O Prof. André Luiz mostra o que há por trás da tal consciência racial nova do Neymar: movimento antirracista cujo conceito de raça é fundamentalmente uma adaptação homogeneizante da perspectiva anglo-saxã moderna.
Meses atrás, Neymar sofreu uma injúria racial durante um jogo do campeonato francês e reagiu com um tapa, acabando expulso da partida. O caso ganhou repercussão planetária e o atacante se posicionou afirmando ter orgulho de ser negro.
Muitos decidiram criticá-lo por uma entrevista dez anos atrás em que ele havia dito: ”Nunca [fui vítima de racismo]. Nem dentro e nem fora de campo. Até porque eu não sou preto, né?”
Sedentos por vingança, atiraram na cara de Neymar sua suposta ”negritude”, que até então ele ignoraria. Outros, amenizando, comemoraram a nova consciência do jogador, que finalmente teria abandonado uma versão equivocada sobre sua identidade e perpetuada no Brasil sob o manto da mestiçagem.
Mas o Neymar menino não estava necessariamente errado. Já o adulto, que se envolveu em uma campanha publicitária [”somos todos macacos’‘] expressou uma falsa consciência divulgada entre nós por uma imensa parte do movimento negro.
O modo como as categorias raciais se formaram na Espanha, na França ou na Europa em geral não é o mesmo modo como elas são experimentadas no Brasil. Não há por que duvidar da vivência do garoto Neymar, que disse que nunca havia sofrido racismo dentro ou fora de campo, ”até porque eu não sou preto”.
Ele cresceu em Santos, não em Paris. Antes de jogar na Europa, foi atleta profissional de ponta no Brasil. E no Brasil, Neymar não seria encarado mesmo como preto no dia a dia.
Seria e certamente foi descrito como ”mestiço”, ”mulato”, ”cafuzo”, ”moreno”, ”pardo”. Ele tem uma pele amorenada média, olhos claros, e traços caucasoides facilmente identificáveis. A maioria esmagadora dos compatriotas de Neymar não o percebem da mesma forma que percebem ”pretos retintos”.
O Neymar menino estava correto porque lidava com uma classificação racial que é típica da sociedade em que ele cresceu. Ele não negou existir racismo no nosso país. Apenas confessou nunca tê-lo sentido por não ser percebido socialmente como preto.
Quem nega que existe essa diferença na construção do conceito de raça no Brasil está cego e alienado.
Os espanhóis e franceses tem outra forma de categorizar raça. Mas e daí? Existe qualquer indício de que os critérios deles são melhores do que os nossos, por acaso? Eles têm a verdade sobre os parâmetros de classificação racial pra que se considere a maneira com que eles criam essas distinções superior àquela brasileira?
Responder ‘sim’ é aderir à forma mais deletéria de ‘racismo’ que há entre nós, o vira-latismo de se considerar partícipe de uma ”civilização” inferior à ocidental.
Em tempo: a tal consciência racial nova do Neymar tem jeitão de ser construída em torno do assessoramento que lhe foi dado por aqueles de olho nos ‘movimentos antirracistas’ que tomaram as capitais ocidentais no segundo semestre desse ano. Um movimento político cujo conceito de raça é fundamentalmente globalista, uma adaptação ainda mais homogeneizante da perspectiva anglo-saxã moderna.