Como e o porquê dos EUA, tigres asiáticos e Europa passaram por crises econômicas fabricadas, as consequências do modelo de ‘Estados Unidos da Europa’ e por que Shinzo Abe e sua morte são um aspecto central dessa ideia.
Como já discutido em meu artigo “Is Japan Willing to Cut its Own Throat in Sacrifice to the U.S. Pivot to Asia?”, do qual este artigo é uma continuação, o Japão se tornou a bomba-relógio para a economia mundial.
Este não seria um resultado inesperado para o Japão, pois está em andamento nos últimos 50 anos como uma perspectiva política da comissão trilateral (embora não se limite a esta instituição). Na verdade, é a visão da Liga das Nações que está na lista de desejos daqueles que começaram a Primeira Guerra Mundial na esperança de que o mundo aceitasse um governo mundial. Foi o que orquestrou a grande depressão para tentar novamente a implementação de uma perspectiva da Liga das Nações por meio da ascensão de um tipo de fascismo “nacional-socialista” visto na Itália e na Alemanha (o que não teria sido possível sem uma crise econômica). E foi o que lançou uma Segunda Guerra Mundial em uma tentativa desesperada de implementar com força tal visão de mundo. (para mais informações, consulte https://cynthiachung.substack.com/p/a-crusade-for-pan-europe e https://canadianpatriot.org/2023/01/26/the-machiavellians-james-burnhams-fascist-italian-defenders-of-freedom/).
Sempre se tratou de criar uma Liga das Nações para o mundo e aqueles que se autodenominam democratas muitas vezes se encontram na mesma sala que aqueles que se autodenominam fascistas para apoiar essa ideia.
Como o conde Richard Coudenhove-Kalergi, o pai do pan-europeísmo (que por acaso também era pró-fascista), escreveu em sua autobiografia de 1943 “A Crusade for Pan-Europe”:
Os antifascistas odiavam Hitler, mas eles abriram o caminho para seu sucesso. Pois esses antifascistas conseguiram transformar Mussolini, o mais forte inimigo de Hitler durante os anos de 1933 e 1934, no mais forte aliado de Hitler. Não culpo os antifascistas italianos e espanhóis por sua luta corajosa e muito natural contra seus implacáveis inimigos políticos. Mas eu culpo os políticos democráticos, especialmente na França, eles trataram Mussolini como um aliado de Hitler até que ele se tornou um.”
De acordo com Kalergi, e muitas outras “elites” de pedigree semelhante, era inevitável que um domínio pan-europeu fascista ocorresse e Kalergi expressou seu claro desdém pela resistência antifascista e democrática a essa “inevitabilidade”. Do ponto de vista de Kalergi, por causa da resistência antifascista e democrática a uma transferência mais “pacífica” para o fascismo, eles criaram uma situação em que o fascismo teria de ser imposto a eles com força violenta. Foi uma tragédia aos olhos de Kalergi que poderia ter sido evitada se esses países tivessem simplesmente aceitado o fascismo em termos “democráticos”.
O conde Richard Coudenhove-Kalergi escreveria em sua outra autobiografia “An Idea Conquers the World”:
“O uso do hipnotismo em massa para fins de propaganda é mais bem-sucedido em tempos de crise. Quando o nacional-socialismo começou a crescer, milhões de alemães estavam completamente quebrados: as famílias de classe média haviam caído ao nível do proletariado, enquanto as famílias da classe trabalhadora estavam sem trabalho. O Terceiro Reich tornou-se a última esperança para os ferrados, para aqueles que perderam seu status social e para aqueles seres desenraizados que buscavam uma nova base para uma existência que havia se tornado sem sentido…
O pano de fundo econômico do movimento hitlerista fica claro quando se lembra que as duas revoluções de Hitler coincidiram com as duas grandes crises econômicas da Alemanha: a inflação de 1923 e a recessão do início dos anos 1930, com sua onda de desemprego. Durante os seis anos intermediários, que foram relativamente prósperos para a Alemanha, o movimento de Hitler foi praticamente inexistente.”
O pai do pan-europeísmo e pai espiritual da União Européia, conde Richard Coudenhove-Kalergi, frequentemente falava bem do fascismo austríaco e italiano e até mesmo do fascismo católico, e assim a citação acima assume outra camada de estranheza. Kalergi reconhece que a ascensão de Hitler não teria sido possível se não houvesse dois períodos de extrema crise econômica para a Alemanha. A questão é: essas crises foram orgânicas ou foram planejadas?
