Escrito por Dilyana Gaytandzhieva
Continuando nossa série sobre as pesquisas do Pentágono no âmbito das armas biológicas, abordamos hoje os testes humanos com antraz na Geórgia, levando a um surto da doença no país, bem como os testes com tularemia e febre hemorrágica.
Mais importante e interessante para nós nesse momento, são as informações que esse dossiê contêm sobre as pesquisas com morcegos e com doenças e vírus supostamente transmissíveis por morcegos. O dossiê aborda, especialmente, o MERS e o SARS, dois tipos de coronavírus que causaram epidemias mortais nos últimos anos.
Esse dossiê estabelece como fato incontornável e irrevogável: o Pentágono tem estudado o potencial dos coronavírus como armas biológicas há anos.
Surto de Antraz na Geórgia e Testes em Humanos da OTAN
Em 2007, a Geórgia terminou a sua política de vacinação obrigatória anual de rebanho contra o antraz. Como resultado, a taxa de morbidade da doença atingiu seu auge em 2013. No mesmo ano, a OTAN iniciou os testes de vacina contra o antraz em humanos no Centro Lugar, na Geórgia.
Pesquisas do Pentágono sobre o Antraz Russo
O antraz é um dos agentes biológicos instrumentalizados pelo exército americano no passado. Apesar das alegações do Pentágono de que seu programa é apenas defensivo, há fatos em contrário. Em 2016, no Centro Lugar, cientistas americanos realizaram pesquisas sobre a “Sequência de Genoma do Bacillus anthracis Vaccine Strain 55-VNIIVViM”, que foi financiada pelo Programa de Engajamento Biológico Cooperativo da Agência de Redução de Ameaças à Defesa dos EUA (DTRA) em Tbilisi, e administrada pela Metabiota (a contratada dos EUA no âmbito do programa do Pentágono na Geórgia).
Em 2017 a DTRA financiou mais pesquisas – Dez Sequências de Genoma de Isolados Humanos e Bovinos do Bacillus anthracis da Geórgia, que foi realizada pela USAMRU-G no Centro Lugar.
34 pessoas intencionalmente infectadas com a febre hemorrágica da Crimeia-Congo (CCHF) na Geórgia
A febre hemorrágica da Crimeia-Congo (FCHF) é causada por uma infecção através de um vírus transmitido por carrapatos (Nairovirus). A doença foi caracterizada pela primeira vez na Crimeia em 1944 e recebeu o nome de febre hemorrágica da Crimeia. Posteriormente foi reconhecida em 1969 como a causa da doença no Congo, resultando assim no nome atual da doença. Em 2014, 34 pessoas foram infectadas (entre as quais uma criança de 4 anos) com CCHF. 3 das quais morreram. No mesmo ano, biólogos do Pentágono estudaram o vírus na Geórgia no âmbito do projecto DTRA “Epidemiologia das doenças febris causadas pelos vírus da dengue e outros arbovirus na Geórgia“. O projeto incluiu testes em pacientes com sintomas de febre e a coleta de carrapatos, como possíveis vetores do CCHV para análise laboratorial.
A causa do surto de CCHF na Geórgia ainda é desconhecida. De acordo com o relatório do Departamento Veterinário local, apenas um carrapato de todos os espécimes coletados nas aldeias infectadas deu positivo para a doença. Apesar das alegações das autoridades locais de que o vírus foi transmitido a humanos a partir de animais, todas as amostras de sangue de animais também foram negativas. A falta de carrapatos e animais infectados é inexplicável dado o aumento acentuado de casos humanos de CCHF em 2014, o que significa que o surto não foi natural e que o vírus se espalhou intencionalmente.
Em 2016 foram coletadas mais 21.590 carrapatos para banco de dados de DNA para futuros estudos no Centro Lugar sob o projeto do Pentágono “Avaliando a Soroprevalência e a Diversidade Genética do Vírus da Febre Hemorrágica da Crimeia-Congo (CCHFV) e dos Hantavírus na Geórgia”.
