Após a retirada das tropas americanas e seus aliados do Afeganistão já se esperava que, eventualmente, o Talibã reassumiria o controle do país. Várias potências já haviam, inclusive, aberto diálogo com representantes do Talibã. Mas a conquista do país inteiro pelo Talibã poucos dias após a retirada americana surpreendeu o mundo inteiro. Por que o Exército Nacional Afegão, no qual os EUA investiram centenas de bilhões de dólares, caiu tão rápido?
O Talibã reconquistou o Afeganistão com a velocidade da luz, e especialmente a tomada de Cabul foi uma das mais rápidas e pacíficas. Embora os EUA acreditassem que poderia levar três meses para entrarem em Cabul. Os EUA previram que finalmente o Talibã reconquistaria o país inteiro, era apenas uma questão de escala de tempo. No entanto, os EUA estavam dependentes do Exército Nacional Afegão. Embora durante os últimos 20 anos, os EUA gastassem mais de 85 bilhões de dólares, no treinamento, equipamento e desenvolvimento do Exército Nacional Afegão, incluindo ainda polícia, força aérea e forças especiais. No entanto, sob o avanço de um grupo armado portando armas leves, o Exército Nacional Afegão desmoronou espetacularmente. Por que o Exército Nacional Afegão se rendeu tão rapidamente, muitas razões são oferecidas, e compilei algumas delas, que fazem sentido, abaixo:
Objetivos: Os EUA e a OTAN levantaram o Exército Nacional Afegão com objetivos específicos de prolongar sua ocupação, facilitar a captura de recursos naturais do Afeganistão, suprimir as insurgências locais, manter a situação de lei e ordem com terror e poder. Não obstante o Exército Afegão não estava convencido de seus objetivos e não aceitou a ocupação estrangeira. Mas cidadãos se alistavam no Exército Nacional Afegão, pois não havia outro emprego disponível e eles precisavam de um emprego, uma renda razoável para alimentar suas famílias. Eles não estavam dispostos a matar afegãos inocentes e houve incidentes em que o Exército Afegão se recusou a atacar civis inocentes apesar de ordens de comandantes americanos. Mesmo em alguns poucos casos, por ressentimento, alguns soldados do Exército Afegão abriram fogo sobre as forças americanas e aliadas.
Indução: O processo de indução do Exército Nacional Afegão era muito pobre e casual, as pessoas eram induzidas com base nas recomendações de alguém. Não havia nenhum tipo de teste médico ou verificação de seus antecedentes. Ás vezes, membros do Talibã também eram admitidos no Exército Nacional Afegão. A saúde precária e ausência de educação não eram impedimentos na maioria dos casos.
Treinamento: Os EUA e a OTAN proporcionaram treinamento apenas para servir a seus objetivos e também foi oferecido treinamento limitado, pois nunca confiaram neles e temiam que, no futuro, pudessem se voltar contra eles. Apenas um treinamento limitado foi ministrado para gerenciar seu papel mínimo. A Índia e Israel também forneceram o treinamento para usar força excessiva para suprimir a população local e aterrorizá-la com o abuso de poder. Eles não foram treinados adequadamente para uma luta com o Talibã.
Armas e munições: Os EUA e a OTAN temiam que se os equipassem com todos os tipos de armas mais recentes, isso poderia acabar sendo uma ameaça futura aos próprios planos. Assim, apenas armas e munições limitadas foram dadas a eles. A tecnologia avançada e as armas mais recentes eram muito limitadas.
Estrutura de carreira: Não havia uma estrutura específica de carreira ou sistema de promoção. Aleatoriamente, uns poucos eram promovidos e outros não. Até mesmo o Chefe do Estado-Maior do Exército foi apontado sem qualquer critério. Ele tinha apenas 35 anos de idade. Enquanto em outros países, o chefe do Estado-Maior do Exército é nomeado com uma experiência de 35 anos no serviço, e havia crescido a partir dos postos mais baixos para os mais altos gradualmente com o passar do tempo e da experiência. A rápida promoção, sem experiência suficiente em cada nível, pode não ser apropriada.
Politização: O Exército era politizado e o Presidente Ashraf Ghani mudar incessantemente os comandos superiores, criando uma falta de confiança em outros oficiais do Exército. A cadeia de comando nunca foi respeitada e, de tempos em tempos, ordens contrárias eram dadas por governadores e políticos locais.
Corrupção: A corrupção foi um presente especial do legado americano, para onde quer que eles vão, promovem a corrupção. Sem exceção no caso do Afeganistão, embora os EUA tenham gasto trilhões de dólares no Afeganistão, uma quantia considerável se esvaiu na corrupção. Tanto o funcionário americano quanto a elite governante afegã foram os beneficiários de tal corrupção maciça. Apenas uma minúscula parte desses trilhões foi, de fato, aplicado. O impacto de gotejamento foi quase insignificante. Os soldados reais que deveriam lutar no terreno eram ignorados e a elite vivia uma vida luxuosa. A disparidade entre o homem comum e a elite dominante cresceu demais e resultou em desconfiança entre os governantes e o público. O mesmo ocorreu no Exército, a distância entre soldados e oficiais cresceu demais e resultou em descontentamento e desconfiança.
Finalmente, a estratégia militar inteligente do Talibã de assumir o controle dos principais postos de fronteira, das principais rodovias e sitiar as grandes cidades aleijou a capacidade de Cabul de enviar reforços e suprimentos. Muitas unidades militares foram isoladas do resto do país e, portanto, foram forçadas a fugir através das fronteiras para países vizinhos ou a se dissolverem. Apesar de receberem anos de treinamento e bilhões de dólares em equipamentos, o Exército Nacional Afegão nunca desenvolveu a capacidade de se manter por conta própria. Na verdade, ele dependia inteiramente das tropas dos EUA e da OTAN para proteger as áreas urbanas. Uma vez que essas forças começaram a se retirar, não havia barreiras para impedir o avanço do Talibã e as fraquezas e incompetência que estavam encobertas pela presença militar estrangeira rapidamente vieram à tona. Era esperado que o filho da terra vencesse no final, e os invasores e seus apoiadores só poderiam se render.
Fonte: Oriental Review