Na autobiografia de Kalergi, de 1954, ele escreve: “não há dúvida de que a popularidade de Hitler repousava principalmente na luta fanática que ele travou contra o Tratado de Versalhes”.
Se olharmos para o ecossistema político em que Kalergi estava navegando, obteremos algumas dicas para essa questão, que incluía homens como Max Warburg, Barão Louis Rothschild, Herbert Hoover, Secretário de Estado Frank Kellogg, Owen D. Young, Bernard Baruch, Walter Lippmann, Coronel House, General Tasker Bliss, Hamilton Fish Armstrong, Thomas Lamont, Juiz Hughes. Todos esses homens são nomeados por Kalergi diretamente como sua base de apoio nos Estados Unidos, em sua autobiografia. Eles apoiaram inflexivelmente o pan-europeísmo de Kalergi, também conhecido como “Estados Unidos da Europa”, foram firmes defensores da Liga das Nações e foram arquitetos da Conferência de Paz de Paris (1919-1920), responsável pelo Tratado de Versalhes, que lançou a Alemanha em sua primeira crise econômica.
Em meu artigo anterior, “Is Japan Willing to Cut its Own Throat in Sacrifice to the U.S. Pivot to Asia? Discuti como esse é o objetivo da comissão trilateral, criar crises econômicas para promover reformas estruturais extremas.
O analista financeiro e historiador Alex Krainer escreve:
“A comissão trilateral foi co-fundada em julho de 1973 por David Rockefeller, Zbigniew Brzezinski e um grupo de banqueiros, funcionários públicos e acadêmicos americanos, europeus e japoneses, incluindo Alan Greenspan e Paul Volcker. Foi criada para promover uma estreita cooperação entre as nações que constituíam a arquitetura de três blocos do atual império ocidental. Essa ‘estreita cooperação’ foi concebida como o próprio fundamento da ‘agenda de três blocos’ do império, conforme formulada pelos administradores do Império Britânico.”
Sua formação seria organizada pela mão da Grã-Bretanha na América, o Conselho de Relações Exteriores (CFR), ( a prole do Royal Institute for International Affairs, o principal think tank da Coroa Britânica).
Em 9 de novembro de 1978, o membro da comissão trilateral Paul Volcker (presidente do Federal Reserve de 1979-1987) afirmou em uma palestra proferida na Universidade de Warwick, na Inglaterra: “Uma desintegração controlada na economia mundial é um objetivo para a década de 1980”. Esta é também a ideologia que moldou a “terapia de choque” de Milton Friedman.
Em 1975, o CFR lançou um estudo público sobre políticas globais intitulado 1980’s Project. O tema geral era a “desintegração controlada” da economia mundial, e o relatório não tentava esconder a fome, o caos social e morte que sua política traria para a maior parte da população mundial.
É precisamente isso que o Japão tem passado e que o economista Richard Werner demonstrou no seu livro Princes of Yen, para o qual foi feito um documentário com o mesmo nome. Que a economia do Japão foi colocada em uma bolha fabricada para criar uma crise econômica que justificaria a necessidade de uma reforma estrutural extrema.
Discutiremos agora brevemente como os Estados Unidos, os tigres asiáticos e a Europa também passaram pelo mesmo processo de crises econômicas fabricadas e o que isso significa para o mundo hoje, qual foi a consequência para a Europa ao seguir um “Estados Unidos da Europa” e como o modelo de governo mundial único de uma Liga das Nações difere da estrutura multipolar composta por estados-nação ou civilizações soberanas. Concluirei este artigo com comentários sobre por que Shinzo Abe foi assassinado.
Colonialismo 2.0: a crise econômica dos tigres asiáticos
O Japão não foi a única economia de alto desempenho na Ásia que, na década de 1990, se viu na mais profunda recessão desde a Grande Depressão. Em 1997, as moedas das economias dos tigres asiáticos não podiam manter uma taxa de câmbio fixa com o dólar americano. Eles entraram em colapso com queda 60-80% em um ano.
As causas desse crash remontam a 1993. Neste ano, as economias dos tigres asiáticos, Coréia do Sul, Tailândia e Indonésia, implementaram uma política de desregulamentação agressiva de suas contas e maior liberdade para bancos internacionais, que permitiram os setores bancários a pegar emprestado do exterior, a primeira vez na era do pós-guerra que os tomadores de empréstimos poderiam fazê-lo. Na realidade, não havia necessidade de as economias dos tigres asiáticos tomarem dinheiro emprestado do exterior. Todo o dinheiro necessário para o investimento doméstico poderia ser criado em casa.
