O Chanceler do Japão, Yoshimasa Hayashi, anunciou hoje que o Japão buscará estimular as nações neutras do G20 a adotarem sanções contra a Rússia, sob a liderança das nações do G7. Entre as medidas, estão restrições contra o setor de energia russo e o congelamento de reservas financeiras russas internacionais.
Para quem conhece a língua da diplomacia, a mensagem é clara: Hayashi foi porta-voz de uma declaração de guerra diplomática pelo G7, de forma que liderará esforços de sabotagem às relações entre o bloco russo-chinês e os estados neutros do G20.
O rol de nações neutras pode ser deduzido como incluindo, além do Brasil, a Índia, a África do Sul, a Argentina, o México, a Indonésia e a Arábia Saudita. Segundo estimativas de 2022 do FMI, o PIB conjunto desses países é de US$ 10 trilhões.
O Japão é um país atemorizado pelo avanço da China, e que tem um histórico diplomático conturbado com a Rússia. Esta situação delicada evidentemente diminui a vontade política por arrancar a mordaça dos ocupadores estado-unidenses que lhe foi imposta pelo Tratado de Cooperação Mútua e Segurança. Neste contexto, o recentemente falecido Shinzo Abe articulou o estabelecimento do Diálogo de Segurança Quadrilateral, fórum com os EUA, a Índia e a Austrália particularmente dedicado a discutir estratégias contra a afirmação chinesa de soberania no Mar da China Meridional.
Observe-se, contudo, que Hayashi não tem uma estratégia de persecução da defesa soberana de seu país, mas sim de serviço submisso pelo Japão aos Estados Unidos. Este direcionamento, típico de integrantes da facção parlamentar Kouchikai, contrasta com a geopolítica nacionalista do Conselho de Análise Política de Seiwa, facção de Abe que foca na remilitarização contra a China a nível regional e na neutralidade a nível global. É neste contexto que a última cúpula do Diálogo de Segurança Quadrilateral preocupou grandemente observadores japoneses e indianos. A Índia de Modi, contudo, ainda integrante do BRICS, permanece neutra, condenando a Rússia apenas dentro de algumas formalidades diplomáticas.
O Japão, contudo, que pela primeira vez participou de uma cúpula enquanto governado pelo Kouchikai, está tomando direção diversa. Em vez de visualizar a abertura de uma ordem multipolar mantendo uma relação ambígua com a Rússia, empreendendo recursos para aprimorar o protagonismo diplomático japonês a serviço de seus próprios interesses e sorvendo dos benefícios econômicos e geopolíticos resultantes, fará a diplomacia de país ocupado, desgastando suas relações internacionais a fim de lutar contra o Segundo Mundo que surge no Horizonte com a perspectiva de fortalecimento do BRICS, que, em vez de se dispersar, já está atraindo para si o Irã e a Argentina.
Durante a Guerra Fria, popularizou-se a divisão do mundo entre um Primeiro Mundo liberal aliado aos EUA, um Segundo Mundo comunista aliado à URSS, e um Terceiro Mundo não-alinhado. Com o fim da Guerra Fria, o Primeiro Mundo e o Terceiro se redefiniram, enquanto o Segundo se tornou obsoleto. A política externa brasileira, internacionalmente renegada e presa ao Terceiro Mundo, pode e deve se tornar um lumiar para a reconstrução do Segundo Mundo, que fará oposição ao governo mundial cuja construção a OTAN busca liderar.