolvem o uso de drones militares ucranianos que lançam granadas contendo agentes tóxicos.
Durante essa nova onda de ataques, as forças ucranianas praticamente admitiram o uso de tais armas ilegais, considerando que os canais de Telegram pró-ucranianos mostram constantemente armazéns militares contendo o que parecem ser armas químicas. Especialistas analisaram alguns vídeos desses canais e acreditam que algumas das granadas mostradas neles podem conter agentes tóxicos, considerando que a munição está sendo armazenada em baixa temperatura, um procedimento típico no manuseio de algumas armas químicas.
Além disso, é preciso lembrar que, em fevereiro, o departamento de proteção nuclear, biológica e química da Rússia alertou que armas químicas, possivelmente de fabricação ocidental, haviam sido desembarcadas em Kramatorsk. Há uma forte suspeita de que Kiev esteja planejando uma operação de bandeira falsa contra civis para culpar os russos. Desde então, as autoridades de Moscou reiteraram várias vezes a existência dessa ameaça, mas nada foi feito pela comunidade internacional para exigir explicações de Kiev e de seus patrocinadores.
Como sabemos, as armas químicas são proibidas pela legislação internacional. Na década de 1990, após várias tentativas fracassadas de negociar um acordo para acabar com a guerra química, a Convenção sobre Armas Químicas foi finalmente concluída, prevendo a eliminação de todas as armas químicas nos países signatários.
Também gostaria de mencionar outro tópico relacionado, que é a ameaça representada pelo urânio empobrecido. Como sabemos, Londres anunciou que enviaria munições contendo urânio empobrecido para o regime de Kiev. Moscou pediu que tal medida não fosse tomada, alertando inclusive sobre os riscos à saúde dos próprios soldados ucranianos, já que em experiências anteriores as tropas da OTAN relataram diversos problemas de intoxicação após manusearem tais armas no campo de batalha.
Mais do que isso, recentemente, autoridades polonesas informaram que planejam construir uma fábrica de munições de urânio empobrecido no país. O objetivo seria tornar o território polonês uma espécie de “centro de serviços” para as forças armadas americanas, o que incluiria a fabricação desse equipamento tóxico.
O caso do urânio empobrecido é particularmente complexo, pois esse tipo de arma não tem regulamentação própria. Não existe uma convenção internacional que as proíba, pois não há consenso entre os especialistas sobre como definir essas armas. Essas munições são radioativas e, por isso, alguns acreditam que elas deveriam ser consideradas armas nucleares. Entretanto, sua radiação é menor do que a do urânio natural, o que leva outros especialistas a rejeitar essa categoria.
Uma opção viável seria considerá-las armas químicas, mas isso forçaria as potências ocidentais signatárias da Convenção sobre Armas Químicas a bani-las, razão pela qual os países da OTAN rejeitam esse projeto. O ponto principal desta discussão é que, assim como as armas químicas convencionais, as munições de urânio empobrecido têm pouco valor militar, não são consideradas um “divisor de águas” para o país que as possui e, por outro lado, causam sérios danos à saúde humana e ao meio ambiente, o que deveria ser suficiente para que essas armas fossem banidas pelo princípio legal da proporcionalidade.
Por essas razões, reitero meus pedidos para que todos divulguem esses relatórios o máximo possível, na esperança de que, sob pressão da opinião pública, as autoridades dos países ocidentais e as organizações internacionais tomem medidas claras para evitar novos crimes com armas químicas e urânio empobrecido.
No mundo ocidental, a opinião pública não tem acesso a esse tipo de informação devido à forte censura imposta à mídia russa e pró-russa. E é exatamente por isso que vejo eventos como esta conferência como iniciativas muito importantes.
Agradeço aos colegas russos por darem voz ao jornalismo alternativo em eventos internacionais organizados tão importantes como os da ONU e OSCE. Que esse trabalho continue, até que os crimes ucranianos e ocidentais finalmente comecem a ser investigados e punidos adequadamente. Obrigado a todos vocês.
A transcrição original:
Dear colleagues and authorities,
my most sincere gratitude for this opportunity to show my views at this important conference.
My name is Lucas Leiroz, I am a journalist, working for Russian and Brazilian independent media outlets. I am also a founding member of Nova Resistência, the first organization to address the Ukrainian issue in Brazil, both by sending volunteers to Donbass and by covering the war in media.
I will talk about one of the subjects that I have been reporting in the Russian media since the beginning of the special military operation to de-Nazify Ukraine, which is the use of chemical weapons by Kiev.
Last month, I had the honor to show a similar report about this topic during a conference organized by the Russian Mission in Geneva on the sidelines of the 52nd Session of the UN Human Rights Council. Now, I thank my Russian friends for giving me the opportunity to report the topic at the OSCE.