O documentário Princes of Yen comenta:
“Na verdade, a pressão para liberalizar os fluxos de capital veio de fora. Desde o início da década de 1990, o FMI, a OMC e o EUA vinham fazendo lobby nesses países para permitir que empresas domésticas tomassem empréstimos no exterior. Eles argumentaram que havia sido provado que o livre mercado e a livre movimentação de capitais aumentavam o crescimento econômico.
Uma vez que as contas bancárias foram desregulamentadas, os bancos centrais começaram a criar incentivos irresistíveis para as empresas domésticas tomarem empréstimos no exterior, tornando mais caro tomar empréstimos em suas próprias moedas domésticas do que em dólares americanos.
Os bancos centrais enfatizaram em suas declarações públicas que manteriam taxas de câmbio fixas com o dólar americano, para que os tomadores de empréstimos não precisassem se preocupar em pagar mais em suas moedas domésticas do que haviam originalmente emprestado. Os bancos foram obrigados a conceder mais empréstimos. Mas eles enfrentaram uma menor demanda por empréstimos dos setores produtivos da economia, porque essas empresas receberam incentivos para tomar empréstimos no exterior. Eles, portanto, tiveram que recorrer ao aumento de seus empréstimos a tomadores de empréstimos de alto risco.
As importações começaram a encolher, porque os bancos centrais concordaram em atrelar suas moedas ao dólar americano. As economias tornaram-se menos competitivas, mas o saldo em conta corrente foi mantido devido aos empréstimos emitidos no exterior, que contam como exportações nas estatísticas do balanço de pagamentos. Quando os especuladores começaram a vender o baht tailandês, o won coreano e a rupia indonésia, os respectivos bancos centrais responderam com tentativas inúteis de manter a paridade até terem esbanjado praticamente todas as suas reservas cambiais. Isso deu aos credores estrangeiros ampla oportunidade de retirar seu dinheiro com as taxas de câmbio supervalorizadas.
Os bancos centrais sabiam que, se os países ficassem sem reservas cambiais, teriam de recorrer ao FMI para evitar a inadimplência. E uma vez que o FMI entrou, os bancos centrais sabiam o que essa instituição com sede em Washington exigiria, pois suas exigências nesses casos haviam sido as mesmas nas três décadas anteriores: os bancos centrais se tornaram independentes [e subservientes ao FMI ].
No dia 16 de julho, o Ministro das Finanças tailandês pegou um avião para Tóquio para pedir ajuda ao Japão. Na época, o Japão tinha US$213 bilhões em reservas cambiais, mais do que o total de recursos do FMI. Eles estavam dispostos a ajudar, mas Washington interrompeu a iniciativa do Japão. Qualquer solução para a emergente crise asiática tinha que vir de Washington através do FMI.
Após dois meses de ataques especulativos, o governo tailandês lançou o baht.
Até o momento, o FMI tinha prometido quase US$120 bilhões para as economias em apuros da Tailândia, Indonésia e Coréia do Sul. Assim que chegaram aos países atingidos pela crise, as equipes do FMI montaram escritórios dentro dos bancos centrais, de onde ditavam o que equivalia aos termos de rendição. O FMI exigiu uma série de políticas, incluindo restrições ao banco central e à criação de crédito bancário, grandes mudanças legais e aumentos acentuados nas taxas de juros. À medida que as taxas de juros subiam, tomadores de empréstimos de alto risco começaram a deixar de pagar seus empréstimos.
Sobrecarregados com grandes quantidades de dívidas incobráveis, os sistemas bancários da Tailândia, Coréia e Indonésia estavam praticamente falidos. Até mesmo empresas saudáveis economicamente começaram a sofrer com a crise de crédito cada vez maior. Falências corporativas dispararam. O desemprego atingiu os níveis mais altos desde a década de 1930.”
O FMI sabia muito bem quais seriam as consequências de suas políticas. No caso coreano, eles até prepararam estudos detalhados, mas não divulgados, que calcularam quantas empresas coreanas iriam à falência se as taxas de juros subissem cinco pontos percentuais. O primeiro acordo do FMI com a Coréia do Sul exigia um aumento de exatamente cinco pontos percentuais nas taxas de juros.
Richard Werner declarou em uma entrevista: “As políticas do FMI claramente não visam criar recuperações econômicas nos países asiáticos. Eles perseguem uma agenda bem diferente, que é mudar os sistemas econômicos, políticos e sociais desses países. Na verdade, os acordos com o FMI impedem que os países alvo, como Coréia e Tailândia, tenham uma recuperação efetiva”.
