Escrito por Madeleine Kearns
Recentemente, uma grande polêmica no mundo midiático e ativista envolveu o nome de J.K. Rowling, demarcando-a como a mais nova “nazi-fascista” a ser alvo dos Dois Minutos de Ódio promovidos pela ditadura do pensamento único de nosso mundo orwelliano-huxleyano. O crime imperdoável da famosa escritora de “Harry Potter”? Ela disse que o sexo biológico é real.
Muito barulho tem sido feito sobre o ensaio de J. K. Rowling em que ela explica suas “razões para falar sobre questões de sexo e de gênero”. Ela tem sido acusada de transfobia por toda parte. Uma escola em West Sussex abandonou os planos de dar seu nome a uma de suas casas, pois ela “não deseja ser associada a esses pontos de vista”. Uma conselheira da campanha de Elizabeth Warren chamou-a de “escória total”. Uma escritora do New York Times deu a entender que ela é responsável pelo aumento do suicídio em pessoas com disforia de gênero. Os membros mais jovens do elenco da série Harry Potter (atores de talento medíocre que não estariam onde estão se não fosse por Rowling) tweetaram lugares-comuns politicamente corretos. Quase todos os seus críticos ignoraram o que ela realmente escreveu. E quase ninguém abordou suas comprovadas afirmações de ser uma sobrevivente de abusos domésticos.
Em seu ensaio, Rowling apresenta “cinco razões” para estar “preocupada com o novo ativismo trans, e decidir que preciso falar”. A primeira é sua atividade filantrópica, que “apóia projetos para prisioneiras e sobreviventes de abuso doméstico e sexual”, bem como financia pesquisas médicas sobre esclerose múltipla, “uma doença que se comporta de forma muito diferente em homens e mulheres”. A segunda é que ela é uma ex-professora e chefe de uma instituição de caridade para crianças, com interesse na sua educação e proteção. A terceira é que, como uma “autora não raro banida”, ela está interessada na liberdade de expressão. A quarta é uma preocupação “com a enorme explosão de mulheres jovens que desejam fazer transição”, especialmente porque ela mesma já foi infeliz com seu corpo. E a quinta razão é que, como sobrevivente de abusos domésticos e sexuais, ela se mostra “solidária com o enorme número de mulheres que têm histórias como a minha, que têm sido difamadas como preconceituosas por terem preocupações em torno de espaços para um só sexo”.
O que fica claro ao ler seu ensaio é que ela tem feito seu trabalho de casa e tem acompanhado de perto este debate durante os últimos dois anos. Ela coletou depoimentos de pessoas trans, especialistas, pesquisadores e mulheres preocupadas com “a forma como um conceito sócio-político está influenciando a política, a prática médica e a proteção” e acima de tudo, com “um clima de medo que não serve a ninguém – muito menos aos jovens trans”.
Uma vez que a grande mídia tem a intenção de relatar apenas um lado da reação ao ensaio de Rowling, coletei testemunhos daqueles que têm preocupações semelhantes e que são gratas ela por ter tomado uma posição.
Primeiro, as pessoas trans. Debbie Hayton, uma mulher trans, me falou da “necessidade de ouvir” Rowling. “O ativismo trans tem exagerado com intermináveis exigências, sempre tomando e nunca dando”, disse Hayton. “Chegou a hora de pararmos e começarmos a pensar tanto nos outros quanto em nós mesmos”. Scott Newgent, um homem trans, também me falou de sua concordância. “A transição médica cria uma ilusão do sexo oposto e alguns encontram conforto nisso”. O que ela não faz é mudar a biologia. Não podemos chegar a um lugar em nossa sociedade onde os sentimentos se sobrepõem aos fatos, e isso é o que está acontecendo atualmente dentro do debate transgênero”, disse Newgent.