In my previous report, I listed most of the cases involving chemical attacks against Russian troops and civilians in Donbass since the start the war in Ukraine, in 2014. I’d like to recall all these cases in order to make clear to our listeners the seriousness of this problem. However, time is short for this type of exposition, so I will focus on summarizing what I have already said and analyzing it from a legal and humanitarian point of view.
There were two great moments of high intensity chemical attacks on the Donbass frontlines. The first moment was between 2014 and early 2015, at the height of the civil war. At the time, the Ukrainian armed forces and their allied neo-Nazi militias launched all kinds of attacks against Russian citizens, including brutal chemical attacks.
I emphasize that a particularly curious case occurred in January 2015. At the time, Donetsk Prime Minister Alexander Zakharchenko denounced that a toxic gas cloud had formed after the detonation of a stockpile of ammunition of the Ukrainian forces captured by the rebels during the Battle for the Donetsk Airport. At the time, Zakharchenko commented on the hypothesis that these were banned weapons, possibly supplied by the US to Kiev.
The second moment of high intensity in chemical attacks, unfortunately, is what we are living now. After the launch of the Russian special military operation, Kiev seems to have received a kind of carte blanche from the Collective West to freely commit all sorts of war crimes. And it was no different on the topic of chemical weapons. Recently, there has been a wave of Ukrainian chemical attacks against Russian troops.
Most of the documented cases were reported in the Donetsk region, mainly during the current battle for Bakhmut-Artemovsk. Videos have been circulating on social media showing Russian soldiers convulsing, bleeding, vomiting and even dying due to gas release. Cases almost always involve the use of Ukrainian military drones launching grenades containing toxic agents.
During this new wave of attacks, the Ukrainian forces have virtually admitted the use of such illegal weapons, considering that constantly pro-Ukrainian telegram channels show military stores containing what seem to be chemical arms. Experts have analyzed some videos from these channels and believe that some of the grenades shown in them may contain toxic agents, considering that ammunition is being stored at low temperature, which is a typical procedure in the handling of some chemical weapons.
Furthermore, it should be remembered that in February Russia’s nuclear, biological and chemical protection department warned that chemical weapons, possibly of western manufacture, had been landed in Kramatorsk. There is strong suspicion that a false flag targeting civilians is being planned by Kiev to blame the Russians. Since then, Moscow’s authorities have reiterated the existence of this threat many times, but nothing has been done by the international community to demand explanations from Kiev and its sponsors.
As we know, chemical weapons are banned under international law. In the 1990s, after several failed attempts to negotiate an agreement to end chemical warfare, the Chemical Weapons Convention was finally completed, providing for the elimination of all chemical weapons in signatory countries.
Both Moscow and Kiev are signatories to the Convention. Interestingly, another country that signed the Convention failed to comply with the obligations established by it: the United States of America, which is currently the only country to publicly maintain stockpiles of chemical weapons. As well known, Washington is also the biggest arms supplier to the neo-Nazi regime in Kiev, spending billions of dollars since the start of the special military operation to keep Ukrainian troops active on the battlefield.
I would also like to mention another related topic, which is the threat posed by depleted uranium. As we know, London announced that it would be sending munitions containing depleted uranium to the Kiev regime. Moscow has asked that such a step not be taken, even warning of the risks to the health of Ukrainian soldiers themselves, since in previous experiences NATO troops have reported several problems of intoxication after handling such weapons on the battlefield.
More than that, recently, Polish officials reported that they plan to build a depleted uranium munitions factory in the country. The objective would be to make the Polish territory a kind of “service center” for the American armed forces, which would include the manufacture of this toxic equipment.
The case of depleted uranium is particularly complex as this type of weapon does not have its own regulation. There is no international convention banning them as there is no consensus among experts on how to define such weapons. These munitions are radioactive, which is why some believe they should be considered nuclear weapons. However, its radiation is lower than that of natural uranium, which leads other specialists to reject this category.
One feasible option would be to consider them chemical weapons, but this would force Western powers signatories to the Chemical Weapons Convention to ban them, which is why NATO states reject this project. The main point in this discussion is that just like conventional chemical weapons, depleted uranium munitions have little military value, are not considered a “game changer” for the possessing country, while, on the other hand, cause serious damage to human health and the environment, which should be enough for these weapons to be banned by the legal principle of proportionality.
For these reasons, I reiterate my requests for everyone to disseminate these reports as much as possible, in the hope that, under pressure from public opinion, the authorities of Western countries and international organizations take clear actions to avoid new crimes with chemical weapons and depleted uranium.
In the western world, public opinion does not have access to this type of information due to the strong censorship imposed on Russian and pro-Russian media. And that is precisely why I see events like this conference as very important initiatives.
Thanks to Russian colleagues for giving voice to alternative journalism in international events organized as important as the UN and the OSCE. May this work continue, until Ukrainian and Western crimes finally begin to be investigated and punished appropriately. Thank you all.