Entrevistador: “Interessante. Então você está dizendo que oque eles fazem piora a crise e está sugerindo que o FMI tem uma agenda oculta?
Richard Werner respondeu: “Bem, esta agenda não está muito oculta porque o FMI exige claramente que os países asiáticos em questão mudem as leis para que os interesses estrangeiros possam comprar qualquer coisa, de bancos a terras. E, de fato, os sistemas bancários só podem ser recapitalizados, de acordo com os acordos do FMI, usando dinheiro estrangeiro que não é necessário, porque enquanto esses países tiverem bancos centrais, eles poderiam apenas imprimir dinheiro e recapitalizar os sistemas bancários. Você não precisa de dinheiro estrangeiro para isso. Portanto, a agenda é claramente abrir a Ásia para interesses estrangeiros”.
O FMI exigiu que os bancos com problemas não fossem socorridos, mas, em vez disso, fechados e vendidos a baixo custo como ativos em dificuldades, muitas vezes para grandes bancos de investimento dos EUA. Na maioria dos casos,os ditames pelo FMI declaravam explicitamente que os bancos deveriam ser vendidos a investidores estrangeiros.
Na Ásia, resgates organizados pelo governo para manter vivas as instituições financeiras em dificuldades não eram permitidos. Mas quando uma crise semelhante atingiu a América um ano depois, as mesmas instituições reagiram de maneira diferente.
O documentário Princes of Yen comenta:
“O fundo de hedge Long-Term Capital Management, com sede em Connecticut, que aceitava como clientes apenas investidores e instituições individuais de alto patrimônio líquido, alavancou seus US$ 5 bilhões em capital de clientes, em mais de 25 vezes, tomando emprestado mais de US$ 100 bilhões de bancos do mundo. Quando suas perdas ameaçaram minar os bancos que lhe emprestaram, com a possibilidade de uma crise bancária sistêmica que colocaria em risco o sistema financeiro e a economia dos EUA, o Federal Reserve organizou um resgate semelhante a um cartel, apoiando-se em Wall Street e nos bancos internacionais para aportar fundos para evitar a inadimplência.
Por que os Estados Unidos fariam exigências a nações estrangeiras em nome do livre mercado, quando não tem intenção de impor as mesmas regras dentro de suas próprias fronteiras?
Os exemplos das crises japonesa e asiática ilustram como as crises podem ser engendradas para facilitar a redistribuição de propriedades e para implementar mudanças legais, estruturais e políticas.”
A razão pela qual os bancos asiáticos foram proibidos de serem salvos foi para que pudesse haver uma compra estrangeira dessas economias asiáticas. Quem precisava da British East-India quando agora você tinha o FMI garantindo os objetivos coloniais do Império?
Agenda “não tão oculta” do FMI e da comissão trilateral
O FMI claramente está de olho em uma aquisição bancária ocidental da Ásia, mas qual era a “agenda” para a Europa e os Estados Unidos que estavam localizados dentro dessa esfera de influência? Estariam eles destinados a se beneficiar dos saques do Império?
A resposta curta para isso, que já deve estar evidente, é não.
As crises fabricadas nos Estados Unidos e na Europa foram para centralizar ainda mais o poder entre um grupo cada vez menor e claramente não para o benefício do povo, ou digamos súditos, que vivem nessas regiões.
A Europa fez muito por si mesma devido à sua adesão a uma visão dos “Estados Unidos da Europa”. Os países do bloco do euro perderam seu direito a uma moeda nacional e entregaram esse poder ao Banco Central Europeu (BCE), o mais poderoso e secreto de todos os bancos centrais.
Sob tal sistema, nenhum país europeu tem controle sobre sua própria economia e está completamente exposto a qualquer decisão do BCE.
Richard Werner observou: “Eles [BCE] precisam se concentrar mais na criação de crédito do que nas taxas de juros. O BCE tem muito a aprender com seus erros do passado, porque basicamente não acho que realmente tenha observado a criação de crédito com atenção suficiente. Onde na Espanha, na Irlanda, tivemos uma expansão massiva do crédito, sob a supervisão do BCE, as taxas de juros são obviamente as mesmas na zona do euro, mas a quantidade do ciclo de crédito é muito diferente. Existe uma taxa de juros para toda a zona do euro, mas em 2002 o BCE disse ao Bundesbank [banco central da Alemanha] para reduzir sua criação de crédito pela maior quantia em sua história e disse ao banco central irlandês para imprimir tanto dinheiro como se não houvesse amanhã. O que você espera que aconteça? Crescimento? Não. Recessão na Alemanha, boom na Irlanda.
