A questão do Homeschooling

O homeschooling tem sido levantado como uma alternativa para os temores sobre a direção da pedagogia brasileira e a inserção de pautas pós-modernas na estrutura educacional de nossos filhos. Mas será que essa é a melhor solução?

Acho o debate sobre homeschooling complexo, por ser deformado por polarização direita/esquerda e, no Brasil, extemporâneo, prematuro.

A preocupação de pais direitistas é que a escola não é, meramente, o lugar de transmissão de conhecimentos necessários e úteis para a integração social produtiva do jovem. Ela é, também, espaço de transmissão da ideologia hegemônica. E essa ideologia hegemônica é, precisamente, uma ideologia antifamília, dissolvente, etc.

A preocupação desses pais é legítima. Nenhum pai quer chegar em casa após 12 horas de trabalho e ser chamado de “machista” e “patriarca opressor” pela filha bobolescente. Agora, a cultura hegemônica não é transmitida apenas, ou mesmo principalmente, pela escola. Na era da internet, a fonte primária de transmissão ideológica e cultural não é a escola.

Ademais, o papel da escola na transmissão cultural e ideológica seria e será fundamental em um Estado patriótico-popular. Não há nada de errado com isso. O Estado deve ter uma Ideia e essa Ideia deve ser transmitida entre gerações e a melhor ferramenta para isso é a escola.

Do outro lado, porém, temos a preocupação legítima de pais com o conteúdo escolar atual, mesmo com as companhias. Mas o hype que foi criado na direita em torno do homeschooling depõe contra ele. Quase ninguém pode colocá-lo em prática. Existem pessoas que possuem como única vocação existencial procriar e constituir família. Se você é uma dessas pessoas e, ainda, possui uma renda razoável, além de bastante preparo, vá em frente.

Agora, se você possui qualquer tipo de aspiração superior que vá além dos instintos sociobiológicos mais básicos do homem-animal, então esqueça o homeschooling, porque ou a educação do seus filhos será uma porcaria ou você vai se condenar à mediocridade e à infelicidade.

Sinto muito quebrar a redoma do individualismo anglo-saxão do pessoal, mas hoje existe uma pluralidade de opções escolares para pais conservadores na maioria das metrópoles brasileiras. Sejam pais presentes, fiscalizem a escola, esse é seu papel social mesmo. Organizem lóbis de “pais conservadores” para pressionar a escola na direção desejada.

Agora, a grande crítica ao homeschooling é que a casta parasitária vai utilizar isso aí para promover um desinvestimento ainda maior em educação e para forçar a barra com o sistema de vouchers (projeto de estimação do Guedes. Esse é o principal argumento sistêmico contra esse projeto.

Mas o homeschooling, por outro lado, não vai se generalizar. As exigências do projeto são bastante rigorosas, mas justas. Exige-se que um dos genitores possua curso superior além de alguma formação técnica educacional. Existem mecanismos de supervisão. A criança obrigatoriamente tem que estar matriculada em uma escola e deve prestar as provas regulares da escola.

Eis minhas reflexões sobre o tema. Nem salvação, nem pandemônio, mas uma ideia que me parece desnecessária hoje. É um debate que poderia render frutos em outro contexto, mas não vejo grande interesse nela.

Ademais, a maioria de seus defensores nem filho tem.

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Raphael Machado

Advogado, ativista, tradutor, membro fundador e presidente da Nova Resistência. Um dos principais divulgadores do pensamento e obra de Alexander Dugin e de temas relacionados a Quarta Teoria Política no Brasil.

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