Com a aproximação das eleições no país, golpistas pró-Washington buscam dar um verniz de legalidade às suas práticas ilegais, anti-populares e anti-nacionais.
As próximas eleições presidenciais bolivianas foram agendadas para 3 de maio. O cenário no país continua perturbado, marcado pela agitação e pelas tensões criadas pelo golpe que levou à derrubada de Evo Morales. Por um lado, os candidatos da direita se levantam com entusiasmo, com a intenção de neutralizar qualquer possível ressurreição da esquerda. Por outro lado, Morales — embora com inegável apoio popular — parece não ter, hoje, força suficiente para enfrentar a direita.
Atualmente, a Bolívia está passando por uma das piores fases de sua história. Uma queda real, se levarmos em conta a situação de estabilidade econômica que o país viveu recentemente, com as políticas de natureza indigenista e socialista de Evo Morales. O golpe de Estado, realizado por grupos pró-Washington em 2019, é uma das atividades mais avançadas da agenda dos Estados Unidos na América Latina. O fracasso do golpe de Estado planejado na Venezuela não se repetiu na Bolívia, que caiu nas mãos de inimigos externos.
A ilegalidade da manobra política que derrubou Morales é inegável. A agressividade com a qual a oposição boliviana agiu deixa claras às claras as intenções e o modus operandi de grupos interessados em acabar com o governo socialista. Agora, porém, com as novas eleições, a direita tem a chance de mascarar o golpe com o verniz da legalidade, perpetuando assim um Estado zumbi boliviano, totalmente refém das ações de grupos descompromissados com os interesses nacionais.
A preferência popular por Morales é inegável e absolutamente perceptível. A maioria de 60% que declarou uma preferência pelo ex-presidente: isso deixa claro o verdadeiro interesse popular. Nunca antes a Bolívia, o país mais pobre da América do Sul, experimentou tanto crescimento econômico e tanta autonomia e liberdade para as comunidades tradicionais dos povos indígenas. Agora, no entanto, os autores do golpe pretendem retroceder todos os pontos em que Morales progrediu, subordinando a economia nacional ao mercado internacional e intensificando as políticas de repressão contra os povos nativos.
O MAS – Movimiento Al Socialismo, partido de Evo Morales, terá como candidato o ex-ministro da Economia, Luiz Arce. Por outro lado, são abundantes as opções reacionárias, incluindo Jeanina Añez, a autoproclamada presidente do país; Luis Fernando Camacho, o empresário que liderou os protestos contra Morales à frente do poderoso Comitê Cívico de Santa Cruz; além de Carlos Mesa, ex-presidente, que apresenta um comportamento mais moderado.
Especula-se que Añez e Camacho se unam em um possível segundo turno nas eleições, prejudicando tanto a esquerda popular do MAS quanto o reacionarismo moderado de Mesa. No entanto, não é apenas a vontade popular que deve ser usada para analisar esse caso.
De fato, a América do Sul está passando por um período terrível em termos políticos, econômicos e geopolíticos. Com exceção da Venezuela, que sobrevive sob uma grave crise econômica, todos os outros países estão sob governos fortemente comprometidos com a agenda de Washington. Isso significa que o apoio direto à eleição de um candidato socialista será mínimo e, em troca, a pressão pela vitória do golpe será exagerada e cruel, com ênfase no papel desempenhado pelo Brasil, atualmente governado por um neoliberal que, por várias vezes, já deixou claras as suas intenções de usar todo o poder regional do Brasil para garantir o pleno funcionamento dos interesses dos EUA no continente — tendo, inclusive, em diversas ocasiões, ameaçado a intervir militarmente em países vizinhos, como a Venezuela.
Além disso, a situação legal da Bolívia é catastrófica. O país sofreu recentemente um golpe de Estado e se vê refém das articulações e confrontos de diferentes grupos. Isso significa que é possível e provável que haja fraude e sabotagem nas eleições se as expectativas dos autores do golpe não forem atendidas nas urnas. De qualquer forma, os golpistas farão o possível para vencer, porque sabem que a vitória lhes garantirá uma máscara de legalidade e seu reconhecimento internacional, pois, para o Ocidente, a única coisa que importa são as aparências democráticas.