A partir de 2004, sob a supervisão do BCE, o crescimento do crédito bancário na Irlanda, Grécia, Portugal e Espanha aumentou mais de 20% ao ano e os preços dos imóveis dispararam. Quando o crédito bancário caiu, os preços dos imóveis desabaram, os desenvolvedores faliram e os sistemas bancários da Irlanda, Portugal, Espanha e Grécia se tornaram quebrados.”
O documentário Princes of Yen comenta:
“O BCE poderia ter evitado essas bolhas, assim como poderia ter encerrado as crises bancárias e econômicas que se seguiram. Mas recusou-se a fazê-lo até que grandes concessões políticas fossem feitas, como a transferência de poderes fiscais e orçamentários de cada estado soberano para a União Européia.
Tanto na Espanha quanto na Grécia, o desemprego juvenil aumentou para 50%, forçando muitos jovens a procurar emprego no exterior. As deliberações dos órgãos de decisão do BCE são secretas. A mera tentativa de influenciar o BCE, por exemplo através de debate e discussão democrática, é proibida de acordo com o Tratado de Maastricht.
O BCE é uma organização internacional que está acima e fora das leis das jurisdições de qualquer nação individual. Seus altos funcionários possuem passaportes diplomáticos e os arquivos e documentos dentro do Banco Central Europeu não podem ser revistados ou apreendidos por qualquer força policial ou promotor público.
A Comissão Europeia, um grupo não eleito cujo objetivo é construir um “Estados Unidos da Europa”, com todas as armadilhas de um estado unificado, tem interesse em enfraquecer os governos soberanos e a influência dos parlamentos democráticos da Europa.”
As Raízes Fascistas dos “Estados Unidos da Europa
Em 15 de fevereiro de 1930, Churchill publicou no The Saturday Evening um artigo intitulado “The United States of Europe”, onde escreveu:
“…A ressurreição da ideia pan-europeia é amplamente identificada com o Conde Coudenhove-Kalergi, a Liga das Nações, da qual os Estados Unidos tão imprudentemente considerando seus vastos e crescentes interesses se ausentaram, tornou-se forçosamente de fato, se não em forma, principalmente uma instituição europeia. O conde Coudenhove-Kalergi propõe concentrar as forças, os interesses e os sentimentos europeus em um único ramo que, se crescesse, se tornaria o próprio tronco e assim adquiriria uma predominância óbvia. Pois pense em quão poderosa é a Europa. Que a Rússia recue, como propõe o Conde Kalergi, e como já é amplamente um fato, para a Ásia. Deixe o Império Britânico, realizar seu próprio ideal de dominação mundial, mesmo assim, a massa da Europa, uma vez unida, uma vez federalizada ou parcialmente federalizada, uma vez autoconsciente continentalmente Europa, com suas possessões africanas e asiáticas , constituiria um organismo sem comparação”.
Em “An Idea Conquers the World”, do conde Richard Coudenhove-Kalergi, ele escreve:
“Descobri, para minha surpresa, que o sentimento da consciência europeia se manifestou pela primeira vez durante as Cruzadas. Após a queda do Império Romano, as Cruzadas representaram a demonstração mais vigorosa da solidariedade europeia. Por um tempo, as rixas entre reis, príncipes e cidades foram submersas em uma causa comum. Finalmente, em 1834, Mazzini fundou a Young Europe, um movimento destinado a coordenar todos os movimentos revolucionários existentes com o objetivo de construir uma Europa nova e unida em uma base do nacionalismo e da democracia”.
Em sua autobiografia de 1943, Kalergi expande ainda mais seu tema do cruzados em relação a Pan-Europa:
“Escolhi o sinal da cruz vermelha sobreposta a um sol dourado como emblema do nosso movimento. A cruz vermelha, que havia sido a bandeira dos cruzados medievais, parecia o mais antigo símbolo conhecido da fraternidade européia supranacional. Em tempos mais recentes, também ganhou reconhecimento como um símbolo do trabalho humanitário internacional. O sol foi escolhido para representar as conquistas da cultura europeia em ajudar a iluminar o mundo. Assim, helenismo e cristianismo – a cruz de Cristo e o sol de Apolo – figuraram lado a lado como os pilares gêmeos duradouros da civilização européia”.
