Imperialismo é qualquer aventura militar estrangeira? Qual é a definição de imperialismo? Hoje se faz uso leviano desse e outros termos para impugnar a ação internacional de países contra-hegemônicos e, no futuro, podem vir a ser usados contra o Brasil. Por isso é importante compreender de forma rigorosa o que é o imperialismo.
- A criação de colônias e o assentamento de colonos não são equivalentes ao “colonialismo”. Por exemplo, os antigos gregos tinham muitas colônias, mas eles nunca desenvolveram um sistema colonialista.
- “Império” e “imperialismo” são duas coisas totalmente diferentes: Mali, Egito antigo, os Incas e a Acádia de Sargão eram impérios, mas não entidades imperialistas.
- Um império é antes de tudo uma grande potência que unifica em si mesmo um grande número de povos e sociedades. Entretanto, um império não é necessariamente uma potência imperialista ou colonialista. Tal tese deve ser demonstrada.
- “Colonialismo” e “imperialismo” são conceitos modernos utilizados para descrever a ascensão do colonialismo europeu a partir do século XV.
- Na verdade, os estudos de Fernand Braudel e Immanuel Wallerstein mostram que historicamente, o que chamamos de “colonialismo” é o resultado da expansão do sistema-mundo ocidental na forma de globalização econômica e exploração desigual em escala planetária, logo após as grandes descobertas geográficas. A expansão econômica, civilizacional e cultural do Ocidente envolveu a destruição de economias individuais e impérios em favor da criação de uma economia mundial unificada. O colonialismo é, portanto, uma forma de conquista cultural do Ocidente sobre o resto do mundo.
- O colonialismo é o resultado da expansão europeia e americana sobre o resto do mundo; esta expansão é o resultado do deslocamento e da destruição da própria civilização ocidental, como bem assinala o historiador italiano Franco Cardini: a globalização é caracterizada pela transgressão de todos os limites, pela abolição das fronteiras e pela expansão constante em nome do progresso infinito da humanidade. Deve haver um crescimento econômico, cultural e territorial perpétuo a fim de manter tais ideias em pé.
- Colonialismo e imperialismo são fenômenos da modernidade ou, mais precisamente, uma forma de imposição da modernidade ao resto do mundo: o pesado fardo do homem branco, etc.
- Muitos países não ocidentais tornaram-se colônias devido à pressão exercida sobre eles pelas potências ocidentais, enquanto outros tiveram que se adaptar e ocidentalizar-se parcialmente para sobreviver. Esta última situação pode ser aplicada à Rússia, Império Otomano, Pérsia, Japão, Abissínia e, com pouco sucesso no início, à China. Os países forçosamente modernizados acabaram se tornando a semiperiferia do sistema do mundo ocidental e não conseguiram superar esta condição. A única exceção a esta regra foi o Japão após a Segunda Guerra Mundial, mas teve que pagar o preço de abrir mão de sua autonomia completamente. Wallerstein argumenta que a incorporação da Rússia ao sistema-mundo no século XVIII seguiu um caminho muito diferente: os russos desistiram da integração econômica no sistema mundial a fim de manter sua independência política. Tais exemplos são muito reveladores: ou você sacrifica sua independência política em nome da integração econômica, ou você recusa a integração econômica em nome da independência política, ao custo de um cerco permanente. Somente as potências ocidentais podem combinar as duas.
- É absurdo acusar as potências semiperiféricas e periféricas de colonialismo e de imperialismo (mesmo o Império Otomano, com seus “territórios ultramarinos”, não atende a tais critérios). O verdadeiro colonialismo se baseia na competição pelo domínio do sistema-mundo e no estabelecimento de um sistema de relações desiguais em escala global. A Rússia pode ser culpada de fazer uma coisa dessas?
- As acusações ocidentais de que a Rússia é uma potência imperialista são baseadas em argumentos a-históricos, manipuladores e racistas (os russos são “brancos”, portanto seu império foi tão genocida quanto o de outras potências ocidentais). Estes ataques visam impedir que outras civilizações utilizem a experiência da resistência da Rússia, como a única civilização não ocidental a ter defendido com sucesso sua identidade política e a tradição do Estado imperial, como um exemplo na luta contra o globalismo. O discurso anticolonial só é científico se for usado para atacar os mecanismos concretos de dominação global (ou seja, o atual sistema econômico global e seus fundamentos ideológicos) e não suas formas externas. O ataque sistemático aos grandes Estados periféricos e semiperiféricos sob a bandeira da luta anticolonial só servirá para reforçar o domínio do centro, uma nova forma de neocolonialismo.
Fonte: Geopolitica.ru