Leandro Hassan Bracamonte – Os Curdos

Quando falamos desses assuntos, a questão é muitas vezes difícil, porque a partir do nosso espaço cultural e linguístico passam batido muitos detalhes que são fundamentais quando se trata de entender os conflitos, a história e a realidade da região.

Durante esses dias, tem havido muita conversa sobre “os curdos” como algo geral simplificado e monolítico, mas a verdade é que não é assim. Os curdos são um povo dividido em quatro Estados (Irã, Iraque, Síria e Turquia, embora também haja curdos na Armênia), a língua curda não é unificada, existindo diversos dialetos (ou melhor, línguas curdas), o zazaki , o kurmanji, o surani e o pahlawani. Os curdos são um povo de origem indo-europeia e são reivindicados como herdeiros dos antigos medos. O nome “curdo” refere-se ao sol/fogo e a sua identidade indo-europeia. Pode-se imaginar que, em meio a todo esse povo, não existe uma ideologia orientadora e, tal como existem várias línguas, existem várias religiões, entre os curdos você pode encontrar muçulmanos sunitas, muçulmanos xiitas, cristãos, yezidis e etc.

Acontece que, nos últimos tempos, geralmente ouvimos falar em “mulheres curdas” ou em “os grupos curdos”, quando o certo é que devemos ser precisos e falar em PKK, YPG, Peshmerga ou etc., porque a verdade é que o que esses grupos estão procurando é se apropriar da representação absoluta de uma coletividade a partir da linguagem, da mesma maneira que o ISIS fala em “muçulmanos” ou as feministas falam em “mulheres”, quando sabemos que a ostentação da representação é totalmente falsa, o mesmo acontece com os curdos e os grupos acima mencionados.

Também podemos acrescentar que os curdos têm fronteiras étnicas com os persas e outros povos iranianos no Irã, que são muito próximos deles tal como espanhóis e portugueses, mas também com os árabes da Síria e do Iraque (embora muitos aqui não sejam árabes, mas arabizados) e com os turcos que são originários da Ásia Central. Acontece que quando os Estados nacionais foram formados, os curdos e sua cultura foram muito reprimidos, também suas línguas e costumes, o que alimentou o sentimento separatista, embora no Irã por causa de seu parentesco étnico sempre houvesse mais proximidade e tolerância.

Na territorialidade alcançada pelos grupos guerrilheiros no último conflito na Síria e no Iraque, um projeto político e cultural foi estabelecido através do PKK que incluía uma visão própria do marxismo, da democracia, do anarquismo, do feminismo, do ambientalismo, do identitarismo e do ateísmo (daí sua propaganda anti-islâmica e sua opressão especial contra os cristãos caldeus e assírios), ou seja, foi criado um laboratório onde a desconstrução foi aplicada ao extremo (isto é, a política cultural do globalismo e das potências hegemônicas da UE, onde se nota claramente a mão francesa, inglesa e alemã). Independentemente da posição que se queira assumir em relação ao recente conflito com a Turquia, a retirada de tropas dos EUA e etc., torna-se necessário entender tudo isso e levar em conta que desde o reino dos medos, os curdos não têm um Estado independente, sempre viveram em outros Estados desde a Antiguidade. De fato, pode-se descobrir que na retórica independentista curda eles até chegam a falar mal do Irã e a considera-lo um invasor por conta de Ciro, ou seja, em sua retórica, eles têm que retornar milhares de anos antes.

Por favor, saibam como distinguir entre curdos e “curdos”.

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Nova Resistência
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