Esta ideia de um “Estados Unidos da Europa”, a visão “Pan-Européia” de Kalergi foi um jogo de palavras inteligente e desonesto. Os Estados Unidos existiam originalmente na forma de 13 colônias em dívida com o Império Britânico. No entanto, quando os Estados Unidos quiseram a independência do Império Britânico, organizando-se em um estado-nação soberano, os pais fundadores unificaram a nova república em torno de um sistema bancário hamiltoniano. Essa inovação na economia política converteu as dívidas impagáveis em um novo sistema de crédito federal, decretou o protecionismo federal para favorecer o crescimento industrial local e direcionou os bancos para investimentos que melhoraram o estado de bem estar social.
Assim, os Estados Unidos conseguiram formar uma moeda e um banco nacional para facilitar o comércio que sustentava a soberania econômica da nação recém-criada.
Essa organização econômica hamiltoniana, por sua vez, influenciou o “The National System of Political Economy” do economista alemão Friedrich List, que levou ao Zollverein. A Alemanha na época também estava dividida em regiões como os Estados Unidos (a Alemanha nunca havia sido realmente um país até este ponto) e o Zollverein permitiu que a Alemanha começasse a se estabelecer como um estado-nação soberano pela primeira vez na história. Friedrich List referiu-se diretamente ao sistema econômico hamiltoniano como sua inspiração para a Alemanha. Este sistema também influenciou Sun Yat-sen, o pai da República da China, em seu “Os Três Princípios do Povo”, que era uma referência direta ao programa econômico de Lincoln/Henry C. Carey, que era uma continuação dos princípios econômicos de Alexander Hamilton. Isso também foi revivido na forma de economistas americanos pró-Lincoln no Japão, que ajudaram a organizar o programa de crescimento industrial iniciado com a Restauração Meiji.
É nisso que configura o quadro multipolar, a defesa e o crescimento dos Estados-nação soberanos. Existe cooperação regional. Você precisa de cooperação regional para grandes projetos de infraestrutura, como a ferrovia, que envolverá inúmeras nações. Mas a cooperação regional não deve ser confundida com uma visão como da Liga das Nações e podemos facilmente perceber a diferença entre as duas em termos do que realmente está sendo proposto política e economicamente. Em um futuro próximo, escreverei um artigo para abordar esse assunto mais diretamente, mas, por enquanto, indicaria o leitor aqui para saber mais sobre isso.
No caso da visão da Liga das Nações, Pan-Europa, Estados Unidos da Europa etc., foi exatamente o oposto. Era para tirar o poder da estrutura do estado-nação soberano e transformar as nações em estados vassalos subservientes aos sistemas de império. Ou seja, os “Estados Unidos da Europa” eram uma referência desonesta e enganosa às 13 colônias americanas originais. Foi desonesto porque, em vez de promover mais soberania econômica nacional, esperava-se que as nações dentro da Europa removessem sua soberania e ficassem sujeitas a um controle centralizado por meio de uma União Européia (poder político centralizado), Banco Central Europeu (poder econômico centralizado) e OTAN (poder militar centralizado). Nenhum país da Europa teria controle sobre seu destino político, econômico ou militar dentro de tal estrangulamento.
Para que a visão da Liga das Nações assumisse o controle, os Estados-nação soberanos teriam que ser desmantelados. Para saber mais sobre esta história, consulte meu livro “The Empire on which the Black Sun Never Set”.
O que as crises econômicas americana e européia nos ensinaram é que o contribuinte será obrigado a pagar pela crescente centralização do que antes eram economias soberanas, a fim de capacitar um grupo muito pequeno de pessoas, enquanto os direitos e bem-estar dos cidadãos comuns são cada vez mais vistos como irrelevantes.
Por que Shinzo Abe foi assassinado
O ex-primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe foi assassinado em 8 de julho de 2022 e, embora não estivesse mais no cargo de primeiro-ministro do Japão na época de seu assassinato (tendo servido de 2006-2007 e 2012- 16 de setembro de 2020), ele era o primeiro-ministro mais antigo da história japonesa e continuou a exercer grande influência na formulação de políticas no Japão.
A notícia do assassinato de Abe foi recebida em todo o mundo com uma mistura de emoções muito fortes de ambos os extremos. Alguns ficaram horrorizados com sua morte e elogiaram o que ele havia feito pelo Japão como algo quase santo. Outros comemoraram em êxtase sua morte, pensando que nada de bom poderia vir dele devido às suas tentativas de reviver o lado negro do passado imperial do Japão e suas exibições públicas de homenagem aos fascistas japoneses da Segunda Guerra Mundial. Quando as notícias ainda estavam frescas e o frenesi da confusão estava no auge, muitos até culparam a China pela orquestração da morte de Abe, pensando que eram claramente os únicos a se beneficiar de tal ato.
