Negros e Vermelhos na Itália dos Anos de Chumbo

Uma entrevista com o ex-militante jovem do Movimento Social Italiano (MSI), Piero Manucci. Ele apresenta as dificuldades dos diálogos entre o comunismo e o fascismo de sua época e relata quais eram as principais dificuldades que seu partido enfrentava e o que não deve ser propagado aos jovens militantes atuais.

Luta e respeito. Este era o sentimento do teramo Piero Manucci nos anos 70, dos verdadeiros negros e vermelhos, que estava inserido no MSI (Movimento Social Italiano – Direita Nacional), ele sentia estar “em uma guerra perdida”. Em seguida, os confrontos ocorrendo ao pé dos comícios, escolas e fábricas e não em pubs e réveillons. Ele odiava os atletas que se faziam passar por marxistas e se arrependia de ter obedecido ao Rauti (líder do MSI). Hoje ele vive no Brasil e esta é sua história naqueles anos.

Manucci, poderia nos refrescar a memória como foram os anos 70 e como foi sua experiência como ativista político nesse ano para começarmos?
“Aproximei-me da Frente Jovem, uma organização da juventude do MSI aos 17 anos e não por razões ideológicas, mas diria ambientais: na escola que frequentei, como aliás em todo o lado, existiam grupos comunistas tentando se impor com violência e prevaricação de sua hegemonia, apenas os fascistas resistiram a eles e naturalmente me senti atraído pelas ideias. Este mundo que sentia como o meu parecia muito variado, havia de tudo, meninos de posição burguesa e outros ainda confusos nacional-populares, pessoas que invocavam a ordem vendo o verdadeiro inimigo não no marxismo, mas no liberalismo. No entanto, estávamos todos juntos, solidários uns aos outros porque fomos todos atacados, às vezes com ferocidade, pelos comunistas. Passei os anos da minha juventude divulgando e servindo a uma ideia que tive a sorte de conhecer, compreender e amar.”

Quais as diferenças entre os confrontos de hoje e o de seus anos, entre os vermelhos e negros em Teramo?
“Afirmo que não conheço a realidade de hoje, porque creio que os velhos não devam poluir o entusiasmo dos jovens com sua sabedoria cansada, mas que eu saiba só os lugares mudaram: no meu tempo fomos atacados em escolas, em frente às fábricas, durante os comícios, agora os jovens camaradas são atacados na rua ou em frente aos bares… como então, quando atacados, nos defendemos.”

Como os rituais e fetiches mudaram ao longo dos anos?
“Acho que os rituais eram mais sombrios na minha época. Sentimo-nos verdadeiros veteranos de uma guerra perdida da qual não tivemos oportunidade de participar e o nosso orgulho foi não ter assinado a rendição. Hoje os jovens se envolvem mais, mais proativos, querem ser protagonistas da mudança da realidade e ser arquitetos do seu tempo, por um motivo justo.”

Como você vivenciou seu compromisso político?
“Eu vivi meu compromisso político até os 23 anos de forma visceral, não era o mais importante, mas o único importante. Aí o nosso mundinho desabou, percebemos quantos urubus e lixo sitiavam nosso castelo, apesar de que nossa vida já tinha sido fortemente influenciada pelo que vivemos.”

Houve alguém daquela época que ficou gravado na sua cabeça?
“Mimì Foschini e Nicola Pepe marcaram realmente esses anos: cavaleiros de outros tempos, Major Foschini, o mais simples e popular Nicola, ambos foram presenças fixas dentro da federação, verdadeiros exemplos que nos ensinaram diariamente com a simplicidade do exemplo os valores da dignidade e orgulho.”

Que opinião dos vermelhos você tinha à época?
“Na época eu os dividia dessa maneira: alguns militantes eram de fato pessoas boas, acreditavam sinceramente que o marxismo era a alternativa ao liberalismo e nos viam como a personificação do mal, eu os respeitava, apesar das fortes diferenças. Então existiam os que queriam atenção, os atletas, os burgueses de coração, aqueles que brincavam de ser revolucionários, mas eram conformistas que seguiam a moda da época e esses, eu os desprezava.”

Você se arrepende dessa época e qual é a única coisa que não faria outra vez?
“A única coisa que eu não faria de novo é ter crido e obedecido Rauti por muito tempo, que teve o mérito de deixar clara a doutrina da ideia, mas que acabou por ser, na prática política, um mistificador e um covarde, um charlatão, em suma. Lamento ter cortado todas as relações com Nino Sospiri, que foi para mim, quando adolescente, um guia precioso com quem estabeleci uma relação de amizade verdadeira e profunda no início dos anos 80; ele fez algumas escolhas políticas contraditórias. No entanto, sempre o considerei um gigante em comparação com os bajuladores e os infratores.”

Sua chama ideológica se apagou?
“Depois de ter sido expulso do MSI em 1982, participei de várias tentativas sem sucesso de criar um movimento genuinamente antagônico. Há muito tempo reconheci que o fracasso de minha geração é total e a única coisa que podemos fazer é ficar longe dos jovens, pois correríamos o risco de contaminá-los.”

Fonte: Il Senso

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Nova Resistência
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