O capitalismo do século XXI não é o mesmo do início do século XX. Hoje ele está financeirizado, desvinculado dos Estados nacionais. O globalismo é a evolução e radicalização do imperialismo. É fundamental compreender essa evolução do capitalismo para que possamos enfrentá-lo.
A globalização como unificação jurídica e mercantil da humanidade corresponde à terceira fase do imperialismo como figura coessencial – já identificada por Lênin em Imperialismo, Fase Suprema do Capitalismo (1916) – do modo de produção capitalista.
Na fase abstrata do capitalismo, como o delineamos no Minima Mercatalia, encontramos na forma dominante o imperialismo mercantilista dos séculos XVII e XVIII. É caracterizada pelo comércio triangular de escravos entre a Europa, a África e a América.
O primeiro momento foi a chegada dos europeus à África, na costa escrava (hoje Senegal, Gâmbia, Guiné, Serra Leoa, Benin). Os escravos eram trocados por produtos europeus. A segunda etapa foi da África para a América. Os escravos eram transportados por navio e vendidos para as Índias Ocidentais, Brasil e colônias do sul da Inglaterra em troca de dinheiro. A terceira etapa foi da América para a Europa: uma vez que os escravos foram vendidos, os navios retornaram à Europa com seus porões cheios de produtos tropicais. A duração média deste circuito infernal era de dezoito meses.
Vale lembrar que o próprio Locke, a divindade tutelar do pensamento liberal, se vangloriava de ter investido pesado neste comércio de seres humanos, o que ele justificava em teoria ao admitir a “escravidão razoável” dos negros. A esta triangulação do comércio se soma a prática do racismo como legitimação da despossessão colonialista.
Negação da unidade da humanidade, o racismo não se baseia no “preconceito”, mas no “pós-conceito”. Na verdade, ele foi usado como arma ideológica para legitimar a expropriação colonial através do argumento – autêntica ignorância – de que seres humanos considerados inferiores não tinham o direito de se opor à ofensa sofrida. Contra o racismo, as palavras do Tratado Político de Spinoza (VII, 27), natura una, et communis omnium est: “a natureza é única e comum a todos” sempre se aplicam.
Na fase dialética do capitalismo burguês e proletário, encontramos o imperialismo stricto sensu, o imperialismo dos séculos XIX e XX estudado por Lênin. Este é o imperialismo sobre o qual a Primeira Guerra Mundial foi estruturada, com base na “nacionalização das massas” (Nationalisierung der Massen) e na hostilidade entre os Estados-nações ditada por seus apetites aquisitivos e pelo desejo de estender seu domínio político-econômico sobre territórios cada vez mais amplos. Os escravos são agora explorados diretamente in situ, em suas terras de origem, reduzidas a colônias do Ocidente expansionista. O nacionalismo imperialista é a estrutura ideológica em que este processo se desenrola.
Finalmente, na fase absoluta e flexível, a nova figura do imperialismo é a globalização centrada americanocêntrica, no sentido acima mencionado, ou seja, como a lógica da extensão planetária do mercado e sua antropologia e, ao mesmo tempo, da ordem unipolar atlantista, com a desestruturação anexa de tudo o que não esteja em conformidade com ela (antes de tudo, o sistema de Estados-nações soberanos).
A essência da globalização é a “saturação” (Saturierung) do mundo completamente subsumida pelo capital, daí a tendência para a polarização de toda a raça humana, de acordo com a dicotomia das precárias massas pós-burguesas e pós-proletárias e a nova elite neofeudal dos senhores do globalismo dessoberanizante e dos fundamentalistas do livre mercado e esquemas corporativos.
Tal é a essência do novo imperialismo globalitário e pós-moderno, pelo qual o fanatismo econômico do livre mercado ocupa todos os espaços do planeta e da imaginação, através dos processos de inclusão neutralizadora e de agressão atlantista mencionados acima.
Fonte: Mantepsei