É verdade que Abe tinha uma missão muito perigosa e destrutiva para restaurar o Japão ao seu status de império imperialista. Ele era um insider corrupto que pressionou pela perigosa privatização do governo japonês e aumentou a distância entre os cidadãos ricos e os de classe média. No entanto, também é simplista demais para celebrar sua morte como um triunfo absoluto. Como podemos ver claramente sete meses após o assassinato de Abe, o Japão não se tornou mais pacífico e pronto para o diálogo com seus parceiros orientais, mas tornou-se muito mais belicoso e firme em sua cooperação com as demandas ocidentais cada vez mais frenéticas pela guerra. O Japão também interrompeu bastante o movimento em direção a uma maior cooperação econômica e política com a Rússia e a China, que ainda estava avançando quando Abe estava vivo.
Também é interessante notar que Abe foi assassinado semanas antes da Circus Tour de Pelosi para Taiwan. Embora a provocação de Pelosi não tenha chegado a nenhum confronto militar, não podemos dizer que não era essa a sua intenção, nem que as coisas pudessem ter acontecido de forma muito diferente em termos de um confronto militar entre a China e os Estados Unidos.
O leitor deve ser lembrado que em 2014, o Japão mudou ou “reinterpretou” sua constituição que deu mais poderes às Forças de Autodefesa do Japão, permitindo-lhes “defender outros aliados” em caso de guerra declarada contra eles. Os Estados Unidos, é claro, apoiaram totalmente a mudança.
Essa “reinterpretação” da constituição do Japão efetivamente a inseriu na OTAN.
Em dezembro de 2022, o Japão anunciou uma nova estratégia de segurança nacional. Essa nova estratégia dobraria os gastos com defesa. O Japão também planeja investir em capacidades de contra-ataque, incluindo a compra de mísseis de cruzeiro Tomahawk dos EUA e o desenvolvimento de seus próprios sistemas de armas.
Foi precisamente a grande visão de Abe do Japão retornando aos seus dias de “glória” como um império que foi problemática para a visão da Liga das Nações, pois se o Japão se via em pé de igualdade com outros grandes impérios, ou talvez até maior, isso significava que não não pretende, em última análise, dobrar o joelho. Ou seja, Abe não estava disposto a vender o Japão como uma satrapia, no entanto, era exatamente isso que o diktat ocidental exigia essencialmente do Japão. Sob este ditado ocidental, o Japão estava sendo ordenado a aceitar seu destino de entrar em colapso econômico e afundar no desespero, tornando-se cada vez mais militarista e extremista e liderando uma carga kamikaze em uma guerra com a China e a Rússia que levaria à ruína da civilização japonesa. Não parece que Abe iria concordar com essa visão para o Japão.
Emanuel Pastreich escreveu um artigo perspicaz intitulado “The Assassination of Archduke Shinzo Abe”, pode-se simplesmente ler o título e ele diz tudo. [O artigo também tem o título “When the Globalists Crossed the Rubicon: the Assassination of Shinzo Abe”]
Pastreich escreve: “[Abe]… já era o primeiro-ministro mais antigo da história japonesa e tinha planos para uma terceira candidatura ao cargo de primeiro-ministro, quando foi morto.
Desnecessário dizer que os poderes por trás do Fórum Econômico Mundial não querem líderes nacionais como Abe, mesmo que estejam de acordo com a agenda global, porque são capazes de organizar uma certa resistência dentro do estado-nação.
…No caso da Rússia, Abe negociou com sucesso um tratado de paz com a Rússia em 2019 que teria normalizado as relações e resolvido a disputa sobre os Territórios do Norte (as Ilhas Curilas em russo). Ele conseguiu garantir contratos de energia para empresas japonesas e encontrar oportunidades de investimento na Rússia, mesmo quando Washington aumentou a pressão sobre Tóquio.
O jornalista Tanaka Sakai observa que Abe não foi proibido de entrar na Rússia depois que o governo russo proibiu a entrada de todos os outros representantes do governo japonês.
Abe também envolveu seriamente a China, solidificando laços institucionais de longo prazo e buscando negociações de acordos de livre comércio que alcançaram um avanço na décima quinta rodada de negociações (9 a 12 de abril de 2019). Abe tinha acesso imediato aos principais políticos chineses e era considerado por eles confiável e previsível, embora sua retórica fosse duramente anti chinesa.”
