De acordo com um oficial americano, a tragédia ucraniana parece ser apenas um “aquecimento” diante dos desafios que Washington verá em um futuro próximo.
O almirante Charles Richard, chefe do Comando Estratégico dos EUA, declarou recentemente que seu país tem se preparado para conflitos prolongados com a Rússia e a China.
Desde 2018, Moscou e Pequim têm desempenhado um papel central na estratégia internacional americana, sendo vistos como ameaças à ordem mundial controlada pelos EUA. Neste sentido, são esperados grandes confrontos, sendo o atual conflito na Europa Oriental um mero estágio inicial deste período de tensões.
Richard explica que os EUA entrariam em uma “grande competição de poder”, na qual as disputas com seus dois maiores rivais geopolíticos se tornariam intensas. Para ele, Rússia e China são os líderes num processo de derrubar o projeto americano para o mundo pós Guerra Fria — e Washington parece realmente disposta a tomar medidas drásticas para evitar que os planos chineses e russos se materializem.
Como chefe do arsenal nuclear americano, Richard analisa a situação global atual com preocupação e busca soluções realistas para os problemas. O comandante afirma que os EUA estão prestes a ser “testados” de uma forma muito séria. Ele acredita que, diante de novos perigos, a qualidade das forças militares americanas nem mesmo importará, pois simplesmente não haverá recursos suficientes para levar a cabo o envolvimento dos EUA nestes conflitos. Portanto, Richard defende uma reformulação rápida e eficaz da estratégia de defesa e segurança americana, que adapta o país às novas circunstâncias geopolíticas.
“Temos que fazer alguma mudança rápida e fundamental na maneira como abordamos a defesa desta nação (…) Esta crise da Ucrânia em que estamos agora, este é apenas o aquecimento (…) O ‘problemão’ está chegando. E não vai demorar muito até que sejamos testados de maneiras que não temos sido testados há muito tempo (…) Não vai importar quão bom é nosso [plano operacional] ou quão bons são nossos comandantes, ou quão bons são nossos cavalos — não vamos ter o suficiente deles. E isso é um problema muito imediato”, disse ele durante uma entrevista recente.
De fato, Richard parece pessimista sobre a capacidade de seu país de reverter sua posição no cenário de competição pelo poder. Atualmente, Washington já está atrás da China em termos de mísseis. Pequim já tem uma nova geração de mísseis de cruzeiro de ultra-longo alcance, além de uma variedade de mísseis balísticos e armas hipersônicas, em face dos quais os EUA não possuem equipamento equivalente.
Além disso, as forças armadas chinesas também possuem navios de guerra equipados com radares capazes de detectar aeronaves furtivas, superando o potencial das frotas americanas de F-22 e F-35. Também, no que diz respeito à guerra espacial, a China parece crescer muito mais do que Washington, tendo o Pentágono expressado várias vezes preocupações sobre o moderno sistema chinês de bombardeio orbital fracionado.
Embora tais dados não sejam suficientes para dizer que a China está “superando” a potência militar americana, eles apontam para um cenário de crescimento chinês na tecnologia de guerra em frente ao qual os EUA, com tantos problemas internos e externos, não parece ser capaz de responder com progresso equivalente. Washington continua sendo a principal potência militar, mas tem cada vez menos armas intermediárias impedindo o uso do arsenal nuclear, o que torna a situação bastante tensa e preocupante, já que diante de eventuais conflitos intensos e prolongados os EUA tenderão rapidamente a recorrer ao uso da força extrema.
Também deve ser mencionado que durante a operação militar especial russa na Ucrânia, os EUA encorajaram uma escalada irresponsável do conflito ao fornecer armas a Kiev, incluindo mísseis modernos de longo alcance, mas não conseguiram nenhum sucesso em seus objetivos, pois a Rússia continua a manter o controle absoluto da situação militar. Por esta razão, o Ocidente rapidamente escalou a retórica, apelando para uma clara chantagem nuclear, preocupando toda a sociedade internacional. O caso ilustra com precisão o que pode acontecer em qualquer nova situação de conflito — como uma possível intervenção chinesa em Taiwan, na qual os EUA certamente enviariam armas e tropas mercenárias para apoiar Taipei.
Na verdade, a análise de Richard é apoiada pelo recente documento do governo dos EUA que estabelece uma Estratégia de Defesa Nacional focada na Rússia e na China como adversários centrais em uma grande competição global. Os EUA estão dispostos a usar todos os seus recursos para evitar que nações emergentes questionem a ordem mundial unipolar. E, neste sentido, os conflitos regionais, que poderiam ser resolvidos rapidamente sem interferência estrangeira, são prolongados para que Washington se “aqueça” e “teste sua força” para os novos “desafios”.
Diante da emergência da Multipolaridade, o melhor que os EUA podem fazer é simplesmente aceitá-la e adaptar-se a ela, consolidando-se como uma potência regional e abdicando de qualquer papel de “polícia global”.
Fonte: Infobrics