Fenomenologia da Máscara

Escrito por Riccardo Tennenini
A máscara se tornou onipresente na vida do homem, independentemente da parte do planeta. Se, outrora, ela era um artefato exclusivamente sanitário, hoje ela é um artigo de moda, fetichizado e hipsterizado por uma economia capitalista tardia que não vê problemas com transformar a morte e o medo da morte em acessório “fashion”.

Toda a situação do coronavírus só pode ser entendida a partir da perspectiva do sistema capitalista moderno. Desde que explodiu no mundo, os governos e não apenas queriam ver de alguma forma o lado positivo da pandemia, ou seja, o quanto este evento poderia nos modificar fundamentalmente. Tornando-nos pessoas melhores que dão mais valor e importância às coisas que tomávamos por garantidas até antes do vírus. Em vez disso, nós nos tornamos piores do que antes! A pandemia se tornou para algumas pessoas uma forma de ganhar dinheiro, para outras uma outra forma de permanecer no centro das atenções da mídia social. Escusado será dizer que os únicos que realmente ganharam com o coronavirus, ao contrário de antes, foram os gigantes do comércio eletrônico e dos serviços de streaming e de videoconferência como Skype, Zoom, Netflix, Amazon, etc. Eles, de fato, navegando no setor digital terciário avançado, não interromperam nem por um segundo suas atividades, sendo de fato o coronavírus que fez suas ações dispararem e enriquecerem além de todos os limites.

Isto diferentemente ou em detrimento de outros setores produtivos que, vice-versa, foram forçados a fechar as portas. Perdendo enorme capital, os funcionários e, em muitos casos, forçados a declarar falência. O capitalismo smart, como eu quis definir em meu último ensaio sobre escravos digitais, não teve escrúpulos em usar a pandemia para seu próprio ganho pessoal. Veja as máscaras, por exemplo. Em pouco tempo, na Itália eles passaram de um meio fútil contra o coronavirus para a moda de verão de 2020 ou “fashion” de marca a endossar com estilo. Moralidade, seriedade e ética foram perdidas nestes meses de pandemia e, acima de tudo, perdeu-se o respeito pelos mortos. Desde a selfie de Chiara Ferragni no Instagram com a máscara da Louis Vuitton, até a dupla da série “Me contro Te” que vende a máscara com seu logotipo por mais de 20 euros ou grátis se você comprar a camisa. A máscara em tal contexto torna-se o “fetiche” por excelência, no qual cada um tende a mostrar sua personalidade através dela.

Assim, andando pela rua vemos pessoas usando máscaras de todos os tipos e cores do arco-íris. Outras combinadas com roupas, estampas de leopardo, de girafa, todo tipo de excentricidade, etc… A pandemia tornou a perda da dignidade ainda mais evidente! É irônico pensar que no início da pandemia quase não se via as máscaras e agora, quando a pandemia se reduziu em gravidade, ela é vista em quase todos os lugares, mas o pior são os que as os produzem por conta própria para vendê-las a preços exorbitantes, para especular o máximo possível com o coronavírus, já que elas são de uso obrigatório. Após a pandemia certamente veremos todas jogadas no sótão. A máscara, portanto, torna-se um modo de ser para expressar também politicamente a própria personalidade. Tudo isso é absurdo se pensarmos bem, um objeto banalíssimo, que até pouco tempo era usado apenas por médicos e enfermeiras, agora se tornou central na vida dos italianos. Isto evidencia um materialismo e individualismo extremos no qual se dá mais importância a sair de casa com a máscara “fashion” combinada com o vestido do que ao cultivo de relações humanas autênticas.

Fonte: Il Pensiero Forte

Imagem padrão
Nova Resistência
Artigos: 596

Um comentário

  1. Desde o começo notei isso e sinto muito nojo. Meus pais compram umas 10 máscaras diferentes, com estampas idiotas. Isso é um equipamento de segurança sanitária, não a mais nova moda. Um gasto completamente inútil criado pelo capitalismo. Se a Coreia do Norte padronizasse as máscaras, todos diriam que eles são formigas submissas ao governo, que isso é desumano e fere a liberdade. Mas lá as máscaras seriam algo sério, tratadas como elas deveriam ser: Um equipamento sanitário para prevenção de um vírus.

    Artigo excelente, parabéns.

Deixar uma resposta