Laboratório Biológico Militar acusado de Surto Mortal de CCHFV no Afeganistão
237 casos de Febre Hemorrágica Crimeia-Congo (CCHF) também foram relatados em todo o Afeganistão, 41 dos quais foram fatais até dezembro de 2017. Segundo o Ministério da Saúde do Afeganistão, a maioria dos casos foi registrada na capital Cabul, onde foram comunicados 71 casos com 13 fatalidades, e na província de Herat, perto da fronteira com o Irã (67 casos).
O Afeganistão é um dos 25 países em todo o mundo com laboratórios biológicos do Pentágono no seu território. O projeto no Afeganistão faz parte do programa de biodefesa dos EUA – Programa de Engajamento Biológico Cooperativo (CBEP), que é financiado pela Agência de Redução de Ameaças da Defesa (DTRA). Os terceirizados da DTRA, que trabalham no Centro Lugar na Geórgia, CH2M Hill e Battelle, também foram contratados para o programa no Afeganistão. A CH2M Hill recebeu um contrato de 10,4 milhões de dólares (2013-2017). Os terceirizados do Pentágono no Afeganistão e na Geórgia são os mesmos, assim como as doenças que estão se espalhando entre a população local em ambos os países.
Porque o Pentágono coleta e estuda Morcegos
Os morcegos são supostamente os hospedeiros-reservatórios do vírus Ebola, da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) e de outras doenças mortais. No entanto, as formas precisas como estes vírus são transmitidos aos humanos são atualmente desconhecidas. Numerosos estudos têm sido realizados sob o Programa de Engajamento Biológico Cooperativo DTRA (CBEP) em busca de patógenos mortais de importância militar em morcegos.
Os morcegos têm sido responsabilizados pelo surto mortal de Ebola na África (2014-2016). Entretanto, nenhuma evidência conclusiva de como exatamente o vírus “pulou” para os humanos foi fornecida, o que levanta suspeitas de infecção intencional e não natural.
Projetar Vírus Mortais é Legal nos EUA
Pensa-se que a MERS-CoV se origina de morcegos e se espalha diretamente para os humanos e/ou camelos. No entanto, tal como o Ebola, as formas precisas de propagação do vírus são desconhecidas. Foram notificados 1.980 casos com 699 mortes em 15 países em todo o mundo (a partir de Junho de 2017) causadas pelo MERS-CoV.
O MERS-CoV é um dos vírus que foram desenvolvidos pelos EUA e estudados pelo Pentágono, assim como o Influenza e o SARS. A confirmação desta prática foi a proibição temporária ao financiamento governamental dessas pesquisas de “uso duplo” por Obama em 2014. A proibição foi levantada em 2017 e as experiências continuaram. As experiências de Patógenos Pandêmicos Potenciais Aprimorados (PPPs) são legais nos EUA. Tais experiências visam aumentar a transmissibilidade e/ou virulência de patógenos.
Tularemia como Arma Biológica
A tularemia, também conhecida como Febre do Coelho, é classificada como agente bioterrorista e foi desenvolvida no passado como tal pelos EUA. Entretanto, as pesquisas do Pentágono sobre a tularemia continuam, assim como sobre possíveis vetores das bactérias como carrapatos e roedores que causam a doença. O DTRA lançou uma série de projetos sobre a tularemia, juntamente com outros patógenos especialmente perigosos na Geórgia. Especialmente os Patógenos Perigosos (Dangerous Pathogens – EDPs), ou agentes selecionados, representam uma grande preocupação para a saúde pública global. Estes agentes altamente patogênicos têm potencial para serem militarizados, sendo sua importância militar provada através dos seguintes projetos do Pentágono: Epidemiologia e Ecologia da Tularemia na Geórgia (2013-2016) (foram coletados 60 mil vetores para isolados de cepas e pesquisa do genoma); Epidemiologia da Tularemia Humana na Geórgia e Epidemiologia Humana e Vigilância de Patógenos Especialmente Perigosos na Geórgia (estudo de agentes selecionados entre pacientes com febre indiferenciada e febre hemorrágica/choque séptico).
Fonte: Arms Watch
Esta é a terceira parte de uma série. Continue lendo aqui.