O que significam os recentes acenos de “paz” entre Lula, Zelensky e Macron para o mundo multipolar?
A história pode não se repetir, mas certamente rima.
Esta conversa de “paz” potencial entre Lula, Zelensky e Macron é muito provavelmente apenas uma forma de diplomacia triangular.
Para entendê-la, precisamos voltar às relações sino-soviéticas do século XX.
Quando os comunistas de Mao assumiram o controle do continente chinês em 1949, e posteriormente entraram em uma aliança de segurança com a União Soviética, os geostrategistas advertiram que tal conglomeração de território e poder poderia comprometer a ordem mundial unipolar dos norte-americanos.
Da mesma forma, o documento confidencial de segurança nacional dos EUA que serviu de base doutrinária para a Guerra Fria — NSC-68 — afirmava os perigos do bloco sino-soviético na Eurásia e propunha uma forma de “pluralismo” na região como um meio de deter a expansão comunista em curso.
Esta política de “pluralismo” foi aplicada através da Diplomacia Triangular — uma política externa dos Estados Unidos, desenvolvida por Henry Kissinger, como um meio de administrar as relações entre as potências comunistas em disputa — a URSS e a China.
Tal política deu origem à “Abertura Chinesa”.
A ameaça representada pelo bloco sino-soviético diminuiu quando a divisão sino-soviética surgiu e foi explorada pela administração Nixon com sua famosa “abertura” à China.
Ao dividir as duas principais nações comunistas com “conversações de paz”, os EUA conseguiram enfraquecer o bloco e reafirmar sua hegemonia.
Mas o que tudo isso tem a ver com as crescentes observações de Lula sobre as “conversações de paz”?
Ultimamente, Lula tem sido visto como uma figura controversa entre a mídia ocidental por sua constante recusa em condenar diretamente a Rússia por sua OME na Ucrânia.
Desde que a ascensão de Lula ao poder tem sido apoiada e, até certo ponto, implementada pelo governo dos EUA, Lula agora está em uma posição Quid pro quo com relação ao império.
Assim como os EUA enfraqueceram o bloco sino-soviético ao fortalecer seus laços com a China, ele fará o mesmo com os BRICS via Brasil.
Mas como os EUA forçariam o Brasil a recalibrar a sua política externa?
Em 1972, Kissinger explorou o medo de Mao de uma invasão soviética da China e estabeleceu a divisão sino-soviética que levou à formação de laços diplomáticos entre a China e os Estados Unidos.
Como o Brasil não teme um confronto cinético com a Rússia, tal cisão, em minha opinião, viria das contínuas diferenças ideológicas entre Brasil e BRICS.
Nos últimos anos, a Rússia e a China têm se tornado mais conservadores socialmente, enquanto o Brasil vem adotando o progressismo ianque.
Fonte: Twitter