O Ocidente encontrou o seu mais novo “bom moço” no presidente da Ucrânia. Entretanto, suas ações como fantoche da OTAN só demonstram que o comediante não passa de um traidor do seu próprio povo.
Estamos vivendo um daqueles períodos estranhos em que a subversão liberal de narrativas atinge suas contradições mais paroxísticas. Circunstancialmente, observamos conceitos de soberania e autodeterminação dos povos voltando a ter suma importância no âmbito do direito internacional, o exercício do nacionalismo reconquistando teores positivos e o mito dos povos alcançando um aspecto superficialmente transcendental. Ademais, percebe-se também a real dimensão do caráter extremamente metastático da crença metafísica no “fim da História”; a gritante maioria no Ocidente parece achar um completo absurdo a mera ideia de que algo tão “selvagem” e “obsoleto” como a guerra possa ainda ter lugar “em pleno século XXI” e que tais problemas não possam ser resolvidos mediante uma performance pública da canção Imagine. A inocência romântica e a suscetibilidade a noções infantis de bem versus mal que permeiam o mundo atual fazem-se nuas e mostram o imenso grau de atualidade das ideias de nomes como Schmitt e Gramsci.
Em meio a isso tudo, a mídia ocidental—na mesma medida que hitlerifica Putin—tem tratado o presidente ucraniano como uma figura positivamente marveliana, louvando seus esforços e pronunciamentos supostamente heroicos e patrióticos contra a libertação da Ucrânia e tornando-o um símbolo de resistência contra qualquer perturbação do arco-íris que é o status quo otanesco. A verdade, porém, é que Zelênski está apenas prolongando desnecessariamente o que já fora anunciado com a recusa da OTAN a enviar reforços humanos à Ucrânia: a Rússia vencerá e provavelmente instaurará ali um regime favorável a si mesma. Qual é então o sentido de armar uma guerra civil em meio à guerra militar preexistente? O que faz o armamento dos civis ucranianos além de conceder aos russos carta branca para matá-los em legítima defesa e a eles mesmos a oportunidade de matarem-se entre si dentro de uma conjuntura de opiniões políticas tão polarizadora?
Os absurdos e fantasiosos apelos da ONU pela “paz” são dirigidos exclusivamente à Rússia, cujas tropas já ensaiam a tomada iminente de Kiev. Mas que nação em sã consciência recuaria em tal circunstância de vitória prescrita? Qual é o sentido de tal teatro? Ora, se o maior problema da guerra realmente é, como vêm dito incessantemente os jornalistas liberais, a morte e a destruição que ela traz consigo, por que então não incentivam a o governo ucraniano a largar as armas e poupar os seus civis de quaisquer mais perdas desnecessárias? Por que então Zelênski não negocia um acordo digno com Putin pelo bem do povo pelo qual alega zelar? Pouco caso tem sido feito desse povo. Tudo indica que a soberba sem fronteiras da OTAN e a sua completa antipatia por quaisquer prospectos de segurança russa foram—e seguirão sendo—as verdadeiras fontes de catástrofe para a Ucrânia.
Está claro que o objetivo da OTAN e da mídia que por ela fala nada mais é do que, através dessa ridícula tentativa de romantização da figura de Zelênski, fazer com que os civis ucranianos sejam reduzidos de forma inescrupulosa e suicida a uma estatística que endossará a narrativa de supostos crimes de guerra russos (que já está em andamento), alimentando ainda mais o velho mito hollywoodiano do bicho-papão soviético encarnado pelo “agressor” Putin. Não há nada de heroico ou patriótico nas atitudes do palhaço que, muito pelo contrário, não transparece nem um pingo sequer de amor ao que constitui a sua nação de forma mais radical: o elemento humano.
Mais do que nunca, a hegemonia liberal precisa de novos monstros para que logre sobreviver e propagar-se no imaginário global dentro de um mundo que beira cada vez mais a bipolaridade. O monstro da vez é, como sabemos, Putin, que segue disposto a negociar um acordo que contemple os interesses russos de sobrevivência geopolítica e trate o seu país com o devido respeito que merece no mundo. Zelênski, por sua vez, tenta vender uma imagem nobre de Marco Aurélio quando, na verdade, não passa de um Nero travestido.