Em segundo lugar, as mulheres e as feministas. Em seu ensaio, J. K. Rowling reiterou seu apoio a Maya Forstater, uma especialista tributária, que perdeu seu emprego por tweetar sua crença no sexo biológico. Forstater me disse: “Sou imensamente grata a J. K. Rowling por sua coragem e sua voz”. . . É solitário e assustador assumir posição sozinha”. Em seu ensaio, Rowling menciona Magdalen Berns, uma feminista lésbica que morava na na Escócia que infelizmente morreu no ano passado, e que co-fundou o movimento popular For Women Scotland, que luta para responsabilizar o governo escocês por incessantemente tentar corroer os direitos e proteções femininos baseados no sexo. Um porta-voz da organização me disse que seu trabalho é freqüentemente “exaustivo e desmoralizante” e citou o projeto de lei contra “crimes de ódio” introduzido em abril que “poderia ver as mulheres presas por falarem verdades biológicas se alguém o considerassem ofensivo”. (Sim, você leu isso corretamente.) As mulheres do For Women Scotland ficaram “tão gratas” e “um pouco emocionadas” lendo sua contribuição, assim como “incrivelmente tocadas que ela mencionou [Magdalen] em um ensaio tão pessoal”.
Terceiro, os pesquisadores. Rowling menciona Lisa Littman, médica e pesquisadora, cuja pesquisa na Universidade de Brown sugerindo que o aumento da disforia de gênero entre as adolescentes era possivelmente “contágio social e entre pares” tornou-se objeto de ira ativista. “Eu aplaudo a coragem de J. K. Rowling de falar, apesar das consequências, para defender os direitos de pessoas vulneráveis, incluindo jovens lésbicas e gays, sobreviventes de violência sexual e doméstica, jovens com autismo e em destransição”, disse-me Littman. Ken Zucker, o psicólogo canadense e especialista de renome mundial em disforia de gênero em crianças, que foi injustamente despedido depois que ativistas lançaram uma campanha de difamação contra ele por tentar ajudar alguns de seus jovens pacientes através de outros tratamentos que não “afirmação de gênero” (por exemplo, terapia de conversa e espera vigilante), me disse “É triste que uma brilhante escritora de fantasia tenha tido que enfrentar a realidade da política transgênero. A política transgênero muitas vezes tem pouco a ver com ciência, a menos que seja conveniente contar com ela para promover um ponto de vista político”. Um ativista/colunista transgênero do New York Times implicou que o ensaio de Rowling poderia causar um aumento no suicídio entre os jovens trans, mas Zucker, cuja pesquisa abrange quatro décadas, me disse “embora os adolescentes com disforia de gênero tenham uma taxa mais alta de suicídio, o mesmo acontece com outros jovens que são encaminhados para várias questões de saúde mental. Além disso, certamente não há provas convincentes de que eles realmente cometerão suicídio. Neste sentido, o clichê do suicídio pode ser usado para evocar ansiedade injustificada em seus pais”.
Abigail Shrier, escritora do Wall Street Journal, e autora do livro exaustivamente pesquisado, Dano Irreversível: A Loucura Transgênero Seduzindo as Nossas Filhas (a ser lançado no final deste mês), também apoiou Rowling. Ela me disse: “O fenômeno das meninas sem histórico de disforia de gênero decidindo de repente que são trans em grupos de amigos não é motivo de riso. É algo que está ligado à misoginia, à angústia pubescente e ao velho desejo adolescente de pertencimento. As pessoas que incitam a transição social e médica das meninas adolescentes estão cometendo um enorme erro, encorajando uma população vulnerável a causar danos a si mesma”.
“J. K. Rowling disse o que todos estão pensando, mas estão muito assustados para dizer”, disse-me um porta-voz do Fair Play for Women. “Ela fala pela maioria silenciosa e um grande número de mulheres lhe será grata”. Natasha Chart, presidente da Diretoria da Frente de Libertação das Mulheres, expressou sua gratidão pela “solidariedade de Rowling com todas as outras mulheres que sofreram essa mesma demonização injusta por falar a verdade”.
Rowling consegue até encontrar um lugar para o humor em seu ensaio, algo em que seus atacantes são completamente deficientes. “Falando como uma mulher biológica, muitas pessoas em posições de poder realmente precisam crescer um par de bolas (o que é sem dúvida literalmente possível, de acordo com o tipo de pessoas que argumentam que os peixe-palhaço provam que os humanos não são uma espécie dimórfica)”. Bem, falando como alguém que gastou muito tempo nesta questão, a voz de Rowling neste debate é – como evidenciado – bem-vinda.
Fonte: National Review