O evento crítico que provavelmente desencadeou o processo que levou ao assassinato de Abe foi a cúpula da OTAN em Madri (28 a 30 de junho).
A cúpula da OTAN foi um momento em que os atores ocultos nos bastidores estabeleceram novo ditames para a nova ordem global. A OTAN está em um caminho rápido para evoluir além de uma aliança para defender a Europa e se tornar uma potência militar irresponsável, trabalhando com o Fórum Econômico Global, os bilionários e os banqueiros de todo o mundo, como um ‘exército mundial’, funcionando como a Companhia das Índias Orientais fez em outra era.
A decisão de convidar para a reunião da OTAN os líderes do Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia foi uma parte crítica desta transformação da OTAN.
Essas quatro nações foram convidadas a participar de um nível inédito de integração em segurança, incluindo compartilhamento de inteligência (terceirização para grandes multinacionais de tecnologia), uso de sistemas avançados de armas (que devem ser administrados pelo pessoal de multinacionais como a Lockheed Martin), exercícios conjuntos (que estabelecem um precedente para um processo de tomada de decisão) e outras abordagens ‘colaborativas’ que minam a cadeia de comando dentro do estado-nação.
Quando Kishida voltou a Tóquio em primeiro de julho, não há dúvida de que um de seus primeiros encontros foi com Abe. Kishida explicou a Abe as condições impossíveis que o governo Biden havia exigido do Japão.
A casa branca, aliás, agora é inteiramente ferramenta de globalistas como Victoria Nuland (subsecretária de Estado para Assuntos Políticos) e outros treinados pelo clã Bush.
As exigências feitas ao Japão eram de natureza suicida. O Japão deveria aumentar as sanções econômicas contra a Rússia, se preparar para uma possível guerra com a Rússia e se preparar para uma guerra com a China. As funções militares, de inteligência e diplomáticas do Japão seriam transferidas para a bolha emergente de empreiteiros privados reunidos em torno da OTAN.
Sejamos honestos aqui, já que a bagunça deve ser bastante simples para todos verem neste ponto; aqueles que estão na posição de pressionar o FMI, a OTAN, as políticas desastrosas do Fórum Econômico Mundial não são os líderes na sala. O embaraço da ex-primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, há menos de dois meses, que nem sequer distinguia o território russo do território ucraniano, respondendo que nunca reconheceria Rostov e Voronezh como russos, é apenas um dos muitos exemplos que estão ocorrendo em um quase diariamente. Estas são as ferramentas perfeitas para tais políticas insanas, por esta mesma razão, eles não entendem o resultado que estão pressionando. Eles são absolutamente sem noção e, portanto, dispensáveis como os recortes de papelão que são.
A realidade da situação é que nenhuma nação deve sobreviver a esse impasse.
Não se trata do bloco ocidental contra o bloco oriental. É sobre a ruína de todas as nações e a formação de um Iimpério, ou se preferir a expressão, um governo mundial. Novamente, esta é a visão da Liga das Nações que tem sido o sonho molhado de um grupo muito pequeno desde a Primeira Guerra Mundial.
Não se trata de democracia ocidental ou liberalismo ou sistemas de valores ocidentais. É sobre, e sempre foi sobre a reinstituição do imperialismo. Foi disso que se tratou a Primeira Guerra Mundial, foi disso que se tratou a Segunda Guerra Mundial e é disso que se trata a Terceira Guerra Mundial.
Curiosamente, vemos novamente a Alemanha e o Japão posicionados próximos ao fio da meada que está pronto para lançar o globo em outra guerra mundial. E adivinhe qual será o destino desses dois países, Alemanha e Japão, cuja ‘liderança’ tão tolamente se considera incluída no grupo de ‘elite’ que de alguma forma sobreviverá depois de colocar o mundo em chamas, como eles tão tolamente fizeram o erro de pensar durante a Segunda Guerra Mundial. Eles verão mais uma vez como seu povo e sua civilização são dispensáveis para esse grupo de “elite” pelo qual eles desejam desesperadamente ser aceitos.
Uma coisa é certa desde o assassinato de Abe. O Japão está avançando cada vez mais rapidamente em um caminho muito perigoso que ameaça estar mais uma vez do lado errado da história. A questão é: a Alemanha e o Japão são tão tolos a ponto de cometer o mesmo erro duas vezes, pois não devem presumir que sobreviverão a tal acerto de contas uma segunda vez.
Fonte: The Saker